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Câmara aprova urgência de PL que equipara aborto a homicídio

Com a medida, texto deve ser votado diretamente no plenĂĄrio da Casa

Por Redação 13/06/2024 às 09:19:05

Câmara aprova urgência de projeto que equipara aborto realizado após 22 semanas a homicídio Foto: Freepik/Racool_studio

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (5), a urgĂȘncia de votação para um projeto de lei que equipara ao crime de homicídio o aborto realizado após 22 semanas de gestação e com viabilidade do feto, mesmo quando a mulher grĂĄvida tenha sido vítima de estupro, em uma iniciativa de enfrentamento ao Supremo Tribunal Federal (STF). A votação aconteceu de modo simbólico e sem que o nome do projeto fosse citado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Alguns parlamentares sequer perceberam o que estava sendo definido. Houve reclamações sobretudo do PSOL, que é contrĂĄrio à iniciativa.

O projeto tem o apoio da Frente Parlamentar AgropecuĂĄria (FPA), da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) e da bancada da bala, trĂȘs dos grupos mais conservadores do Legislativo brasileiro. A votação de urgĂȘncia acelera a tramitação do projeto.

Com a urgĂȘncia aprovada, a matéria é analisada diretamente no plenĂĄrio, sem precisar passar antes por discussões em comissões temĂĄticas da Câmara. A expectativa do autor da proposta, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), e do presidente da FPE, Eli Borges (PL-TO), é que o mérito seja votado na semana que vem.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), porém, disse nesta terça-feira que o compromisso que fez foi apenas de pautar o requerimento de urgĂȘncia do projeto.

– Nada é reação a nada. A bancada evangélica, cristã, católica tem essa pauta antiaborto na Casa. Não é novidade para ninguém. Eu apenas comuniquei no colégio de líderes que havia sido feito um pedido de votação de urgĂȘncia de um projeto para se discutir o tema – disse o presidente da Câmara a jornalistas.

Essa é mais uma frente de confronto entre a ala conservadora do Congresso Nacional contra o STF. Em maio, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes determinou a suspensão da resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proibia médicos de realizarem o procedimento de assistolia fetal em gestações com mais de 22 semanas resultantes de estupro.

A técnica, feita em casos de aborto legal, consiste na injeção de uma substância que provoca a morte do feto para que depois ele seja retirado do útero da mulher. A resolução dificulta a interrupção da gestão, jĂĄ que o método é considerado essencial para o procedimento.

O CFM entrou com recurso e afirmou que o processo deveria ter sido distribuído ao ministro Edson Fachin, que jĂĄ é relator de uma ação sobre o aborto legal e, na avaliação da entidade, tem preferĂȘncia para julgar o caso.

O presidente da bancada evangélica, Eli Borges (PL-TO), disse que se encontrou com Lira e vĂȘ que é uma pauta para ser resolvida com "urgĂȘncia", em resposta ao STF.

– É uma pauta que tem que ser resolvida com urgĂȘncia pela decisão monocrĂĄtica de Alexandre de Moraes, que faz um contraponto à decisão do Conselho Federal de Medicina, houve uma compreensão dele e dos líderes que temos que resolver isso no Legislativo, até porque esse é o foro ideal para resolver isso. Esse Parlamento é conservador – afirmou Eli.

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), uma das principais articuladoras da iniciativa, também comentou.

– Quando os médicos decidem, por que o Congresso tem que obrigar, por que o STF tem que obrigar? Aqui vai imperar o bom senso. Tem partido que quer matar bebĂȘ? Em outros assuntos, a gente até senta para negociar. Com relação à vida, não tem concessão – disse Damares.

Ela crĂȘ que a proposta deve tramitar sem demais problemas e que o Centrão endossarĂĄ a proposta encabeçada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

– Chegando aqui [no Senado], vai ser imediata [a entrada do projeto em pauta]. Eu jĂĄ até sugeri obstrução se não passar logo – concluiu.

Caso a matéria seja aprovada, o aborto nos casos em que a gestação ultrapassar 22 semanas e houver viabilidade do feto para a ser homicídio simples. O Código Penal determina atualmente prisão de um a trĂȘs anos para quem realiza aborto fora dos casos previstos em lei. Para homicídio simples, a pena é de seis a 20 anos de reclusão.

– O juiz poderĂĄ mitigar a pena, conforme o exigirem as circunstâncias individuais de cada caso, ou poderĂĄ até mesmo deixar de aplicĂĄ-la, se as consequĂȘncias da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessĂĄria – diz um trecho do projeto de lei.

O projeto faz parte da chamada "pauta de costumes" capitaneada pela oposição no Congresso e desagrada ao governo Lula e sua base de apoio de esquerda. A aprovação do texto seria mais um revés para o PalĂĄcio do Planalto dias após a sessão de anĂĄlise de vetos que gerou uma série de derrotas do Executivo.

Temeroso do revés, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), jĂĄ se afastava da discussão no dia anterior à votação.

– Isso não é assunto de governo – disse na terça-feira.


Fonte: *AE

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