O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), encerrou a janela partidĂĄria
fazendo acenos a conservadores ao mesmo tempo que resiste à pressão do PT em
ceder a vice na chapa da eleição de outubro, quando tentarĂĄ a reeleição.
Paes mantém como principal meta atrair
União Brasil, PP e MDB, cujos comandantes estão vinculadas ao bolsonarismo no
Rio de Janeiro. Ele conta também com líderes evangélicos para ampliar a
aliança.
O objetivo do prefeito é ter acordo com
essas siglas e dificultar a tentativa de nacionalização da campanha por parte
do deputado Alexandre Ramagem (PL), indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro
para a disputa. A leitura é a de que, com uma coligação alargada, o prefeito
poderĂĄ se apresentar não apenas como um aliado do presidente Lula, mas também
de uma frente mais ampla voltada para a cidade.
Até o momento, o único aliado de Paes
do campo à direita é o Republicanos, cujo presidente regional é o prefeito de
Belford Roxo, Waguinho Carneiro, forte aliado de Lula. Além dele, o prefeito
fechou o apoio de siglas da centro-esquerda, como PT, PSB, PDT e outras
menores.
A grande dificuldade de Paes nesse
movimento é sua resistĂȘncia em negociar a vice de sua chapa. O posto é
concorrido porque ele é visto como potencial candidato ao governo estadual em
2026, quando teria de deixar o cargo, transformando o companheiro de chapa num
postulante direto ao cargo cujo mandato vai até 2028.
O prefeito quer um nome de seu grupo
político na vice. O preferido é o deputado federal Pedro Paulo (PSD).
O fechamento da janela partidĂĄria
mostrou que ele não quis dividir seus aliados próximos nas siglas que tem como
alvo. Havia a expectativa de que alguma das opções para a vice se filiasse à
União Brasil, como Pedro Paulo e o presidente da Câmara Municipal, Carlo
Caiado. Ambos permaneceram no PSD.
Outra sinalização de que a aliança com
a União segue distante foi a filiação do deputado estadual Rodrigo Amorim à
sigla. Ele é pré-candidato na disputa, tendo como um dos estimuladores o
presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar, comandante
regional do partido.
Paes cedeu o PSD para Bacellar em
Campos dos Goytacazes, base eleitoral do presidente da Alerj. O objetivo é
manter alguma conexão política até o fim do prazo das convenções, no início de
agosto.
Enquanto isso, conta com o apoio de
líderes nacionais do partido, como Antônio Rueda e ACM Neto, para convencer
Bacellar a integrar sua chapa.
O prefeito também corteja o PP, que tem
como pré-candidato o deputado federal Marcelo Queiroz. Políticos do Rio de
Janeiro avaliam que a sigla manterĂĄ a candidatura para que o deputado federal
Doutor Luizinho, presidente do partido
no estado, não crie arestas com nenhuma sigla, tendo em vista sua pretensão de
disputar o comando da Câmara dos Deputados em 2025.
O MDB tem como pré-candidato o deputado
federal bolsonarista Otoni de Paula. Paes tenta convencer os membros do antigo
partido a aderirem à sua chapa. Assim como fez com Bacellar, o prefeito
entregou o PSD de Duque de Caxias para um parente do chefe do MDB-RJ,
Washington Reis.
Enquanto não firma alianças partidĂĄrias
à direita, Paes conseguiu garantir o apoio de figuras evangélicas influentes. O
coordenador político da Igreja Universal no estado, Deangeles Percy, se filiou
e é pré-candidato a vereador pelo PSD.
O prefeito também conta com a
influĂȘncia do pastor Abner Ferreira, da Assembleia de Deus, para retirar a
pré-candidatura de Otoni de Paula e atrair o MDB para sua aliança
Outro movimento à direita foi a
reconciliação com seu ex-secretĂĄrio Rodrigo Bethlem, com quem havia rompido em
2014.
Ele atualmente trabalha como consultor
político de políticos do campo conservador, como o ex-prefeito Marcelo
Crivella, do Republicanos. No início do ano, o ex-aliado participava de
conversas com Amorim e Otoni para articulação das opções desse campo para a
disputa. HĂĄ cerca de dois meses, passou a integrar o grupo de conselheiros do
atual prefeito.
As movimentações à direita de Paes
ocorrem no momento em que o PT ameaça acirrar a pressão pela vice. O movimento
tem sido comandado pela presidente da sigla, Gleisi Hoffmann.
O prefeito conta com a intervenção de
Lula em seu favor. Ele avalia que o presidente compreenderĂĄ como a entrada do
PT na vice pode contribuir com a nacionalização da campanha no Rio, o que
fortaleceria Ramagem.
Lula deu o primeiro sinal ao encontro
de Paes durante a filiação da ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) ao PT,
no início do mĂȘs. No evento, ele disse que a nova petista não seria candidata
neste ano, esfriando apoiadores do nome dela como vice de Paes, entre eles a
primeira-dama Janja.
As opções em discussão no PT são o
secretĂĄrio especial de Assuntos Federativos, André Ceciliano, e o secretĂĄrio
municipal de AssistĂȘncia Social, Adilson Pires, que foi vice de Paes em seu
segundo mandato (2013-2016).
Paes não descarta disputar a reeleição
mesmo sem o apoio do PT, caso a pressão se torne uma exigĂȘncia. O cenĂĄrio
depende de avaliação mais próxima do início da campanha.
ITALO
NOGUEIRA
Fonte: RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)