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AGORA: CCJ da Câmara aprova PEC que criminaliza porte de qualquer quantidade de drogas

Por Blog do Elias Hacker 12/06/2024 às 15:54:00

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou nesta quarta-feira (12) uma Proposta de Emenda que inclui na Constituição a criminalização do porte e da posse de qualquer quantidade de droga.

A proposta foi aprovada por 47 votos a 17 na comissão. Agora, a proposta ainda deve passar por uma comissão especial e depois pelo plenĂĄrio da Câmara. O texto jĂĄ foi aprovado no Senado como uma reação ao avanço no Supremo Tribunal Federal (STF) de um julgamento que pode descriminalizar o porte de maconha, em pequena quantidade, para uso pessoal.

A PEC prevĂȘ a inclusão da criminalização no artigo da Constituição que trata dos direitos e garantias individuais. Para especialistas, isso pode criar ambiente para endurecer legislação e retomar prisão de usuĂĄrios (leia mais abaixo).

Na última semana, deputados contrĂĄrios ao projeto apresentaram o "kit obstrução" e adiaram a votação do projeto.

Nesta semana, entretanto, apesar da crítica de parte dos deputados, a proposta conseguiu avançar."A atual política de drogas é cara, ineficiente, provoca encarceramento em massa, violĂȘncia policial, genocídio sobre a juventude, negra e pobre, e não reduz a demanda, então é absolutamente ineficaz", disse o deputado Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ).

O relator da proposta, deputado Ricardo Salles (PL-SP), disse que o objetivo da proposta é endurecer a legislação para o usuĂĄrio. "É o usuĂĄrio que financia o trĂĄfico", disse. "Tem que haver uma bilateralidade de responsabilização entre quem vende e quem compra, portanto, esta é a lógica desta PEC".

Além de criminalizar o porte e a posse, a proposta prevĂȘ inserir na Constituição que deverĂĄ haver distinção entre traficante e usuĂĄrio. O usuĂĄrio terĂĄ penas alternativas à prisão.

Na prĂĄtica, a proposta repete o conteúdo jĂĄ existente na Lei de Drogas, em vigor desde 2006. Ela estabelece que é crime adquirir, guardar e transportar entorpecentes para consumo pessoal, mas não pune a prĂĄtica com prisão. São estabelecidas penas alternativas, como advertĂȘncia, prestação de serviços comunitĂĄrios e comparecimento a cursos educativos.

O objetivo é, então, dificultar que a regra seja alterada no futuro, uma vez que mudanças na Constituição demandam maior quantidade de votos para serem aprovadas em relação aos projetos de lei.

A lei não define qual a quantidade de substância que separa o traficante do usuĂĄrio, deixando a definição a cargo de uma avaliação que, na prĂĄtica, é subjetiva da Justiça. A PEC, por sua vez, repete o mesmo teor, sem definir critérios objetivos para diferenciar o consumo e o trĂĄfico.

Especialistas
Para além do embate entre JudiciĂĄrio e Legislativo sobre a descriminalização do porte de drogas, especialistas ouvidos pelo g1 dizem que a PEC reforça desigualdades e o estigma, além de manter potencial discriminatório em abordagens policiais.

Eles avaliam que a discussão promovida pelo Congresso, o mais conservador desde a redemocratização, e a proximidade das eleições municipais podem alavancar o populismo penal e provocar retrocessos na Lei de Drogas. Entre os problemas apontados pelos especialistas a respeito da PEC, estão o possível agravamento de situações como:

  • afastamento de pessoas que usam drogas da rede de saúde pública;
  • reforço de estigma sobre pessoas que usam drogas;
  • encarceramento excessivo e insustentĂĄvel;
  • aumento do potencial discriminatório das abordagens policiais;
  • a violĂȘncia contra a população negra e de favelas;
  • a elevação dos custos da Lei de Drogas aos cofres públicos;
  • quebra de compromissos internacionais e tratados pela garantia de direitos das pessoas que fazem uso de drogas.

Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br

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