São Paulo — Um racha dentro da associação que mais ampliou o faturamento com
contribuições sobre aposentadorias no último ano expõe um suposto esquema de
compra de dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para filiar
aposentados à revelia e reter, todo mês, parte dos benefícios diretamente na
folha de pagamento.
Uma empresa ligada à Associação dos Aposentados Mutualistas para
Benefícios Coletivos (Ambec), que atualmente fatura R$ 30 milhões por mês com
contribuições, afirma que a entidade é usada por um grande grupo de seguradoras
para cometer fraudes contra aposentados.
A Ambec foi habilitada em 2021 pelo INSS para praticar "desconto de
mensalidade associativa" no valor de R$ 45 em aposentadorias, por meio de
acordo de "cooperação técnica" com o órgão, em troca de supostos serviços de
assistência aos aposentados.
Em janeiro de 2023, ela tinha 38 mil filiados e faturava R$ 1,8 milhão
por mês. Um ano depois, registra 650 mil aposentados e arrecadação de R$ 30
milhões, um salto de 1.500%. Em todo o país, a Ambec já foi alvo de 4,7 mil
processos judiciais e acumula condenações por danos morais por fazer filiações
sem autorização dos segurados.
Como o Metrópoles revelou nessa quarta-feira (27/3), a Ambec integra um
grupo de 29 entidades habilitadas pelo INSS que faturaram mais de R$ 2 bilhões
com descontos em aposentadorias em um ano. Juntas, elas respondem a mais de 60
mil processos na Justiça.
Nessa quarta, o ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), afirmou que
a pasta está "agindo firme" para "coibir abusos" e "fraudes" nos descontos
feitos diretamente da folha de pagamento dos aposentados por entidades
parceiras do INSS.
"Careca do
INSS"
Como mostrou o Metrópoles, a Ambec é ligada ao Grupo Total Health, do
empresário Maurício Camisotti, executivo ligado a lobistas e políticos do
Centrão.
Nos últimos meses, uma empresa que era responsável pela gestão
financeira da entidade, chamada Acttus, tem feito disparado interpelações
extrajudiciais contra a cúpula da Total Health nas quais afirma que seu sócio
foi laranja de Camisotti e que a Ambec é usada para cometer fraudes contra
aposentados.
As petições são feitas com base em documentos obtidos de dentro da
própria Total Health e da Ambec. São centenas de e-mails, trocas de mensagens
por WhatsApp e documentos reunidos pelo advogado Eli Cohen, que defende a
Acttus.
Em uma das interpelações endereçada a um ex-fiscal da Receita Federal,
Cohen afirma que um homem conhecido internamente como "careca do INSS" era o
responsável por vender dados de aposentados e pensionistas para a Ambec fazer
as filiações sem autorização dos segurados.
"Segundo apuração, constatou-se que dados pessoais e informações
confidenciais dos pensionistas têm sido obtidas de forma irregular junto ao
INSS pelo grupo em que trabalha o interpelado. Tais informações foram e vem
sendo adquiridas irregularmente por Mauricio Camisotti, que as utiliza para
promover a filiação fraudulenta de contratos associativos com a Ambec,
promovendo a venda massiva de planos de benefícios oferecidos pelo grupo de
Maurício, sem autorização do aposentado", afirma Cohen, em sua petição.
Os e-mails, aos quais o Metrópoles teve acesso, mostram diversos
diálogos nos quais Camisotti trata da gestão da Ambec. Em uma das mensagens são
debatidos os nomes de aposentados que deveriam integrar os quadros da entidade.
Há também mensagens de WhatsApp em que o próprio empresário instrui
encaminhar a um de seus executivos uma cobrança do Procon que chegou pelo
correio para a Ambec. A reportagem procurou Maurício Camisotti e a Ambec, mas
não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto
para manifestação.
Sediada em uma sala comercial na Vila Olímpia, na zona sul de São Paulo,
a Ambec era presidida até fevereiro deste ano por Maria Inês Batista de
Almeida, de 63 anos, uma auxiliar de dentista que mora na periferia da zona
leste paulistana. Segundo Cohen, ela trabalhava como faxineira para o
empresário.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br