O desempenho de Guilherme Boulos (PSOL) na pesquisa Datafolha entre eleitores que poderiam ser influenciados pela entrada de Lula (PT) na campanha frustrou expectativas de seus aliados. Eles esperavam que o candidato avançasse entre os eleitores de menor renda, o que agora pode exigir uma participação mais ativa do presidente na campanha.
Boulos obteve 23% das intenções de voto no cenário geral, tecnicamente empatado em primeiro lugar com Pablo Marçal (PRTB), que tem 22%, e Ricardo Nunes (MDB), também com 22%. A margem de erro da pesquisa, divulgada na quinta-feira (5), é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
No segmento de eleitores com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, os números foram menos favoráveis. Na pesquisa anterior, realizada em meados de agosto, os três candidatos tinham 18%. No entanto, na pesquisa mais recente, houve uma divergência, com Nunes atingindo 28%, Boulos 19%, e Marçal 17%.
Este segmento representa 32% do eleitorado, e a margem de erro é de cinco pontos percentuais, o que indica um empate técnico. No entanto, a tendência positiva de Nunes contradiz a avaliação de líderes do PSOL e do PT, que esperavam que eleitores com inclinações mais à esquerda favorecessem o candidato de Lula.
Desde 16 de agosto, quando a campanha começou oficialmente, a ligação de Boulos com o presidente Lula foi intensificada. Lula esteve em São Paulo para dois comícios no dia 24 e também foi a principal figura do primeiro programa eleitoral de Boulos no dia 30.
A estratégia para garantir a passagem de Boulos ao segundo turno envolve reforçar a conexão com o PT, que, pela primeira vez na redemocratização, não apresenta candidato próprio na capital. A vice de Boulos é a ex-prefeita Marta Suplicy, do PT.
A equipe de campanha minimiza o revés e acredita que ainda há espaço para crescimento. Eles citam, por exemplo, o dado do Datafolha de que 42% da população de São Paulo se identifica como petista, um percentual que, em tese, poderia ser convertido. Atualmente, Boulos registra 45% de intenção de voto entre os simpatizantes do PT.
Entre os entrevistados que afirmam ter votado em Lula no segundo turno de 2022 contra Jair Bolsonaro (PL), Boulos marca 43%, dividindo espaço com Nunes, que tem 19%, e Tabata Amaral (PSB), com 12%. Os esforços agora se concentram em reforçar o alinhamento com o presidente.
A campanha do PSOL justifica o ritmo de adesão abaixo do esperado com o argumento de que o eleitor pobre e morador da periferia só agora está se informando sobre a campanha e ainda não sabe que Boulos é o candidato apoiado por Lula, que sua vice é Marta Suplicy, e que Bolsonaro apoia Nunes.
Uma frase comum é que o PT "é um partido de chegada", no sentido de que a afluência de votos para o partido em outras eleições aumentou consideravelmente nas vésperas da votação, com a adesão dos eleitores cativos. Também se diz que grupos como o de mulheres tendem a decidir seu voto na reta final.
A ofensiva para atrair o público com maior potencial de votar em Boulos inclui a volta de Lula à cidade em três ocasiões para novos eventos, segundo a previsão da campanha. Além de comícios, está sendo avaliada a possibilidade de realizar caminhadas e outras atividades perto do primeiro turno.
Outra estratégia é a propaganda de TV, com a avaliação de que ela tem maior impacto sobre os eleitores de baixa renda em São Paulo. O desafio é reforçar a ligação com Lula, relembrar as realizações da gestão de Marta Suplicy e apresentar propostas, mesmo com um tempo de TV significativamente menor do que Nunes, que possui 65% do tempo total.
O domínio de Nunes na propaganda televisiva foi apontado pela campanha de Boulos como um dos motivos pelos números favoráveis do emedebista na pesquisa. Apesar de parte de sua base ter migrado para Marçal, Nunes teve uma oscilação positiva de três pontos no cenário geral e manteve-se competitivo.
Nos últimos dias, Boulos adotou o termo "resiliência" para enfatizar sua permanência em primeiro lugar nas pesquisas por um ano, mesmo que tecnicamente empatado em alguns casos. Ele também tem afirmado que pretende realizar uma "campanha quente" nas próximas semanas, destacando o embate com o bolsonarismo, que ele vê representado tanto por Nunes quanto por Marçal.
Outros dados da pesquisa Datafolha foram destacados por seus correligionários para demonstrar a solidez de sua candidatura. Um deles é a estagnação de sua rejeição em 37%, considerada um feito diante das tentativas de seus adversários de rotulá-lo como invasor e atacá-lo com mentiras.
Também foi mencionado que 75% dos eleitores de Boulos estão totalmente decididos em relação ao voto, um nível de convicção que indica um patamar consolidado. Ele é ainda o candidato com maior grau de afinidade entre seus eleitores, com 39% deles declarando-se comprometidos com o deputado.
Sobre o descompasso com o eleitorado de Lula, há relatos de membros da coordenação de que pesquisas internas (os chamados trackings) apresentam resultados mais otimistas do que os coletados pelo Datafolha, com maior identificação de Boulos como o candidato de Lula e uma conversão superior.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/