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Os sistemas de inteligência
artificial não possuem a essência da vida. Essas ferramentas criadas pelo homem
apenas imitam o conceito de vida e morte, o que serve como ponto de partida
para "Atlas". A narrativa gira em torno de uma cientista profundamente
envolvida em experimentos robóticos e projetos destinados a descobrir formas de
vida e ambientes favoráveis à colonização extraterrestre. Embora o filme de
Brad Peyton remeta a temas cinematográficos já conhecidos nas últimas quatro
décadas, ele consegue estabelecer uma identidade própria.
Peyton se inspira em "O
Exterminador do Futuro" (1984), um clássico distópico onde um organismo
cibernético viaja no tempo para eliminar um possível salvador da humanidade.
Esse cenário serve de base para a história de Smith e Harlan, dois cérebros
eletrônicos com funções opostas, e a heroína que dá nome ao filme.
Jennifer Lopez interpreta
uma pesquisadora dividida entre a sua busca implacável por um grande projeto de
carreira e a constatação de que se tornou prisioneira do próprio monstro que
ajudou a criar. Os roteiristas Aron Eli Coleite e Leo Sardarian reforçam a
alusão ao trabalho de James Cameron, conterrâneo de Peyton, ao mostrar máquinas
que, moldadas por concepções humanas, adotam posturas éticas ou abomináveis
conforme a conveniência, talvez o aprendizado mais próximo do orgânico que
possam absorver.
Como era de se esperar, a
inteligência artificial se torna uma ameaça para a humanidade e, seguindo as
tendências atuais, não demorará para que aparelhos, softwares e robôs, antes
competidores silenciosos, se transformem em adversários desleais e
inatingíveis, com planos sombrios de subjugação de seus criadores e uma
crueldade humana, emulando os mais de 140 mil anos de violência da nossa
espécie, alimentada pela ambição desmedida, fome de poder e ódio.
No mundo cada vez mais
imediatista dos dispositivos móveis que inventamos para gerenciar nossas
responsabilidades, 28 anos podem representar a diferença entre a Era Mesozoica
e os carros voadores que nunca saíram do papel ou da mente dos sonhadores da
geração Y — ou xennials, a zona cinzenta entre a geração X e os disputados
millennials, dependendo da fonte —, que não imaginavam como seria viver em um
mundo hiperconectado.
Coleite e Sardarian usam um
vilão humano para que o público não se surpreenda com o que vem a seguir. Casca
Decius, o gângster interplanetário interpretado por Abraham Popoola, é quem
inflama a sede de poder de Harlan, com Simu Liu se mostrando bastante
convincente no papel de uma criatura diabólica — embora só tenha essa noção
pela perspectiva dos homo sapiens sapiens — empenhada em destruir a vida como a
conhecemos. O diretor enfatiza a verdadeira guerra declarada por essa estranha
forma de vida, os tecno sapiens, ao mesmo tempo que desenvolve a amizade
crescente entre Atlas Shepherd e Smith, assim chamado em homenagem a "Matrix"
(1999-2021), a franquia das irmãs Wachowski.
Assim como em "A Mãe"
(2023), outra distopia dirigida por Niki Caro, Lopez interpreta alguém que
renuncia a prazeres banais, como preparar o café da manhã, em nome de sua
obsessão por dominar o universo, e acaba pagando o preço. Em "Atlas", Smith,
dublado por Gregory James Cohan, é o robozinho amigável, um esforço inútil para
se contrapor a tramas maduras como "Ex_Machina — Instinto Artificial" (2015),
de Alex Garland, que destacam os grandes perigos por trás dessas facilidades
que o homem cria para saciar necessidades menos óbvias.
Filme: Atlas
Direção: Brad Peyton
Ano: 2024
Gêneros: Ficção científica/Drama/Ação
Nota: 7/10
Créditos: Revista Bula.