Presidente do Banco Central nos dois primeiros governos de Lula, Henrique Meirelles (foto) dedicou sua coluna desta semana no Estadão para destacar o que considera uma missão urgente para o governo Lula a partir de janeiro de 2025.
"O nervosismo recente do mercado mostra que a necessidade de um ajuste fiscal para conter a trajetória ascendente da dívida pública é uma agenda urgente para o governo a partir de janeiro", escreveu Meirelles, que chamou atenção para seu trabalho como ministro da Fazenda de Michel Temer (2016-2018) ao destacar os motivos pelos quais a economia se acelerou nos últimos dois anos.
"Está claro que um controle de despesas será determinante em 2025. O crescimento deste ano é, em parte, devido ao aumento de produtividade ocasionado pelas reformas no governo Temer", comentou, destacando que "o PIB se expande a uma taxa de 3,4% em relação ao ano anterior e a taxa de desemprego está na casa de 6%, baixa para nossos padrões históricos".
"Não dura para sempre"
O problema, segundo Meirelles, é que o crescimento "foi também resultado do consumo do governo, dinheiro público injetado na economia por meio de benefícios sociais, precatórios e outras despesas". "Teve efeito em 2024, mas isso não dura para sempre", alertou.
O ex-presidente do Banco Central também destacou que a instituição, que passará a ser comandada por Gabriel Galípolo, indicado por Lula, "cumpre sua missão de tentar ancorar expectativas e trazer a inflação para a meta" com a elevação de um ponto percentual na Selic e o aviso de que fará duas elevações da mesma intensidade nas reuniões do início de 2025.
"A questão é que o mercado enxerga nos comunicados que o BC está sozinho na missão e que o governo não atuará na mesma direção. Há mais política monetária e menos política fiscal do que se esperava", apontou Meirelles.
"O que acalmará o mercado"
O ex-presidente do BC finaliza o artigo dizendo que a recente venda de dólares pela instituição, a maior desde 1999, "foi compreensível, mas a norma é que elas não devem ser usadas como remédio de curto prazo para debelar sintomas".
"O que acalmará o mercado e colocará as coisas no devido lugar é um conjunto de atitudes do governo para gastar menos e conter a alta da dívida pública", finaliza Meirelles.
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