A Polícia Federal cumpriu nessa
quinta-feira (11) cinco mandados de prisão preventiva contra pessoas que teriam
participado de um suposto esquema de espionagem ilegal com a estrutura da
AgĂȘncia Brasileira de InteligĂȘncia (Abin).
A corporação também cumpriu sete
mandados de busca e apreensão em quatro estados e no Distrito Federal. Os
mandados foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A ação policial ocorreu nas cidades de
Brasília, Curitiba, Juiz de Fora (MG), Salvador e São Paulo. O procurador-geral
da República, Paulo Gonet, se manifestou contra as prisões de cinco
investigados.
Os membros do esquema ilegal de
espionagem com a estrutura da agĂȘncia rastrearam autoridades públicas como
os ministros do STF Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luis Roberto Barroso e
Luiz Fux e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). As informações constam
no relatório da investigação da Polícia Federal sobre o caso.
A Polícia Federal também identificou
que servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
(Ibama) foram monitorados pelo esquema, bem como jornalistas. Segundo a
corporação, Mônica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar
Batista foram espionados.
Sobre a espionagem a ministros do STF,
a Polícia Federal disse que "as ações direcionadas aos ministros da Suprema
Corte em razão do exercício de suas funções além de atos de embaraçamento de
investigações, também perfazem atos que atentam contra o livre exercício do
Poder JudiciĂĄrio".
Com relação a Moraes, os membros do
grupo montaram um dossiĂȘ para relacionar o ministro do STF com um delegado de
Polícia Civil investigado por corrupção. A Polícia Federal diz que os
integrantes do esquema usaram moeda estrangeira (dólar ou euro) para pagar por
um sistema ilegítimo para monitorar Moraes.
Ăudio
A Polícia Federal também obteve um
ĂĄudio de uma reunião em 2020 entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o
ex-diretor da AgĂȘncia Brasileira de InteligĂȘncia (Abin), Alexandre Ramagem. Na
gravação, os dois discutem medidas contra supostas irregularidades cometidas
por auditores da Receita Federal na elaboração do relatório final das
investigações sobre desvio de parte dos salĂĄrios dos funcionĂĄrios do gabinete
de FlĂĄvio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj),
durante seu mandato como deputado estadual.
Também no documento, a PF mostra uma
conversa de dois investigados na operação discutindo ações consideradas
violentas contra o ministro Alexandre de Moraes, como um "tiro na cabeça" dele.
O diĂĄlogo foi entre Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues, que
faziam parte do esquema de espionagem ilegal com o sistema da Abin e foram
presos.
A conversa gira em torno de uma decisão
de Moraes que afastou o delegado que investigava um ataque hacker ao Tribunal
Superior Eleitoral. Houve até mesmo um pedido de impeachment. "TĂĄ ficando f***
isso. Esse careca tĂĄ merecendo algo a mais", disse um. Outro investigado cita
"7.62?, se referindo a calibre de munição de arma. Um outra pessoa afirma "head
shot", que em portuguĂȘs significa "tiro na cabeça".
Garimpo
O relatório mostra ainda que
a Polícia Federal indicou que o empresĂĄrio Luís Felipe Belmonte teria
atuado junto ao PalĂĄcio do Planalto durante o mandato do ex-presidente Jair
Bolsonaro para obter um "decreto para regulamentar" o garimpo ilegal em terras
indígenas.
Segundo a corporação, Belmonte levou
uma proposta a Bolsonaro e disse que recebeu um pedido para preparar o decreto.
Ao R7, parceiro nacional do Portal Correio, Belmonte negou que a
conversa tenha acontecido. A reportagem tenta contato com a defesa do
ex-presidente.
No relatório, a PF cita uma suposta
frase de Belmonte que consta em outro inquérito da corporação. "Quanto aos
indígenas, levei a proposta ao presidente. Foi pedido que eu prepare o decreto.
Provavelmente ainda este ano começaremos a extração", teria dito o empresĂĄrio.
Segundo a corporação, Belmonte teria recorrido ao governo federal para a
obtenção de decreto para regulamentar à cata, faiscação e garimpagem em terras
indígenas.
Ao R7, Belmonte afirmou que
nunca existiu nada parecido e que "não tem o menor sentido, nem lógico, nem
prĂĄtico, nem legal e nem constitucional essa alegação".
Como funcionava programa espião
A operação da Polícia
Federal desta quinta-feira apurou o uso do programa First Mile para
o monitoramento ilegal de autoridades públicas. O software permitiu que os
envolvidos no esquema fizessem vigilância de milhares de pessoas.
Segundo a PF, em dois anos e meio a ferramenta foi acessada ao menos 60 mil
vezes.
Segundo a Polícia Federal, para acionar
o sistema de geolocalização e ter acesso às informações das pessoas, bastava
digitar o número do celular. A aplicação também criava históricos de
deslocamento e alertas em tempo real da movimentação dos aparelhos cadastrados.
O software consegue monitorar cerca de 10 mil celulares por até 12 meses.
Em fevereiro deste ano, a Anatel
(AgĂȘncia Nacional de Telecomunicações) abriu uma investigação para apurar se as
operadoras de telefonia sabiam do possível monitoramento ilegal. "A agĂȘncia
informa ter requerido informações à Polícia Federal que possam contribuir para
a continuidade das apurações", ressaltou à época. O R7 entrou
em contato com a agĂȘncia para saber se existe alguma nova informação e aguarda
resposta.
Fonte: Portal Correio