A Polícia Civil de São Paulo prendeu pelo menos quatro homens que expunham violência cometida contra menores de idade no Discord. Os detidos transmitiam através do app cenas de agressões e até estupros que haviam sido gravadas contra meninas.
A história foi mostrada no último domingo (25) no programa Fantástico, que revelou as identidades dos presos. O inquérito apontou como culpado Vitor Hugo Souza Rocha (conhecido como Verdadeiro Vitor), Gabriel Barreto Vilares (Law), William Maza dos Santos (Joust) e Carlos Eduardo Custódio (conhecido como DPE), que é o único que está foragido.
Em um dos casos, os agressores pagaram para que uma jovem de 13 anos viajasse de Joinville (SC) para São Paulo (SP). De acordo com relatos da irmã da adolescente, na capital paulista a vítima foi obrigada a ter relações sexuais com os agressores, além de ter sido dopada e agredida.
O aliciador da vítima foi DPE, que tem 19 anos, e foi quem colocou a menina dentro de uma casa onde aconteceram os crimes. Alguns momentos chegaram a ser transmitidos ao vivo na internet.
"Nós ficamos chocados com o que a gente viu. Eles saiam do virtual e iam para o físico. Eles [agressores] conseguiam cooptar essas meninas através desse aplicativo, trazendo de outros estados, produziam esse conteúdo de pornografia e mandavam para o criminoso que foi preso em Bauru [o Verdadeiro Vitor]", disse Fábio Pinheiro Lopes, delegado da Polícia Civil de SP.
Além dos crimes contra as adolescentes, Ministério Público e Polícia investigam indícios de que os acusados e mais pessoas podem estar envolvidos com casos de homicídios contra moradores de rua, tráfico de drogas e ataques contra escolas.
Dezenas de arquivos
O Discord é a plataforma onde os presos conversavam, se organizavam e até exibiam as cenas de agressões contra as meninas. Contudo, os investigadores descobriram dezenas de materiais armazenados em SSDs e nos computadores dos acusados.
Segundo a polícia, o criminoso conhecido como "Verdadeiro Vitor", que tem 21 anos, é um dos que armazena diversas gravações de cenas chocantes. Em vídeos obtidos pela polícia e exibidos pelo Fantástico, o homem mostra para amigos um pouco de sua "coleção".
Em um dos momentos, é possível ver que ele tem uma pasta chamada "Backup das vagabundas estupráveis". Dentro, há várias outras pastas onde estão imagens e vídeos de estupros e violência cometida contra menores de idade, tudo catalogado pelo nome da vítima.
"Ele disseminava isso para outros grupos. Estamos apurando se ele fazia isso por dinheiro ou apenas porque faz parte desses grupos de pedofilia e divulgação de pornografia infantil", pontuou ainda o delegado Lopes.
As autoridades brasileiras também pretendem investigar o próprio Discord, que pode ser acusado de conivência com os crimes, já que não possui filtros adequados para impedir a propagação de materiais violentos.
"Nós estamos apurando, através de um inquérito civil, a falta de segurança da plataforma Discord. Crimes individuais sempre vão ocorrer na internet. O que diferencia é a detecção de que nessa plataforma está ocorrendo um discurso estruturado de ódio. Um local propício para que eles planejem ataques às vítimas e, principalmente, transmitam o conteúdo do crime", afirmou Danilo Orlando, promotor de Justiça de São Paulo.
Outro lado
Um porta-voz do Discord afirmou que o app não tolera comportamento odioso, que é um produto gratuito utilizado por mais de 150 milhões de pessoas e que de tempos em tempos, conteúdo e comportamento mal vão acontecer.
"Gostaria de enfatizar que a vasta maioria das interações de brasileiros usando Discord são positivas e saudáveis. Nós somos proativos e investigamos grupos que podem estar envolvidos em ameaças a crianças e trabalhamos para tirar esses agentes ruins da plataforma", afirmou Clint Smith, chefe de segurança do Discord.
Fantástico