A constatação faz parte de um estudo produzido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para SaĂșde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa foi publicada na revista cientĂfica International Journal of Infectious Disease, editada pela Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, uma organização sem fins lucrativos sediada em Boston, nos Estados Unidos.
A conclusão principal do levantamento é que as crianças vĂtimas do Zika apresentaram taxas de hospitalização entre trĂȘs e sete vezes maiores que as de crianças sem a sĂndrome. Além de precisarem ir mais a hospitais, os pacientes com microcefalia ficam internados "por perĂodos extensivamente mais longos".
Os pesquisadores brasileiros coletaram informações de 2 mil casos de crianças com sĂndrome congĂȘnita do zika (SCZ), a doença que compromete o tamanho da cabeça e a formação dos neurônios (células do sistema nervoso). Os dados foram comparados com os de 2,6 milhões de crianças sem a sĂndrome.
Foram analisados Ăndices de admissões em hospitais, os principais motivos e tempo de internação durante os primeiros quatro anos de vida das crianças.
Outra conclusão é que, enquanto as crianças sem a sĂndrome diminuĂram as taxas de hospitalização de forma progressiva ao longo do tempo, as que possuem SCZ mantiveram altas taxas durante todo o perĂodo avaliado.
Doenças combinadas
De acordo com o médico lĂder do estudo, João Guilherme Tedde, as crianças com microcefalia correm risco de doenças combinadas. "Além das condições tĂpicas da idade, como infecções e doenças respiratórias, essas crianças apresentam complicações diretamente relacionadas à SCZ." Isso leva à conclusão, segundo a Fiocruz, de que cada condição pode atuar como um fator de risco para a outra, em uma espécie de cĂrculo vicioso.
O trabalho é um dos primeiros a avaliar os riscos de hospitalização em pacientes com SCZ ao longo da primeira infância.
No artigo, os pesquisadores contextualizam que a minoria das crianças que nasceram com a sĂndrome sobreviveu ao primeiro ano de vida. O estudo estima que o Brasil teve cerca de 20 mil casos suspeitos da doença.
Crianças com microcefalia podem apresentar atrasos no desenvolvimento, deficiĂȘncia intelectual, problemas motores e de equilĂbrio, convulsões, dificuldade de se alimentar, perda auditiva e problemas de visão.
O pĂșblico mais atingido pela epidemia de 2015 era formado por famĂlias pobres que moravam em ĂĄreas mais quentes e com alta circulação de mosquitos. A principal forma de transmissão do Zika é pela picada do mosquito Aedes aegypti, mesmo hospedeiro do vĂrus causador da dengue e da chikungunya.
Ao destacar que a maior parte das vĂtimas do vĂrus Zika é de famĂlias de baixa renda, notadamente do Nordeste, dependentes do Sistema Ănico de SaĂșde (SUS) e de programas de transferĂȘncia de renda condicionada, os pesquisadores apontam a necessidade da elaboração de planos de cuidado estruturados, "com foco no manejo ambulatorial das crianças com SCZ".
A Fiocruz sinaliza que um outro estudo preliminar da mesma equipe revela que crianças com a sĂndrome tĂȘm risco de morte 30 vezes maior para doenças do sistema respiratório, 28 vezes maior para doenças infecciosas e 57 vezes maior para doenças do sistema nervoso.
Prevenção
Os autores sinalizam para a "urgĂȘncia do desenvolvimento de uma vacina que ofereça imunidade duradoura contra o vĂrus Zika.
Instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Butantan desenvolvem estudos para uma vacina. Este mĂȘs, o Ministério da SaĂșde intensificou ações de combate a arboviroses (doenças virais transmitidas principalmente por artrópodes, como mosquitos), entre elas, a zika.
Também participaram do trabalho cientĂfico da Fiocruz especialistas do Instituto de SaĂșde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM).
AgĂȘncia Brasil