Com a queda dos juros, a expectativa de especialistas do varejo passou a ser uma só: vendas em alta, ainda que o avanço ocorra num ritmo lento. Isso porque, com a Selic em queda, a tendência é que o consumidor assuma novas dívidas para financiar compras. Dito de outra forma, para o setor, chegou a hora de retomada do "carnezinho gostoso", como já definiu a empresária e presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano.
De um lado, diz Mauad, as companhias beneficiam-se da redução. "As empresas têm dívidas e, à medida que a curva de juros vai ficando menor, essa despesa financeira começa a diminuir", diz. "Isso melhora a performance do negócio como um todo e abre espaço para investir mais, o que inclui reinvestir no consumidor final, com promoções, por exemplo."
A segunda frente tem a ver com o humor da freguesia. "Todo mundo está esperando que aumente a confiança dos consumidores", diz o executivo. "Esse é um elemento qualitativo muito relevante. Não é à toa que medimos isso como sociedade, avaliando o índice de confiança dos consumidores."
Mauad observa que essa convicção em torno do consumo se fixa à medida que os compradores em potencial, principalmente aqueles que vinham adiando compras, começam a ouvir notícias positivas em série. Isso inclui a própria redução da taxa de juros, a inflação sob controle e o desemprego em queda, por exemplo.
"Isso vai aumentando a confiança, porque as pessoas acreditam que vão continuar empregadas, que a renda vai aumentar, que podem acelerar o consumo porque o terreno é relativamente firme adiante", afirma o CEO da Fintech Magalu. "Aí, começa a haver mais espaço para as empresas aprovarem mais crédito para o cliente ou renovar as linhas já existentes", diz.
Mauad acrescenta que o crédito é um elemento tão importante para as companhias – e para o varejo, em especial – que a estratégia dessa frente de atuação exige uma revisão e análise diárias no Magalu.
Ele também acredita que a recuperação das vendas ocorrerá numa sequência. "Estamos no pontapé inicial, no começo do ciclo", afirma. Na análise do executivo, essa abertura do consumo terá início pelo varejo alimentar. Depois, passará para os bens duráveis e seguirá em frente rumo aos supérfluos e aos gastos eletivos, cujo momento da compra pode ser programado. Por fim, avançará sobre itens mais caros, como automóveis. "E não será um voo de galinha", diz. "As melhoras podem ser pequenas, mas serão constantes e por, ao menos, um ano e meio."
Para Malek Zein, analista de ações do TC, uma plataforma de investidores, a queda de juros é, evidentemente, positiva para todas as áreas do varejo. Mas ele ressalta que o efeito prático dessa redução deve demorar de seis a nove meses para ter efeito prático nos negócios. Além disso, nem todas empresas poderão aproveitá-lo da mesma maneira.
"A Via Varejo, por exemplo, não tem capacidade de pagamento de juros da dívida desde o segundo trimestre de 2021. No Magazine Luiza, isso ocorre desde o terceiro trimestre de 2021", diz o analista. "Fica difícil para essas empresas queimarem caixa para crescer. Existem outras companhias que estão voando, como é o caso da Vivara e a Vulcabras. Ou seja, vai ser muito caso a caso. As empresas com balanços mais fortes vão conseguir capturar melhor boa parte do crescimento que pode acontecer no varejo."
Fonte: Metropoles