25/11/2024 +55 (83) 98773-3673

SaĂșde

Andre@zza.net

Câncer de mama: 2 em cada 10 mulheres negras se sentem discriminadas

Por Eliashacker.com.br 23/06/2023 às 18:21:41

Duas em cada dez mulheres pretas e pardas que fazem tratamento de câncer de mama se sentem discriminadas por sua raça ou etnia. Os dados são preliminares e fazem parte de um levantamento em andamento da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Rio de Janeiro (SBM-Rio).

A pesquisa, em parceria com o Instituto Nosso Papo Rosa, avalia discriminação ou preconceito sofridos durante etapas do atendimento e tratamento de câncer de mama, nos sistemas pĂșblico e privado de saĂșde do estado do Rio.

Na sondagem inicial, das 200 mulheres que responderam às perguntas, 40% se reconheceram como pretas ou pardas. Desse universo, 20% relataram ter enfrentado algum tipo de situação discriminatória, e 10% disseram não ter certeza se o que passaram foi discriminação.

Ao serem questionadas sobre a autoestima, cerca de 40% afirmaram que esse fator foi uma barreira para seguir com o tratamento, sendo que 30% deixaram o convĂ­vio social e 25% pararam de praticar atividade fĂ­sica. Os dados preliminares mostram ainda que 10% se separaram ou foram abandonadas pelo companheiro ou companheira e 43% das mulheres pretas e pardas entrevistadas não retornaram ao trabalho, após o diagnóstico.

"São mulheres na faixa etĂĄria de maior risco, entre 45 anos e 65 anos. E a gente teve, infelizmente, essa surpresa de ver, nos dias de hoje, esse sentimento por parte dessas mulheres que jĂĄ estão sofrendo uma situação [de câncer] tão difĂ­cil, tão complicada, principalmente se a gente pensar em sistema pĂșblico, com toda dificuldade de tratamento, e ainda tĂȘm que sofrer com esse racismo estrutural", disse a presidente da SBM-Rio e do Instituto Nosso Papo Rosa, doutora Maria JĂșlia Calas

A médica explicou que o levantamento é aberto a pacientes de todas as raças e etnias, visando levantar mais dados. "O questionĂĄrio tem 25 perguntas. Isso abre um leque para outras observações, atingindo outras ĂĄreas, como o retorno ao trabalho, por exemplo".

A meta é concluir o levantamento até outubro, mĂȘs dedicado à conscientização para a prevenção e o controle do câncer de mama, em todo o mundo. "Para outubro, a gente quer ter esses dados totalmente estruturados", disse Maria JĂșlia.

As informações colhidas até agora serão apresentadas no Simpósio Internacional de Mastologia (SimRio 2023), que ocorre de 22 a 24 deste mĂȘs, no Rio de Janeiro.

LGBTQIA+

A médica conta que outro destaque da pesquisa serĂĄ o pĂșblico LGBTQIA+, que ela vem rastreando desde 2020. O foco são os transgĂȘneros, pessoas cuja identidade de gĂȘnero difere do sexo atribuĂ­do ao nascer.

"A transgeneridade é o que nos interessa mais, no sentido da possibilidade da doença, porque são pessoas que fazem uso de hormônios para terem caracterĂ­sticas próprias do sexo com o qual se identificam e tomam hormônios em doses elevadas, por perĂ­odos muito longos. Essas pessoas tĂȘm maior foco nosso de interesse na investigação do câncer de mama".

Informações jĂĄ coletadas pela SBM-Rio mostram que as mulheres trans (que nascem no sexo biológico masculino, mas se identificam como mulher) fazem uso de hormônio feminino (estrogĂȘnio). Com isso, a mama vai crescendo de volume, como elas desejam.

"Este hormônio, porém, aumenta o risco de câncer de mama nessa população. A gente vĂȘ que nas mulheres trans, a incidĂȘncia de câncer de mama é maior do que nos homens cisgĂȘneros. Aumenta o risco pelo uso do estrogĂȘnio".

A presidente da SBM Rio advertiu, porém, que a literatura ainda não é robusta e não aponta por quanto tempo essa mulher pode usar o hormônio sem risco ou em quanto tempo de uso pode haver o risco de desenvolver o câncer. "Esses são dados que a gente ainda não tem na literatura mundial. Estamos em busca dessas informações".

Com relação à população LBGTQIA+, Maria JĂșlia Calas apontou a existĂȘncia de uma carĂȘncia grande no atendimento, pelo próprio preconceito e pela falta de cuidados de uma equipe multiprofissional em atender de forma adequada essa população.

"A gente acaba perdendo controle, diagnóstico, rastreio, perde a chance de cuidar dessa população, sabendo que ela tem um risco maior em função do uso de hormônios".

Para a presidente da SBM Rio, o tema traz um debate e a necessidade de uma abordagem diferente até para a classe médica. As mulheres trans também estão na pauta do Simpósio Internacional de Mastologia, do qual participam médicos de todo o paĂ­s e do exterior, como mastologistas, oncologistas, radiologistas, entre outros.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

Comunicar erro
ComentĂĄrios