O Instituto Butantan publicou,
nesta quinta-feira (01), os primeiros resultados do estudo clínico de fase 3 da
sua vacina contra a dengue no New England Journal of Medicine, uma das mais
prestigiadas revistas científicas do mundo. Os dados mostram que o imunizante,
feito com os quatro vírus atenuados, de dose única, evitou a doença em 79,6%
dos vacinados ao longo de um período de dois anos.
A vacina foi testada em 16.235 voluntários de todo o Brasil, com
idades de 2 a 59 anos. A análise de eficácia foi feita ao longo de dois anos de
acompanhamento.
A proteção foi observada em todas as faixas etárias, sendo 90% em
adultos de 18 a 59 anos, 77,8% dos 7 aos 17 e 80,1% nas crianças de 2 a 6 anos.
Em
pessoas que já apresentavam anticorpos para a dengue antes do estudo, a
proteção foi de 89,2%; naqueles que nunca tiveram contato com o vírus, a
eficácia foi de 73,6%. O imunizante teve o mesmo perfil de segurança em ambos
os grupos.
A vacina do Butantan foi desenvolvida para proteger contra os
quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Como no
período do estudo circularam apenas os sorotipos 1 e 2 no Brasil, até o momento
foi possível descrever uma eficácia de 89,5% para DENV-1 e 69,6% para DENV-2.
Em relação à segurança, a maioria das reações adversas foi
classificada como leve a moderada, sendo as principais delas dor e vermelhidão
no local da injeção, dor de cabeça e fadiga. Eventos adversos sérios
relacionados à vacina foram registrados em menos de 0,1% dos vacinados, e todos
se recuperaram totalmente.
Uma grande vantagem potencial da candidata a imunizante do
Butantan é que uma dose foi suficiente para fornecer proteção robusta contra a
dengue, enquanto outras vacinas aprovadas exigem duas ou três doses. O esquema
de dose única é muito mais favorável, principalmente durante epidemias, pois
induz a proteção da população em um curto espaço de tempo, ajuda a alcançar uma
maior cobertura vacinal e traz vantagens logísticas e econômicas.
Impactos da dengue
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que cerca de metade da
população mundial (3,9 bilhões de pessoas) vive em risco de contrair dengue.
Uma análise feita pela Universidade de Oxford estima que, até 2080, esse número
pode chegar a 6 bilhões, devido ao aumento das temperaturas e da adaptação do
mosquito Aedes aegypti a locais onde antes não circulava.
A cada ano, são registrados de 100 milhões a 400 milhões de casos
de dengue no mundo. No Brasil, a doença acomete cerca de 1 milhão de pessoas
anualmente. Em 2023, a incidência foi maior na região Sul (1.269,8 mil
casos/100 mil habitantes), seguida da Sudeste (1.028,6 casos/100 mil
habitantes) e da Centro-Oeste (935,9 casos/100 mil habitantes), conforme o
Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.
A maioria das pessoas que contraem a dengue não tem sintomas;
outras, apresentam febre alta, dor de cabeça, dor no corpo, náuseas e manchas
vermelhas na pele, que podem durar de uma a duas semanas. No entanto, alguns
pacientes podem desenvolver formas graves da doença, também conhecidas como
dengue hemorrágica ou síndrome do choque da dengue, que acometem principalmente
quem passa por uma segunda ou terceira infecção.
A dengue grave atinge um a cada 20 pacientes e costuma aparecer
depois de três a sete dias do início dos sintomas, quando a febre começa a
baixar. Nesse momento, o paciente pode sentir dor abdominal intensa, vômito
persistente, sangramento nas gengivas ou nariz, queda de pressão arterial e
dificuldade respiratória, entre outras complicações que podem levar à morte.
Gazeta Brasil