O ex-policial militar Ronnie Lessa,
acusado de assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes
em março de 2018, afirmou à Polícia Federal, em delação premiada, que Marielle
era uma "pedra no caminho" dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, suspeitos de
serem os mandantes do crime. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, retirou o
sigilo da colaboração de Lessa nesta sexta-feira (7). "Foi feita a proposta, a
Marielle foi colocada como uma pedra no caminho. O Domingos, por exemplo, não
tem "papas na língua"", disse Lessa aos investigadores.
A delação de Lessa foi homologada
pelo STF em março deste ano. Segundo Lessa, ele se reuniu com os irmãos Brazão
três vezes para discutir o crime, com reuniões que duravam cerca de uma hora.
"O Domingos falava mais e o Chiquinho concordava. É uma dupla, um fala mais e o
outro só concorda", destacou. Os irmãos estão presos desde março, acusados de
envolvimento no assassinato da vereadora. O delegado Rivaldo Barbosa também foi
detido sob a mesma acusação. Chiquinho é deputado federal e foi expulso do
União Brasil após a prisão. Domingos é conselheiro do Tribunal de Contas do
Estado do Rio de Janeiro.
"O que deu pra entender é o seguinte:
a Marielle vai atrapalhar e nós vamos seguir isso aí, e, pra isso, ela tem que
sair do caminho", disse Lessa. Marielle e Chiquinho Brazão discordavam sobre um
projeto de lei relacionado a terrenos em áreas de milícias. Os irmãos
planejavam lucrar com a venda de dois loteamentos, dividindo os lucros com
Lessa como pagamento pelo crime.
"O que eu posso dizer é que eu ouvi
da boca do próprio Domingos e acordado com o próprio irmão [
] ele deixou bem
claro que o loteamento ia seguir. Era muito dinheiro envolvido, na época ele
falou em R$ 100 milhões, R$ 150 milhões. Realmente, as contas batem: R$ 100
milhões o lucro dos dois loteamentos, são quinhentos lotes de cada lado, é uma
coisa grande, são ruas, na verdade, é um mini bairro, é uma coisa gigantesca.
Então a gente tá falando de muita grana", afirmou Lessa. Ele receberia metade
dos loteamentos, totalizando cerca de R$ 50 milhões.
"A questão é, a princípio, terrenos,
a questão que ela [Marielle] disse que combateria seriam terrenos em
loteamentos ilegais, e de alguma forma ele [Domingos] deixou transparecer que,
principalmente, se fosse os deles", completou.
A defesa de Domingos Brazão afirmou
que as declarações são "mentirosas e não têm amparo em qualquer prova". "Não se
tem prova dos encontros, não se tem prova de contato entre o intermediário e os
Brazão, não tem prova de que houve a entrega de arma. Também não se tem prova
de que existiria um projeto ou intenção de instalação de um condomínio. É
apenas uma narrativa, sem comprovação", diz a nota.
Os advogados de Rivaldo Barbosa
declararam que Lessa mentiu "deliberadamente" na delação. "A disponibilização
veio tardiamente, mas ainda em tempo para que todos possam ver como Ronnie
Lessa mentiu deliberadamente. Pior, recebeu um prêmio antes do final da
corrida", informou a nota.
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