Conhecido de longa data por
consumidores e lojistas, o crediário ganhou uma nova roupagem, se expandindo
para os cartões de crédito. A principal diferença entre crediário no cartão e a
compra parcelada é a quantidade de parcelas possíveis. Essa se tornou uma opção
atrativa para quem deseja adquirir um produto de maior valor agregado, mas é
preciso ter planejamento.
Enquanto as compras no cartão
costumam ser parceladas em até 12 vezes, na modalidade de crediário no crédito
via maquininhas as compras podem ser divididas em até 48 vezes, como uma
espécie de financiamento. Os principais bancos do país já oferecem o crediário
no crédito para compras em lojas físicas desde 2019. A novidade, ainda em
implementação, é a expansão do parcelamento para as compras no e-commerce.
Segundo o coordenador do Fórum de
Emissores da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e
Serviços (Abecs), Rogério Panca, a modalidade está em fase de testes e deve ser
lançada em breve. Não será necessário emitir um novo cartão para usar o
crediário. Quem financia a compra é o próprio emissor, no caso, o banco. "O
emissor do cartão deve apresentar ao cliente até três opções de parcelamento,
bem como os custos envolvidos na operação. Essas informações são definidas de
acordo com a estratégia comercial de cada empresa, além do perfil de risco e
relacionamento do cliente", explica.
As parcelas do crediário são
lançadas nas próximas faturas, conforme a opção contratada. A concessão dessa
modalidade está atrelada ao limite de crédito do cartão, que é restabelecido à
medida que as prestações do crediário são quitadas.
Para as empresas, o crediário no
cartão de crédito é visto como positivo, já que os lojistas recebem o valor
total da compra em até cinco dias úteis e a ação é feita diretamente entre o
banco emissor do cartão e o consumidor, reduzindo riscos. Já para os
consumidores, é uma opção para pagar em mais vezes, com parcelas mais baratas e
fixas, sem cobrança adicional de tarifas.
"Embora seja uma compra
parcelada, com o crediário a loja recebe o valor da venda de forma antecipada,
em até cinco dias. Essa alternativa reduz custos e amplia a competitividade do
varejista, especialmente do pequeno estabelecimento comercial, que geralmente
não conta com capital de giro para financiar suas vendas", diz Panca, que
afirma que os consumidores ainda podem ser beneficiados com descontos, já que o
lojista recebe o valor à vista.
De acordo com o balanço da Abecs,
do 1º trimestre deste ano, o uso dos meios eletrônicos de pagamento pela
internet e outros canais remotos, como aplicativos e carteiras digitais,
movimentou R$ 225,3 bilhões, com crescimento de 18,4% no período.
Juros mais baixos
A modalidade de crediário no crédito ainda é pouco utilizada no Brasil, seja
pelo pouco tempo no mercado, seja pela falta de estímulo. Para o diretor
jurídico da Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag),
Gabriel Cohen, o uso de diferentes soluções para o financiamento do consumo é
benéfico para todos os atores do comércio.
Enquanto os juros do parcelamento
no cartão de crédito podem variar em uma faixa em torno de 100% a 120% ao ano,
no crediário, esses juros costumam ficar entre 30% e 40% anuais. Segundo
Rodrigues, os consumidores ainda podem ser beneficiados com descontos, já que o
lojista recebe o valor à vista. "É uma modalidade muito boa, é positiva para o comércio
e para o consumidor, mas que não foi disseminada ainda como deveria", afirma.
No momento da compra, o
consumidor tem acesso a uma simulação que conta com o valor da taxa de juros,
do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e do Custo Efetivo Total (CET).
Apesar de atrativo, é necessário ficar atento a possíveis descuidos no
planejamento das parcelas com o rendimento mensal, como explica o diretor
administrativo do Icasb e especialista em planejamento financeiro, Francisco
Rodrigues. "Não basta só os juros serem baixos. Eu tenho que ter o hábito de
fazer um planejamento financeiro. Outra, eu tenho que saber se essa tomada de
decisão vai trazer um descontrole financeiro para mim", avalia.
Além disso, também é preciso
ficar atento ao custo efetivo total da operação. "Eu tenho que analisar o
cenário de médio e longo prazo. Então muitas pessoas que se aproveitam dessas
modalidades de crédito analisando só os primeiros meses, começam a entrar no
descontrole financeiro no terceiro ou quarto mês", complementa Rodrigues.
Inadimplência
A Serasa Experian alerta que a contratação do crédito é uma decisão que sempre
precisa ser feita com cautela, após analisar a situação financeira, compreender
a necessidade e saber se as parcelas do crédito cabem no orçamento ou não.
Apesar de oferecer parcelas mais baratas, se o consumidor não conseguir cumprir
com a fatura, ele corre o risco de cair no crédito rotativo, que são os juros
aplicados para quem paga o valor mínimo.
"O crediário no cartão de
crédito, por sua facilidade de contratação, pode muitas vezes não ser a melhor
alternativa de crédito para o consumidor. É preciso compreender muito bem o
custo total daquele crédito antes da contratação", destaca o birô de crédito,
que chama atenção para os dados de inadimplência.
De acordo com o último balanço,
divulgado em junho, 72,50 milhões de brasileiros estão em situação de
inadimplência no país. Especialistas avaliam que o estímulo ao crediário é uma
resposta ao limite dos juros da dívida do rotativo ao teto de 100%,
implementada em janeiro pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). "Nesse cenário
de juros altos e possível aumento, o custo do crédito vai ficar maior para o
consumidor. Cheque especial e cartão de crédito podem virar uma bola de neve,
aumentando ainda mais o número de pessoas endividadas, que é de 87%,
principalmente no cartão de crédito", salienta Rodrigues.
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