O projeto para anistiar presos por participação nos atos antidemocrĂĄticos e financiadores do 8 de Janeiro virou uma pauta crucial da direita brasileira ligada ao bolsonarismo. O grupo vĂȘ a possibilidade de reverter a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com a proposta, mas além disso, quer usar o tema para chegar mais fortalecido nas eleições de 2026.
Atualmente a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados tem uma bancada de oposição maior do que de governistas, o que faz com que o colegiado tenha se tornado uma espécie de "mĂĄquina" de aprovação de bandeiras defendidas pela ala política ligada a Bolsonaro. Recentemente, o colegiado aprovou um pacote de propostas para retaliar o Supremo Tribunal Federal (STF), considerado um "inimigo" pela ala mais radical do PL, o que mostra que hĂĄ votos para avançar com a anistia.
A comissão é presidida pela deputada Carol de Toni (PL-SC), que tem como meta principal terminar o ano com a aprovação do projeto de lei (PL) nÂș 2858/2022, conhecido como PL da Anistia. A pauta tem tanta relevância para os bolsonaristas, que entrou como condição para o apoio do partido a um candidato a presidente da Câmara. A bancada é a maior da Casa, com 92 deputados.
Uma ala da Câmara defende que o atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), resolva o tema ainda em sua gestão, que acaba em fevereiro de 2025. Na prĂĄtica, Lira tem até dezembro para levar ou não a proposta a plenĂĄrio antes do fim da sua presidĂȘncia.
A defesa desse caminho é feita inclusive dentro da campanha de Hugo Motta (Republicanos-PB), candidato de Lira à sucessão, com o objetivo de não contaminar a eleição da casa com uma pauta ideológica.
Bolsonaristas veem no Congresso um caminho mais fĂĄcil do que no JudiciĂĄrio para que Bolsonaro volte a poder disputar as eleições de 2026. Mas o caminho não é simples: além de aprovar na Câmara, o projeto teria que passar no Senado. Depois teria que ser sancionado pelo governo Lula, o que aliados de Bolsonaro reconhecem que não acontecerĂĄ.
Mesmo que o Congresso derrubasse o veto do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva (PT) ao texto, a cúpula da CCJ avalia que o STF derrubaria a proposta assim que houvesse alguma contestação na Corte.
Apesar do cenĂĄrio adverso, o grupo aliado ao ex-presidente estĂĄ disposto a usar o tema como um mote até a campanha de 2026.
O que diz o PL da Anistia?
O projeto original é de autoria do ex-deputado Major Vitor Hugo (PL-GO) e tem outras seis propostas de teor semelhante apensadas, que ampliam a anistia a envolvidos em manifestações de "carĂĄter político".
O texto da anistia é relatado pelo deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), que deixou o texto sem clareza sobre qual serĂĄ o limite do benefício. O congressista colocou no texto que a anistia serĂĄ concedida a todos que participaram de eventos subsequentes ou eventos anteriores aos fatos acontecidos em 8 de janeiro de 2023, desde que mantenham correlação com o perdão aos condenados do 8 de Janeiro.
No relatório, Valadares prevĂȘ que ficariam anistiados todos os que participaram de manifestações com motivação política e/ou eleitoral, ou as apoiaram, por quaisquer meios, inclusive contribuições, doações, apoio logístico ou prestação de serviços e publicações em mídias sociais e plataformas de 8 de janeiro de 2023 até a lei entrar em vigor.
Naquela data, manifestantes invadiram os TrĂȘs Poderes da República e quebraram os prédios do Congresso Nacional, o PalĂĄcio do Planalto e o STF.
Segundo o Código Penal brasileiro, anistia é uma forma de apagar os crimes cometidos por determinadas pessoas ou grupos.
A Constituição federal proíbe que crimes hediondos sejam beneficiados com anistia. Mas, no caso dos condenados do 8 de Janeiro, os crimes imputados são os de associação criminosa, ação contra o Estado DemocrĂĄtico de Direito, tentativa de golpe de Estado e dano e deterioração do patrimônio público.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/