Pacientes que receberam órgãos transplantados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio de Janeiro foram infectados por HIV. As informações foram confirmadas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES). Segundo as SES, o caso é "sem precedentes e inadmissível". De acordo com o Ministério da Saúde, que também se manifestou, até o momento, houve a confirmação de infecção por HIV de dois doadores e seis receptores, que testaram positivo.
A Secretaria e o
Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) informaram
que abriram sindicâncias para identificar e punir os responsáveis. O Ministério
Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Polícia Civil abriram inquéritos
para investigar o caso.
Tanto a SES quanto o
Ministério da Saúde reforçaram a segurança de toda a rede que envolve a
realização de transplante no país. Segundo a pasta, o Sistema Nacional de
Transplantes é reconhecido como um dos mais transparentes, seguros e
consolidados do mundo. "Existem normas rigorosas que visam proteger tanto
os doadores quanto os receptores, garantindo que os transplantes realizados no
país mantenham um alto nível de confiabilidade", afirma o ministério em
nota.
O Sistema Nacional de
Transplantes é considerado o maior programa público de transplante de órgãos,
tecidos e células do mundo. Ele é garantido a toda a população por meio do SUS,
que, por sua vez, é responsável pelo financiamento de cerca de 88% dos
transplantes no país, segundo dados do Ministério da Saúde.
Laboratório privado
As infecções
ocorreram após testes feitos por um laboratório privado, o PCS. O laboratório
foi contratado pela Fundação Saúde, sob a responsabilidade da SES para
atendimento ao programa de transplantes no estado, não acusarem a presença do
vírus. O PCS teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado
cautelarmente, de acordo com a Secretaria. Com isso, os exames passaram a ser
realizados pelo Hemorio.
O Ministério da Saúde
determinou a instalação de auditoria urgente pelo Departamento Nacional de
Auditoria do SUS no sistema de transplante do Rio de Janeiro, e a apuração de
eventuais irregularidades na contratação do referido laboratório, dentre outras
providencias.
Situação gravíssima
A SES afirma, em nota
que esta é uma situação sem precedentes. "O serviço de transplantes no
estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde
2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas", diz o texto.
A Secretaria informou
que abriu sindicância "para identificar e punir os responsáveis". Foi
também criada uma comissão multidisciplinar para acolher os pacientes afetados
e que, imediatamente, "foram tomadas medidas para garantir a segurança dos
transplantados".
A Secretaria está
rastreando, com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos
doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.
O Cremerj disse,
também em nota, que considera a situação gravíssima e que instaurou
sindicância, nesta sexta-feira (11), para apurar as denúncias. "A situação
é gravíssima e o Cremerj reafirma seu compromisso de apurar os fatos com todo o
rigor. A segurança dos pacientes é fundamental para garantir o bom exercício da
medicina no estado do Rio de Janeiro e supostas falhas desse tipo são
inaceitáveis", disse na nota o presidente do Cremerj, Walter Palis.
Investigações
O MPRJ, por meio da
5ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Saúde da Capital, instaurou um
inquérito civil para investigar o caso. Segundo o órgão, o procedimento está
sob sigilo.
O MPRJ informou,
ainda, que se colocou à disposição para ouvir as famílias afetadas, receber
denúncias de quem se sentir lesado e prestar atendimento individualizado às
partes envolvidas.
A Polícia Civil
também determinou a instauração de inquérito para apurar o ocorrido. Segundo o
órgão, a investigação já está em andamento.
Sindicância interna
Em nota, o
laboratório PCS Lab afirmou que abriu sindicância interna para apurar as
responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes
transplantados e assegurou que se trata de um episódio "sem precedentes na
história da empresa, que atua no mercado desde 1969".
O laboratório diz
ainda que informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os
exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º
de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à
Fundação de Saúde do Governo do Estado.
Nesses procedimentos
foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
"O PCS Lab dará
suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus
familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais,
sanitárias e de classe que investigam o caso", diz o laboratório.
* Texto atualizado às 17h11 para acréscimo do posicionamento do
laboratório citado.
Fonte: Agencia Brasil