O jornal de oposição da Nicarágua La Prensa informou nesta segunda-feira (24/07/2023) o desaparecimento do jornalista Guillermo Miranda, colunista do jornal e diretor das Forças de Veteranos de Guerra da Resistência da Nicarágua, grupo de oposição ao partido no poder, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).
O meio de comunicação indicou em comunicado que o informador, alegadamente detido na quinta-feira (21/07/2023) na cidade de Granada, não atende o telefone há dias e não enviou o seu artigo de opinião para publicação nesta segunda-feira.
O regime da Nicarágua anunciou em agosto de 2022 a abertura de um centro cultural na redação do jornal oposicionista La Prensa, abandonado depois que seus funcionários tiveram que se exilar por medo de serem vítimas da escalada repressiva protagonizada por Daniel Ortega e Rosario Murillo.
Após o exílio de sua equipe, o chefe dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) na América Latina, Emmanuel Colombié, denunciou que "o aparato repressivo implantado pela ditadura Ortega para reduzir os jornalistas ao silêncio é tão aterrorizante quanto intolerável".
Mais de 1.300 violações da liberdade de imprensa nos últimos cinco anos
Pelo menos 1.329 violações da liberdade de imprensa foram registradas na Nicarágua nos últimos cinco anos, incluindo um assassinato, privação de nacionalidade de jornalistas e encerramento e expropriação de meios de comunicação.
Isto foi detalhado num relatório da rede regional Voces del Sur e da Fundação para a Liberdade de Expressão e Democracia (FLED), divulgado em setembro.
Entre abril de 2018 e abril de 2023, foram documentadas 1.329 violações à liberdade de imprensa, que caíram entre 338 vítimas, segundo o relatório apresentado por Guillermo Medrado, diretor executivo da FLED, organização civil dedicada à promoção das liberdades públicas, com sede em Costa Rica.
Do total de 338 jornalistas, 63 deles foram vítimas de repetidos ataques durante os anos 2018-2023, detalhou o especialista no relatório intitulado "Sistematização das violações da liberdade de imprensa na Nicarágua, período de cinco anos de abril de 2018 a abril de 2023".
Criminalização da prática jornalística
No quinquênio, o indicador mais predominante são as agressões e agressões, com um total de 759 casos ou 57,1% do total, seguido do discurso estigmatizante (161 casos) e das restrições de acesso à informação (137 casos), Medrano explicou.
"É válido mencionar que desde que (Daniel) Ortega regressou ao poder em 2007, seu governo tem se caracterizado por manter um discurso frontal contra o jornalismo independente, que descreveu num dos seus primeiros discursos como filhos de Goebels", lembrou Medrano.
Das 1.329 violações da liberdade de imprensa, 819 (61,6%) foram perpetuadas por agentes estatais, seguidos por grupos paraestatais com 120 ataques (23,3%), compostos por militantes sandinistas que atuaram ao lado das autoridades, segundo o estudo.
O Estado, principal agressor
Por outro lado, 120 ataques (9%) foram cometidos por grupos fora da lei ou identificados como paramilitares, ou seja, grupos de civis armados coordenados por forças estatais.
"Os atores mais utilizados para reprimir foram a Polícia Nacional, o Ministério Público, a Assembleia Nacional e o Poder Judiciário ( ) Mantém-se uma cultura de agressão e censura como política do atual governo", alertou o especialista.
Fonte: (Com informações da Europa Press e EFE)