O CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, emitiu uma carta oficial com retratação pública sobre as críticas feitas à carne brasileira. O gesto vem após a polêmica decisão anunciada na última semana de que as lojas francesas do Carrefour deixariam de adquirir proteínas animais produzidas nos países do Mercosul. A medida foi interpretada como um ataque direto à cadeia produtiva brasileira e provocou fortes reações no país.
Segundo o portal Neofeed, a carta de retratação foi entregue pelo embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e também a assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No documento, Bompard reconheceu que a declaração gerou tensões diplomáticas e comerciais, além de destacar a intenção de fortalecer a parceria histórica com os fornecedores brasileiros.
A crise foi desencadeada no dia 20 de novembro, quando Bompard anunciou que as unidades do Carrefour na França deixariam de comercializar carne do Mercosul. A decisão foi tomada em meio à pressão de agricultores franceses contrários ao acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. No Brasil, a resposta foi rápida e contundente: 23 frigoríficos, incluindo empresas como JBS, Marfrig e Masterboi, anunciaram a suspensão imediata do fornecimento de carne para as lojas do Carrefour no território brasileiro.
De acordo com fontes do setor, mais de 150 lojas da rede já estão enfrentando desabastecimento de alguns cortes de carne, o que tem gerado queixas de consumidores. A Associação Brasileira de Frigoríficos afirmou que a decisão foi uma forma de demonstrar a força e a relevância da cadeia produtiva brasileira no mercado global.
O ministro Carlos Fávaro apoiou a postura dos frigoríficos, mesmo destacando que o boicote partiu exclusivamente do setor privado. Em coletiva de imprensa, Fávaro classificou como "desproporcional" a decisão de Bompard e elogiou a rapidez da resposta brasileira. "O Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo e tem padrões ambientais e de produção cada vez mais rigorosos. Não podemos aceitar esse tipo de posicionamento que coloca em dúvida nossa credibilidade internacional", declarou o ministro.
Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Senhor Carlos Fávaro,
A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la.
O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil.
Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais.
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos.
O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.
Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.
O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros.
Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.
Atenciosamente,
Alexandre Bompard
Diretor-Presidente do Grupo Carrefour
Fonte: Gazeta Brasil