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Pesquisa diz que alimentos na mesa não refletem biodiversidade

O Brasil tem 20% da biodiversidade do mundo.

Por Eliashacker.com.br 21/07/2023 às 08:55:39

O Brasil tem 20% da biodiversidade do mundo. No entanto, isso não se reflete nos alimentos que estão na mesa da população. De acordo com estudo do NĂșcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e SaĂșde, da Universidade de São Paulo (USP), a quantidade de alimentos com origem na biodiversidade local adquirida pelos brasileiros foi considerada baixa.

A valorização e a expansão da monocultura em detrimento de pequenos agricultores é um dos elementos que explicam esse resultado. O artigo que traz os resultados aponta que eles "são insatisfatórios e abaixo do que se espera de um território biodiverso e de um sistema alimentar que é destaque mundial. É necessĂĄrio um maior comprometimento para a promoção de ações que fortaleçam o consumo desses alimentos entre brasileiros".

"O estudo tem como objetivo descrever a disponibilidade de alimentos nativos de cada estado do Brasil [para a população]. Consideramos frutas, legumes e verduras da biodiversidade. E o que a gente observou é que a disponibilidade desses alimentos é bem baixa", disse Anderson Lucas, um dos autores do artigo.

Baixo consumo

Para ele, o consumo de frutas, legumes e verduras no Brasil jĂĄ é baixo, mas, observando pela alimentação com itens da biodiversidade local, identificou-se uma quantidade menor ainda. "Isso se dĂĄ principalmente pela mudança do sistema alimentar global que favorece o cultivo de commodities, como milho e soja, que são base de alimentos ultraprocessados," salientou.

Lucas afirmou que sempre houve uma baixa aquisição de alimentos nativos no Brasil, mas, com a expansão da monocultura nos Ășltimos anos, essa disponibilidade de alimentos da biodiversidade estĂĄ caindo ainda mais.

A disponibilidade total (gramas/per capita/dia) de alimentos correspondeu a uma média de 1.092 gramas. A média da disponibilidade de frutas, legumes e verduras no paĂ­s é de 108,67g/per capita/dia, sendo que apenas 7,09g corresponde à parcela de alimentos de origem da biodiversidade local.

Como biodiversidade local, os pesquisadores consideraram alimentos nativos do estado em que vive aquela pessoa. Os dados se referem a 38 alimentos nativos. Foi utilizada uma amostra com dados de aquisição de alimentos de 57.920 domicĂ­lios, coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂ­stica (IBGE) de 2017 a 2018.

Separadamente, o grupo das frutas corresponde a 56,7gramas/per capita/dia, sendo que apenas 5,89g é a parcela de itens da biodiversidade local. No caso das verduras e legumes, são 51,97gramas/per capita/dia, sendo que 1,20g são alimentos nativos.

Por biomas, a caatinga apresentou a maior disponibilidade de frutas nativas na aquisição pela população (4,20g/per capita/dia), enquanto para legumes e verduras, a Amazônia se destacou (1,52g/per capita/dia).

"Isso faz mal não só para a saĂșde do planeta como também da população, através de impactos ambientais, além de não valorizar a agricultura sustentĂĄvel, só valorizar agricultura por meio monótono, que é utilizando muitos agrotóxicos e venenos. E também como isso prejudica as culturas tradicionais no Brasil, porque esse tipo de alimento que estamos destacando faz parte de algumas comunidades de povos indĂ­genas, além de agregarem também para agricultura familiar", explicou.

O pesquisador sustentou que, sobre o consumo de frutas, legumes e verduras, a Organização Mundial da SaĂșde (OMS) recomenda quatrocentas gramas diĂĄrias desses alimentos em cinco ou mais dias da semana.

Soluções

Para o pesquisador, o primeiro ponto para uma mudança nessa realidade seria considerar a sazonalidade dos alimentos, valorizando aqueles cultivados em ambientes naturais e não em ambientes controlados, com uso de agrotóxico e fertilizantes, que, artificialmente, levam ao maior rendimento daquela cultura. Ele acrescentou que é preciso repassar tais alimentos com preço justo para a população.

"Para isso, a gente tem que incentivar o cultivo desses alimentos, então é preciso criar feiras, espaço de troca de conhecimentos e dar apoio técnico aos agricultores e às comunidades que plantam e colhem alimentos da biodiversidade. A gente observou que alguns alimentos precisam de um trabalho muito manual para extração, por exemplo, o coco babaçu, que necessita ser quebrado para tirar a castanha que tem dentro dele para fazer leite da castanha de babaçu, além de farinhas e outras coisas", disse.

Em relação a introduzir os alimentos nativos na dieta da população, ele citou a possibilidade de inclusão na alimentação escolar, principalmente por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar, que adquire alimentos da agricultura familiar.

"Colocar esses alimentos na alimentação escolar e [introduzir] o debate sobre alimentação nas escolas para ensinar as crianças desde cedo a escolher e consumir os alimentos nativos, além de identificar quais alimentos são nativos de cada região e começar um questionamento sobre a origem dos alimentos", sugeriu.

Origem esquecida

Ele acrescentou que, por conta dos alimentos ultraprocessados, as pessoas acabam esquecendo a origem dos alimentos e que muitos não conhecem como é o alimento in natura, só sabem como é o pacote após ser processado. Nas cidades, hĂĄ ainda maior distanciamento entre produção e população.

"[É preciso] reaproximar a população através da produção dos alimentos, então a gente observa que a população agora vive em grande maioria na ĂĄrea urbana, então incentivar por meio de hortas comunitĂĄrias seria um bom exemplo para aumentar a disponibilidade desses alimentos nas ĂĄreas urbanas", finalizou.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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