Saída de mais de US$ 10 bilhões ressalta temor dos investidores e favorece ativos
A crise fiscal brasileira, somada à desvalorização do real e ao fortalecimento do dólar com a volta de Donald Trump à Casa Branca, levou à saída de mais de US$ 10,6 bilhões do Brasil para os Estados Unidos até novembro de 2024. O montante é mais do que o dobro registrado no ano anterior e reflete um movimento estrutural que deve continuar, segundo especialistas.
Aperto Fiscal e Risco-País Elevado
O cenário fiscal brasileiro é apontado como o principal fator para a fuga de capitais. O pacote econômico do governo Lula, considerado insuficiente para conter o crescimento da dívida pública, elevou a percepção de risco entre investidores. O Credit Default Swap (CDS), que mede o risco-país, alcançou 218 pontos, o maior patamar desde março de 2023.
"Quando a percepção de risco Brasil ficou mais latente, houve um movimento em massa de recursos para fora", explicou Roberto Lee, CEO da corretora Avenue.
Investimentos Conservadores nos EUA
Mais de 80% dos recursos enviados ao exterior pela Avenue foram aplicados em títulos conservadores como os Treasuries (títulos do Tesouro americano) e bonds corporativos. O movimento é impulsionado por juros altos mantidos pelo Federal Reserve e pela instabilidade no Brasil.
Dados do Banco Central indicam que os investimentos de brasileiros no exterior podem ultrapassar o recorde histórico de US$ 15,4 bilhões de 2011.
Crescimento da Avenue e Parceria com o Itaú
A Avenue, sócia do Itaú Unibanco, registrou aumento de 20% nas transferências de capital em dezembro, com possibilidade de crescimento de até 25% no mês. "Mais do que dobramos a custódia de ativos nos EUA, e podemos triplicar até 2025", disse Roberto Lee.
A parceria com o Itaú, que detém 35% da Avenue, deve fortalecer o movimento. O banco pode assumir o controle da corretora em 2025, mas, caso contrário, a Avenue planeja abrir capital nos Estados Unidos, possivelmente na Nasdaq.
Impactos na Economia Brasileira
A fuga de capitais pressiona a economia nacional, limitando recursos internos para investimentos e agravando a percepção de risco. Economistas alertam que, sem uma reversão na política fiscal e medidas para atrair capital, o Brasil enfrentará dificuldades no financiamento da dívida pública e no crescimento econômico.
"Esse movimento de fuga reflete tanto o cenário interno quanto a maior conscientização dos investidores sobre diversificação. É uma tendência que veio para ficar", concluiu Lee.
Cenário de Longo Prazo
Com a migração de capital considerada estrutural, o desafio fiscal do governo Lula se intensifica. Especialistas indicam que apenas uma mudança substancial no controle das contas públicas poderá conter a saída de recursos e evitar maiores dificuldades econômicas.
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