Recentemente
me fizeram a seguinte pergunta: Hugo, por que todo mundo diz que dados são o
novo petróleo? Eu, como especialista em Big Data e Inteligência Artificial,
respondi que essa comparação faz todo o sentido. Em discussões sobre o assunto,
sempre pontuo que assim como o petróleo alimentou as indústrias do século
passado, os dados movem a economia de hoje, são tão valiosos quanto e também
precisam ser extraídos e refinados para se tornarem úteis.
A diferença é que, ao contrário do combustível, os dados estão
por toda parte – nos celulares, nas compras, nos apps de transporte e,
principalmente, nas redes sociais. Além disso, é um recurso infinito e
abundante e o poder está nas mãos de quem sabe usá-lo.
O que isso quer dizer? As empresas de hoje não estão apenas
focadas em vender produtos, mas em entender o comportamento do cliente com um
nível de precisão que há poucos anos seria impensável. Elas conseguem analisar
o que você gosta de consumir, a frequência com que faz isso e até prever o que
você pode querer comprar no futuro. Com o Big Data, um varejista consegue, por
exemplo, ajustar o estoque em tempo real para atender à demanda específica de
cada loja. O serviço de streaming sabe exatamente quais filmes sugerir para
você, com base no que você já assistiu. E aquilo que você tanto deseja,
aparecerá como mágica em forma de propaganda, em cada site acessado.
Os governos também estão investindo pesado nessa tecnologia,
para tomar decisões mais inteligentes e, até mesmo, manipuladoras. Imagine uma
cidade que, ao analisar dados sobre o trânsito, ajuste a sinalização em tempo
real para reduzir congestionamentos. Ou que use informações climáticas para
preparar melhor a população em caso de desastres naturais, permitindo respostas
rápidas e precisas.
Esse poder transformador dos dados vem de uma junção entre
volume, velocidade e variedade de informações. E, para dar sentido a tudo isso,
entram em cena algoritmos e inteligência artificial. É como se tivéssemos
milhões de peças de quebra-cabeça e, com a IA, conseguimos não apenas montar a
imagem, mas também entender o que ela significa e como pode nos ajudar a agir
melhor no futuro. Com esses recursos, as empresas e organizações conseguem
extrair insights que geram valor e otimizam a tomada de decisão.
Porém, nem tudo é simples. Com esse poder vem uma
responsabilidade enorme, e aqui entram os desafios éticos. Quem detém os dados?
Como essas informações estão sendo usadas? Quando você compartilha sua
localização, por exemplo, espera que ela seja usada para maximizar aquele
serviço que está usando no momento e não que essa informação seja vendida a
terceiros sem o seu conhecimento. A transparência no uso de informações e a
proteção da privacidade são tópicos essenciais nessa discussão, mas muitas
vezes, são deixados de lado em nome da inovação e do lucro.
Esse cenário levanta questões sobre a regulação e o uso ético
dos dados. Uma coisa é certa: à medida que o Big Data se torna o centro das
decisões econômicas e sociais, mais importante se torna a criação de diretrizes
e políticas que protejam o cidadão e garantam que o uso desses dados seja feito
de forma justa e responsável. Se empresas e governos não se comprometerem com a
privacidade e a segurança das informações, o risco de abuso aumenta e, com ele,
a desconfiança da população.
No fim das contas, o Big Data é sim o novo petróleo e também um
recurso que exige cuidado. O potencial de transformação econômica e social é
gigantesco, mas é essencial que os dados sejam tratados com responsabilidade.
Não se trata apenas de agilidade, ganhos e lucros e sim de como podemos usar
essa ferramenta poderosa para construir um futuro melhor e mais justo.
*Hugo Stobienia Wannmacher é Técnico de Processamento de Dados,
com mais de 25 anos de experiência em construção e administração de sistemas
complexos de bancos de dados, sendo especialista em Big Data e Inteligência
Artificial.