BRASÍLIA – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes convocou o tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para depor no prédio da Suprema Corte. A audiência foi marcada para às 14h desta quinta-feira (21). O despacho foi assinado por Moraes na noite de terça-feira (19).
Moraes viu "contradições existentes entre os depoimentos do colaborador e as investigações realizadas pela Polícia Federal". Cid foi preso e fechou acordo de delação premiada em 2023. O acordo previa conceder informações às autoridades que investigam irregularidades no governo Bolsonaro que podem implicar o ex-presidente, assim como seu entorno.
Os investigadores, porém, viram falhas no cumprimento do acordo de delação depois que identificaram que Cid apagou arquivos do computador que entregou à Polícia Federal (PF). O militar também não teria contado, durante as investigações, sobre o plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu vice Geraldo Alckmin (PSB) e Moraes.
Cid prestou depoimento à PF na terça-feira e negou saber da existência do plano contra as autoridades. Relatórios da investigação, porém, revelaram sua participação nas discussões com os militares. Documentos sobre o plano também foram encontrados com a apreensão de aparelhos eletrônicos dele, como celulares e notebooks.
Depois do depoimento, a PF enviou a Moraes um relatório em que aponta omissões de Cid no acordo de delação premiada. O ministro enviou o caso para a Procuradoria-Geral da República (PGR), que deve se manifestar. Caso o acordo seja anulado, as provas e depoimentos do militar continuam válidos, mas ele perde os benefícios obtidos pelo acordo.
Entenda
A PF deflagrou na terça-feira a operação de Contragolpe. Agentes descobriram o planejamento de um golpe de Estado e plano de assassinato de autoridades.
Foram presos de forma preventiva quatro militares do Exército com formação em Forças Especiais. Conhecidos como "kids pretos", eles são treinados para operações sigilosas e que exigem alto desempenho.
Foram presos preventivamente os seguintes integrantes dos "kids pretos":
- Mário Fernandes
General reformado, foi assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) e ministro interino da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro. Após deixar o governo, assumiu, entre 2023 e o início de 2024, um cargo na liderança do PL na Câmara dos Deputados, lotado como assessor de Pazuello, com um salário de R$ 15,6 mil.
Foi desligado da função em 4 de março deste ano, após o ministro Alexandre de Moraes determinar seu afastamento das funções públicas. Quando foi chamado a depor pela PF em 22 de fevereiro de 2024, Mário Fernandes, contudo, optou por ficar em silêncio, alegando não ter tido acesso ao inteiro teor dos conteúdos da investigação e, em especial, à delação do tenente-coronel Mauro Cid.
- Hélio Ferreira Lima
Ex-comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais em Manaus, foi destituído de sua posição em fevereiro de 2024, durante investigações sobre planos antidemocráticos. Quando convocado a depor à PF sobre sua suposta ligação com o golpe de Estado, optou por permanecer em silêncio. Com formação em Operações Especiais, integra o grupo de elite do Exército conhecido como "kids pretos".
- Rafael Martins de Oliveira
Major das Forças Especiais, é acusado de negociar com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o financiamento de R$ 100 mil para levar manifestantes a Brasília, como parte de um suposto plano de golpe de Estado. Em mensagens de novembro de 2022, ele discutiu custos de logística com Cid, incluindo hospedagem e alimentação para grupos vindos do Rio de Janeiro.
Rafael foi preso pela PF em fevereiro de 2024 durante investigações sobre sua participação na organização de movimentos antidemocráticos. Ele havia sido solto e usava tornozeleira eletrônica.
- Rodrigo Bezerra de Azevedo
Considerado um militar altamente qualificado, é doutorando em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) e tem especialização em operações de guerra não convencional. Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 2003, serviu como instrutor no Western Hemisphere Institute for Security Cooperation, nos EUA.
O militar participou de missões no exterior, como na Costa do Marfim. Comandou a Companhia de Comando do Comando Militar da Amazônia e tem expertise acadêmica em terrorismo e relações internacionais. Ele também integra o grupo "kids pretos".
O quinto alvo da operação é o policial federal Wladimir Matos Soares. "As investigações apontam que a organização criminosa se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022. Os investigados são, em sua maioria, militares com formação em Forças Especiais (FE)", disse a PF.
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