A Procuradoria-Geral da República (PGR) é contra a devolução do celular
do perito Eduardo Tagliaferro, ex-chefe do setor de desinformação do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), apreendido por ordem do ministro Alexandre de Moraes,
do Supremo Tribunal Federal (STF), no inquérito das mensagens vazadas.
Para o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o celular "permanece
objeto de interesse à investigação, sendo impedida, assim, a sua devolução".
Cabe agora a Moraes decidir se mantém o aparelho sob custódia da Polícia
Federal para perícia.
A defesa entrou com recurso no STF para tentar anular a apreensão do
celular, o que na prática impediria o uso de provas eventualmente encontradas
no telefone.
O celular foi apreendido durante o depoimento do perito à Polícia
Federal em São Paulo, no mês passado. O delegado que conduziu a oitiva
consultou o advogado Eduardo Kuntz, que representa Tagliaferro e acompanhou a
audiência, se ele entregaria espontaneamente o aparelho. Diante da recusa da
defesa, e já munido do mandado de busca pessoal, o delegado confiscou o
telefone.
Em sua decisão, Alexandre de Moraes justificou que a perícia no aparelho
é imprescindível para o inquérito das mensagens vazadas.
– Não há outra diligência adequada à completa elucidação dos fatos –
argumentou.
A defesa alega que a decisão foi arbitrária, porque o perito foi ouvido
como testemunha, e pede a devolução imediata do telefone.
Um primeiro recurso foi negado pelo ministro, que classificou o pedido
como "confuso, sem fundamentação e absolutamente impertinente". Diante do novo
pedido da defesa, Moraes consultou a PGR.
O aparelho apreendido pela PF não é o mesmo que esteve na posse da
Polícia Civil de São Paulo em maio de 2023, quando Tagliaferro foi preso em
flagrante em uma ocorrência de violência doméstica. Há suspeita de que as
conversas envolvendo auxiliares de Moraes tenham sido extraídas do antigo
celular do perito. Não se sabe, no entanto, se foi ele próprio quem levou os
diálogos a público ou se as mensagens foram divulgadas por terceiros que,
eventualmente, tiveram acesso ao aparelho.
Tagliaferro nega veementemente ter divulgado as mensagens e afirmou não
ter "relação alguma" com o vazamento.
Em sua manifestação, o procurador-geral também informou que não vê
irregularidade na reautuação da investigação sobre o vazamento. Para Gonet, a
mudança na classe processual "não altera a natureza investigativa do feito" e
"não implica o arquivamento".
O inquérito foi convertido em petição por Alexandre de Moraes. A defesa
de Eduardo Tagliaferro considera que essa foi uma estratégia do ministro para
manter a investigação no gabinete dele, minimizando as chances de
redistribuição do caso para algum colega relatar.
A investigação sobre a divulgação dos diálogos foi aberta de ofício por
Moraes e associada ao inquérito das fake news, que investiga ataques, ofensas e
ameaças aos ministros. Ele justificou que o "vazamento deliberado de
informações" pode estar associado a uma "atuação estruturada de uma possível
organização criminosa que tem por um de seus fins desestabilizar as
instituições republicanas".
Fonte: *AE