A cúpula da Caixa Econômica Federal
destituiu, na última segunda-feira, 8, dois gerentes que se opuseram à compra
de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master. As informações são do
blog de Malu Gaspar, do jornal O Globo.
Em um parecer sigiloso obtido pela
equipe da colunista, a área de renda fixa da Caixa Asset, o braço de gestão de
ativos do banco estatal, desaconselhou a operação, considerada "atípica" e
"arriscada", não apenas em virtude do valor, considerado alto demais, como por
causa do rating [nota de crédito] do banco.
O Banco Master, formado a partir do
antigo Banco Máxima, tem como principais acionistas Douglas Vorcaro, Maurício
Quadrado e Augusto Ferreira Lima.
O parecer da Caixa descreveu o modelo
de negócios do Master como "de difícil compreensão" e apontou um "alto risco de
solvência", motivo pelo qual a operação foi retirada da pauta do comitê de
investimentos da Caixa Asset.
Quatro dias depois, os gerentes Daniel
Cunha Gracio e Maurício Vendruscolo, responsáveis pelo parecer, deixaram os
cargos. Fontes do blog afirmaram que a destituição dos diretores foi comunicada
em videoconferência na qual participou o CEO da Caixa Asset, Pablo Sarmento.
A medida foi interpretada como uma
tentativa de eliminar resistências internas ao negócio, já que o comitê de
investimentos, a quem cabe dar aval a esse tipo de operação, deverá ser
recomposto com os novos gerentes dessas áreas. A hipótese provocou uma crise
interna no banco, que repercutiu entre operadores do mercado financeiro.
Embora a compra dos títulos tenha sido
suspensa, fontes revelam que a operação pode ser retomada em futuras reuniões
do comitê de investimentos. A área técnica da Caixa Asset expressou
preocupação, pois não há precedentes de uma operação desse volume e risco na
história da companhia.
As letras financeiras emitidas pelo
Banco Master que a Caixa considerava comprar previam uma rentabilidade de 130%
do CDI ao ano no prazo de dez anos.
Mas, no documento sigiloso encaminhado
ao comitê de investimentos, os gerentes observaram que a Caixa Asset nunca
aplicou um volume sequer próximo de R$ 500 milhões durante um prazo tão longo
em instituições de perfil arriscado como o Master, que tem um rating interno de
BB+, considerado de médio risco.
No geral, esse tipo de aporte só é
feito em instituições renomadas no mercado, como os principais bancos públicos
e privados.
Além disso, o parecer ressalta que
nenhuma das concorrentes do braço de gestão de fundos da Caixa fez negócio com
o Banco Master, o que reforça a tese de uma operação atípica. Nos últimos anos,
o Master comprou outros bancos menores, razão pela qual seu patrimônio líquido
vem aumentando.
Segundo o parecer da Caixa acessado
pelo jornal O Globo, o Master tem R$ 820 milhões em ativos distribuídos no
mercado financeiro. Porém, desse total, cerca de R$ 780 milhões foram aplicados
por gestoras ligadas ao próprio Master. Isso significa que apenas R$ 40 milhões
foram comprados pelo mercado.
Com isso, se a Caixa Asset comprasse as
letras financeiras no valor proposto pelo Master, investiria no banco quase 13
vezes o valor que outros agentes do setor aplicaram na instituição somados.
Caixa e Banco Master se pronunciam
Em nota enviada ao blog de Malu Gaspar, a Caixa Asset não esclareceu se
pretende manter a operação de compra de R$ 500 milhões em letra financeira do
Banco Master, apesar do parecer contrário da área técnica.
Também não informou de quem foi a
iniciativa de fazer a operação, nem se houve reuniões com o Master para
discutir a aquisição milionária.
A companhia se limitou a informar que
"as operações em negociação são sigilosas e ocorrem de acordo com a estratégia
da empresa".
O Banco Master, por sua vez, afirmou
por meio de sua assessoria desconhecer o parecer da Caixa Asset, que não é
público.
Questionada pela reportagem se outras instituições adquiriram a mesma
letra financeira em condições iguais ou similares às da Caixa, a instituição
afirmou que "diversos investidores têm adquirido e continuam a adquirir letras
financeiras emitidas pela instituição em condições similares às mencionadas",
sem especificá-
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