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Bolsonaro argentino

Por que Javier Milei, o Bolsonaro argentino, tem preocupado o governo Lula

Possibilidade de vitória do ultradireitista empolga deputados da oposição ao petista, que irão à Argentina neste fim de semana


Javier Milei, durante discurso político neste domingo (13) — Foto: ALEJANDRO PAGNI / AFP

As eleições argentinas, que ocorrem neste domingo (22), geram apreensão no governo Luiz Inácio Lula da Silva e entusiasmo na oposição. O pleito naturalmente atrai atenções, já que o país vizinho é um dos maiores parceiros econômicos do Brasil. Mas neste caso, um nome centraliza o debate: o do ultradireitista Javier Milei.

Favorito nas pesquisas e com possibilidade de ser eleito já no primeiro turno, Milei defende uma redução do Estado com propostas radicais, como dolarização completa da economia e o fim do Banco Central, além de ser a favor do armamento da população, de relativizar o golpe militar da Argentina em 1976 e minimizar as mudanças climáticas.

O candidato da coligação La Libertad Avanza ainda tem um forte discurso contra o que chama de "casta política" que governou a Argentina nas últimas décadas. Com estilo polêmico, chegou a ser apelidado como o "Bolsonaro argentino".

Milei já deu declarações hostis aos olhos do governo Lula. Afirma que, caso eleito, não irá fazer negócios com governos "comunistas", como ele classifica o presidente brasileiro. Também já disse que o petista tem "vocação totalitária" e está "usurpando a liberdade". Durante as eleições brasileiras de 2022, chamou Lula de "presidiário comunista" e pediu voto em Jair Bolsonaro.

Javier Milei promete retirar a Argentina do Mercosul e cancelar a entrada do país no Brics, bloco que conta com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e terá o ingresso de outros cinco países em 2024. A adesão argentina foi intermediada, sobretudo, por Lula.

Para além da distância ideológica, uma eventual vitória de Milei acende um alerta no governo brasileiro, que vê no cenário o início de uma possível crise diplomática entre os dois países. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já admitiu a preocupação.

"Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um, porque em geral, nas relações internacionais, você não ideologiza a relação", disse.

Além disso, Lula é bastante próximo do atual presidente argentino, Alberto Fernández, com quem se reuniu por diversas vezes desde janeiro. O candidato peronista ao governo argentino, Sergio Massa, atual ministro da Economia, também já foi a Brasília pedir ajuda financeira do governo brasileiro. A Argentina atravessa sua pior crise em décadas.

Oposição declara apoio a Milei

Por outro lado, parlamentares da oposição se animam com o favoritismo de Javier Milei. Nesta semana, 69 deputados federais de nove partidos diferentes, incluindo alguns da base de Lula, como PSD e MDB, assinaram uma carta em apoio ao candidato.

"Considerando que a atual gestão de Alberto Fernandez pune a população argentina com o terceiro maior índice de inflação do planeta, com a escalada da violência com assassinatos e saques e mantendo relações exteriores com países que violam a democracia e os direitos humanos, [...] anunciamos nosso apoio irrestrito a eleição do Deputado Nacional Javier Gerardo Milei para a Presidência da República Argentina", diz.

A carta acusa o governo Lula de tentar interferir nas eleições do país vizinho ao incluir a Argentina no Brics e firmar um acordo de US$ 600 milhões para financiar exportações brasileiras em solo argentino.

Alguns dos deputados que assinam o documento, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Marcel van Hattem (Novo-RS) e Rodrigo Valadares (União-SE), irão à Argentina acompanhar a eleição no bunker de Milei.

Já o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que, caso Milei vença a eleição, irá para a posse do argentino.

Uma vitória de Milei é vista por bolsonaristas como o começo de uma possível reviravolta na América do Sul - que nos últimos anos, teve seguidas vitórias da esquerda em países como Brasil, Chile, Colômbia e Bolívia.

No último fim de semana, porém, o direitista Daniel Noboa venceu as eleições no Equador. Agora, a expectativa dos opositores de Lula é de um novo triunfo da direita em um país-chave, a Argentina. E, possivelmente, uma "onda direitista" na região.

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