Um dia depois de o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal
(STF), exigir transparência e fiscalização no repasse das chamadas "emendas
Pix", a Câmara reagiu e anunciou que recorrer da decisão do magistrado.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e a consultoria jurídica da
Casa analisavam qual forma de recurso será apresentada. A "emenda Pix" é o tipo
de verba distribuída diretamente por parlamentares às prefeituras e governos
estaduais sem necessidade de prestação de contas, projetos, convênios e
justificativa. E permite ao chefe do Executivo gastar essa verba de acordo com
sua vontade.
"A assessoria jurídica da Câmara dos Deputados está analisando
tecnicamente a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino para
recorrer ao pleno da Corte Suprema do país", informou oficialmente a assessoria
da Casa.
Dino decidiu ainda que o governo federal só libere os recursos dessas
emendas após cumpridas exigências como apresentação do plano de trabalho; o
objeto a ser executado, se uma obra ou alguma reforma; a finalidade e o prazo
de execução.
Na decisão, o ministro determinou que o Tribunal de Contas da União
(TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) fiscalizem as transferências das
emendas Pix. O magistrado fixou um prazo de 90 dias para a CGU auditar os
repasses em benefício de ONGs, feitos de 2020 a 2024, e para que as
instituições e demais entidades do terceiro setor informem na internet os
valores recebidos no mesmo período, bem como em que foram aplicados.
Segundo o ministro, os repasses devem seguir, essencialmente, o princípio da transparência e da rastreabilidade. Esse tipo de recurso só será liberado após os parlamentares inserirem na plataforma Transferegov.br informações que garantam transparência.
Prevenção
Pela decisão, fica determinado que o parlamentar — deputado ou senador —
só pode enviar emendas dessa categoria para o estado pelo qual foi eleito. O
ministro afirmou que a intervenção do STF se justifica para "impedir a
continuidade de caminhos incompatíveis com a Constituição".
"Isso visa, inclusive, prevenir que posteriormente haja a promoção de
responsabilidade penal e civil de agentes públicos — em decorrência de
inconstitucionalidades perpetradas", destacou o magistrado.
O plenário virtual do STF vai analisar, entre 16 e 23 de agosto, a
decisão de Dino. A expectativa é de que a ordem do magistrado seja acatada por
unanimidade pela Corte.
O orçamento secreto, outra prática de repasse de emenda sem qualquer
fiscalização, foi suspenso pelo STF em 2022. Mas para a Transparência Brasil, o
surgimento das "emendas Pix" substituíram essa forma nada às claras de
distribuição de verba pública para os redutos eleitorais dos parlamentares.
Na avaliação da entidade, o Congresso e o Executivo continuaram a
repassar parcelas significativas do Orçamento da União "sem transparência,
longe dos olhos da sociedade e dos órgãos de controle".
A decisão de Dino atende a ação ajuizada pela Associação Brasileira de
Jornalismo Investigativo (Abraji). Na petição encaminhada ao Supremo, a
entidade aponta que os repasses não podem ser realizados sem vinculação a
projeto ou atividade específica.
Correio Braziliense