23/11/2024 +55 (83) 98773-3673

Jovem na PolĂ­tica

Andre@zza.net

Quem são e o que pensam gays, lésbicas e trans de direita

Eles criticam a esquerda e o movimento LGBT+, manifestam-se contra pautas de gĂȘnero e apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro

Por Redação 12/06/2023 às 08:36:43

Militantes travestidos de professores universitĂĄrios criaram o imaginĂĄrio segundo o qual gays e outras minorias não podem ser de direita. A imprensa engajada acrescentou à fantasia que LGBTs odeiam o ex-presidente Jair Bolsonaro e políticos conservadores. Essa versão, contudo, não resiste aos fatos. O advogado Dom Lancellotti, 34 anos, por exemplo, é homossexual e comanda o grupo Gays Conservadores do Brasil. Até pouco antes da eleição, chamava-se "Gays com Bolsonaro", inspirado no "Gays for Trump". Hoje, jĂĄ tem quase 65 mil seguidores no Instagram.

"Bolsonaro não é homofóbico nem tem qualquer tipo de preconceito contra gays", afirmou Lancellotti, que tem fotos com o ex-presidente em suas redes sociais. "O que ele não apoia é a militância de pautas que considera ruins para a sociedade. Além disso, antes e depois da chegada dele ao PalĂĄcio do Planalto, houve uma campanha difamatória muito pesada liderada por partidos de esquerda que usaram o movimento LGBT+ para demonizar o adversĂĄrio deles. E essa imagem, infelizmente, acabou ficando na cabeça."

O advogado Dom Lancellotti | Foto: Divulgação

Lancellotti disse ainda que o movimento LGBT+ deveria se preocupar com pautas realmente relevantes para a causa, como a perseguição a gays promovida em países como Uganda, Cuba e ditaduras socialistas, além de se opor a partidos no Brasil que defendem esses regimes. Em vez disso, o ajuntamento promove pautas identitĂĄrias, como a ideologia de gĂȘnero nas escolas, explicou o líder do Gays Conservadores do Brasil. "O movimento LGBT+ estĂĄ completamente perdido e não sabe o que fazer", observou.

Influenciadores digitais

A paulista Suellen Rayanne, 24 anos, é trans e influenciadora digital. Nas redes sociais, apresenta-se como bolsonarista, conservadora e crítica de pautas que vĂȘ como "desnecessĂĄrias e prejudiciais à sociedade". Suellen publica uma série de vídeos no TikTok e no Instagram expondo seus pensamentos sobre vĂĄrios assuntos. Um dos temas que comenta é o uso de banheiros femininos por pessoas trans. Conforme Suellen, essa possibilidade abre margem para homens mal-intencionados se aproveitarem de uma mulher biológica, seja ela adulta ou menor de idade.

trans de direita
Suellen Rayanne considera-se trans de direita. Digital influencier, comenta vĂĄrios temas nas redes sociais | Foto: Reprodução/Instagram

"Isso sem contar os olhares estranhos que o LGBT recebe, gerando um constrangimento desnecessĂĄrio para ele e as mulheres que frequentam o local", ponderou. "A sociedade não é obrigada a aceitar esse tipo de coisa. Defendo a criação de um terceiro banheiro." Suellen também se manifesta contra a participação de mulheres trans no esporte feminino. "É uma invasão que precisa ser contida. As mulheres demoraram para conseguir esse espaço."

HĂĄ poucos meses, a pauta trans tomou conta do noticiĂĄrio, depois de o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) proferir um discurso no Parlamento em defesa das mulheres. Vestido com uma peruca, ele evocou o "lugar de fala" das pessoas trans para criticar o que chamou de "ocupação de espaços femininos por homens biológicos". As declarações se tornaram alvo até de pedidos de cassação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Ao mesmo tempo, Ferreira recebeu a solidariedade de outras pessoas, entre elas, homossexuais e outras pessoas LGBT+.

É o caso do maquiador gay ClĂĄudio Borges (conhecido nas redes sociais como ClĂĄudio Makeup), 30 anos. Borges gravou um vídeo em defesa de Ferreira e despertou a ira da esquerda. Pouco depois, recebeu uma enxurrada de ataques no Instagram e chegou a ser ameaçado de morte por membros do movimento LGBT+, além de gente do próprio trabalho. "Fiquei horrorizado", disse. Borges se identifica como de direita, admirador de Bolsonaro e gosta de ler livros do filósofo Olavo de Carvalho.

proibido ser hétero
ClĂĄudio Makeup destoa do senso comum a respeito do movimento LGBT | Foto: Divulgação/Instagram

Para Borges, o grupo é "uma bolha e um sistema tirânico de pensamento único" que põe correntes em seus seguidores. "Todos tĂȘm de concordar com todos, mesmo que algo esteja errado", constatou. "Não hĂĄ divergĂȘncia. Se vocĂȘ pensar diferente, é chamado de homofóbico, transfóbico, entre outros "fóbicos". Falam sobre homofobia e que são alvos de ataques da "sociedade", porém, as ameaças que recebi vieram de gente de dentro do movimento. Nunca fui atacado por pessoas de direita." Borges diz temer que, em breve, "seja proibido ser hétero".

Estrelas da política

Além de existirem na ĂĄrea do Direito e nas redes sociais, os gays de direita estão na política. A vereadora lésbica Jessicão, 30 anos, chegou à Câmara Municipal de Londrina para combater a ideologia de gĂȘnero nas escolas. "Criança tem de aprender portuguĂȘs e matemĂĄtica na escola", constatou. Recentemente, Jessicão abraçou a luta contra o uso de banheiros femininos por pessoas trans, e também sofreu ameaças de esquerdistas e de integrantes do movimento LGBT+, em razão de suas bandeiras.

Indiferente à política até 2016, Jessicão descobriu ser de direita em meio às manifestações pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. À época, Jessicão era mototĂĄxi e, ao levar clientes até os atos, passou a se interessar por ele. Depois disso, entrou em movimentos conservadores e não saiu mais, até que, em 2020, decidiu se lançar candidata e conseguiu uma vaga na Câmara.

Nikolas Ferreira
A vereadora Jessicão, de Londrina (PR), e o deputado federal Nikolas Ferreira (MG) | Foto: Reprodução/Instagram

"Não é porque vocĂȘ é homossexual que tem de ser de esquerda, ter privilégios e viver uma vida devassa", ensinou Jessicão, casada hĂĄ seis anos. "A direita representa muito mais gente, porque ela é liberdade, preservação de valores necessĂĄrios para a sociedade e o verdadeiro progresso." Jessicão disse ser necessĂĄrio mais pessoas de direita na política, de modo a defender os interesses desse público, hoje escanteado das universidades, da grande mídia e do show business. "Precisamos ocupar espaços", disse.

A visão de Jessicão vai na linha de pensamento do ex-deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos). Conservador, ele critica o que chama de "falta de pudor" nas passeatas gays. "Não tenho orgulho nenhum de ser gay, mas também não tenho vergonha", disse. "Penso que a minha orientação sexual não define quem sou, e sim os meus atos para com os outros." Ele apoia ainda a ocupação de espaços por parte dos conservadores, que precisam ganhar mais visibilidade e força de ação na tomada de decisões.

O então deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos), durante discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo | Foto: Alesp

Cético quanto à mudança de postura do movimento LGBT, ele vĂȘ como "essencial" a criação de outras iniciativas que representem esse público no movimento conservador. Ele diz, contudo, que hĂĄ uma barreira ser ultrapassada. "Se queremos mudanças, precisamos abrir a cabeça, e isso serve para a direita também", observou. "O movimento de mulheres teve dificuldades para entrar no meio conservador, e isso não pode acontecer." Fora do Legislativo depois de não conseguir a reeleição para a Assembleia Legislativa de São Paulo no ano passado, Garcia pretende prosseguir com a luta contra a ideologia de gĂȘnero na escola e outras pautas nesse sentido. "Às vezes, é preciso dar um passo para trĂĄs para, depois, saltar mais longe", disse.

Fonte: Revista Oeste

Comunicar erro
ComentĂĄrios