Karine, 49 anos, perdeu a fala após complicações de uma entubação em 1996. Ela recebeu um transplante de laringe em setembro deste ano e já consegue falar algumas palavras.
Após mais de 20 anos sem falar, uma mulher de 49 anos recuperou sua voz graças a um transplante de laringe realizado na França. Karine, que não teve a identidade revelada, perdeu a fala em 1996, após complicações de uma entubação feita após uma parada cardíaca.
A mulher desenvolveu estenose de laringe, um estreitamento da garganta que dificulta a passagem de ar para os pulmões. Ela passou a respirar por traqueostomia, um procedimento que realiza uma abertura frontal na traqueia para permitir a passagem do ar.
O transplante de laringe de Karine foi realizado no início de setembro deste ano e, poucos dias depois, ela já era capaz de falar algumas palavras, mas ainda com a voz fraca. Ela está fazendo sessões de fonoaudiologia para reabilitação das cordas vocais, deglutição e respiração.
Ela está fazendo tratamento com imunossupressores para evitar a rejeição do órgão, mas está em casa desde o final de outubro.
A equipe médica de Lyon, onde foi realizado o transplante, apresentou os resultados da operação na última segunda-feira (21/11). Karine não compareceu à coletiva de imprensa, mas explicou por escrito que se voluntariou para o transplante há dez anos na esperança de "voltar a ter uma vida normal".
Ela conta que suas filhas nunca haviam escutado sua voz, mas que está sendo "corajosa e paciente" para lidar com a dor e o trabalho de reaprender a articular as palavras.
O transplante de laringe é uma cirurgia complexa e rara, pois o órgão é estruturado por nervos muito pequenos e vascularizado por artérias e veias minúsculas que se cruzam. Outra razão é que problemas na laringe, embora incapacitantes para o paciente, não representam risco de vida.
O professor Philippe Céruse, chefe do departamento de otorrinolaringologia e cirurgia cérvico-facial do hospital da Cruz Vermelha de Lyon, foi o responsável por coordenar o procedimento. Ele vem estudando transplantes de laringe há muitos anos e é um dos especialistas mais renomados do mundo na área.
Karine foi identificada em 2019, mas a pandemia de Covid-19 impediu a cirurgia. Em 2022, a equipe médica francesa retomou suas atividades em busca de um doador compatível. O desafio era encontrar um voluntário com características anatômicas perfeitamente alinhadas com as do receptor, o que inclui sexo, peso, altura e grupo sanguíneo.
A francesa se encaixava perfeitamente e, em 1º de setembro, a equipe de 12 cirurgiões e cerca de 50 funcionários do Hospital Universitário de Lyon deu início à operação. O processo durou 27 horas, cerca de dez horas para a remoção da laringe de Karine e 17 horas para o transplante.
Embora os resultados finais precisem de um ano para serem confirmados, Céruse está otimista e sugere a possibilidade de mais transplantes semelhantes em Lyon.
O primeiro transplante de laringe do mundo foi realizado em 1998 em Cleveland, nos Estados Unidos. O paciente era um homem que havia perdido as cordas vocais em um acidente de moto. Os outros dois foram registrados na Califórnia, em 2010, e na Polônia, em 2015.
Gazeta Brasil