É o que comprova estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do ParanĂĄ, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Federal da ParaĂba (UFPB), publicado hoje (10), no periódico cientĂfico Plos One.
Como forma de averiguar o cenĂĄrio, a equipe de cientistas analisou relatos de experiĂȘncias de 109 pessoas, por meio de um questionĂĄrio. Os participantes, que responderam de modo voluntĂĄrio, eram de todas as regiões do paĂs, sendo a maioria negra.O critério aplicado para se definir o estado de insegurança alimentar foi o da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que entende como contextos em que o acesso ao alimento estĂĄ sob ameaça. Isso significa quantidades insuficientes de comida, medo de o alimento acabar e a falta de estabilidade no fornecimento. Também se enquadra na classificação a inadequação da comida disponĂvel, do ponto de vista cultural e/ou nutricional.
SĂĄvio Marcelino Gomes, autor principal do artigo, nutricionista e docente da UFPB, destaca que a comunidade trans é uma das mais vulnerĂĄveis. "O Brasil, apesar de a gente ter alguns avanços na saĂșde, como o processo transexualizador e de existir uma polĂtica nacional de saĂșde para a população LGBTQIA+, de forma geral, é também o paĂs que mais mata pessoas trans em todo o mundo", assegura.
O pesquisador comenta que, ao não poder entrar no mercado de trabalho, por conta da discriminação, chamada, nesse caso, de transfobia, as pessoas trans acabam em uma circunstância de suscetibilidade quanto à alimentação, camada que se soma à da fragilização por meio da violĂȘncia. Gomes faz, ainda, uma crĂtica aos dados sobre a população trans que se tem, atualmente, à disposição no Brasil.
"À medida que sofrem rejeições de empregos, sofrem violĂȘncias dentro do mercado de trabalho, do setor da educação e também na ĂĄrea de assistĂȘncia em saĂșde, quando tentam acessar a atenção primĂĄria, essas pessoas sofrem também experiĂȘncias de estigma, e tudo isso junto, coloca essas pessoas em uma posição social de vulnerabilidade aos piores males que nossa sociedade tem. E a fome é um deles, apesar de a gente não [ter] esse resultado de forma nacional, porque nossos inquéritos, por muito tempo, também não mostram essa população. É uma população que estĂĄ invisibilizada", afirma Gomes, que é doutor em saĂșde pĂșblica.
Fonte: AgĂȘncia Brasil