Embora os cigarros eletrônicos sejam proibidos no Brasil desde 2009, cerca de 2,2 milhões de pessoas usam esses dispositivos para fumar, conforme pesquisa do Ipec - InteligĂȘncia em Pesquisa e Consultoria. A maior parte, jovens.
A Associação Médica Brasileira (AMB) alerta que a maioria absoluta dos vapes contém nicotina – droga psicoativa responsĂĄvel pela dependĂȘncia e que, ao ser inalada, chega ao cérebro entre sete e 19 segundos, liberando substâncias quĂmicas que trazem sensação imediata de prazer.Desde o inĂcio de dezembro, a AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) abriu consulta pĂșblica para saber o que a sociedade pensa sobre a liberação dos cigarros eletrônicas. A consulta fica aberta até 9 de fevereiro de 2024 e pode ser acessada por qualquer pessoa.
Em entrevista ao Repórter Brasil, da TV Brasil, o médico e coordenador do Centro de Apoio ao Tabagista, Alexandre Milagres, se posicionou contrĂĄrio à regulamentação do dispositivo no Brasil.
Para ele, o discurso de que a regulamentação acabaria com o comércio ilegal de cigarros eletrônicos é falacioso e apenas traz um discurso de interesse da indĂșstria do setor, interessada na legalização do cigarro eletrônico. "A regulamentação não garante que vocĂȘ deixe de obter dispositivos ilegais. Os cigarros convencionais são regulamentados hĂĄ mais de um século e isso não impede que 30% da comercialização de cigarros no Brasil sejam de cigarros contrabandeados".
Milagres afirma que a indĂșstria tabagista abraçou e difundiu a ideia de que o cigarro eletrônico é menos prejudicial à saĂșde porque quer se recuperar da perda de milhões de clientes por ano, seja por uma mudança cultural, seja pela morte de pessoas em decorrĂȘncia do cigarro.
"A indĂșstria sabe que estĂĄ perdendo clientes de uma forma colossal, porque as pessoas estão se conscientizando dos males do tabaco. O cigarro, em alguns paĂses, jĂĄ é considerado pelos jovens uma coisa cafona. E tem uma mortalidade de 9 milhões de pessoas por ano. São menos 9 milhões de consumidores/ano. A indĂșstria descobriu esse nicho [dos cigarros eletrônicos] e todas elas [fabricantes de cigarros] estão vendendo essa ideia de que o cigarro [eletrônico] causa menos dano."
Riscos
De acordo com a AMB, nos cigarros eletrônicos, a nicotina se apresenta sob a forma lĂquida, com forte poder aditivo, ao lado de solventes (propilenoglicol ou glicerol), ĂĄgua, flavorizantes (cerca de 16 mil tipos), aromatizantes e substâncias destinadas a produzir um vapor mais suave, para facilitar a tragada e a absorção pelo trato respiratório. "Foram identificadas centenas de substâncias nos aerossóis, sendo muitas delas tóxicas e cancerĂgenas."
"Cada pod do cigarro eletrônico no formato de pen drive contĂȘm 0,7 mililitro (ml) de e-lĂquido com nicotina, possibilitando 200 tragadas, similar, portanto, ao nĂșmero de tragadas de um fumante de 20 cigarros convencionais. Ou seja, pode-se afirmar que vaporizar um pen drive equivale a fumar 20 cigarros (um maço)", alertou a entidade.
AgĂȘncia Brasil