São Paulo — Nos últimos 12 meses, o senador paulista Alexandre Giordano
(MDB) gastou R$ 145,4 mil da cota parlamentar do Senado para abastecer quase 25
mil litros de combustível em postos de gasolina de São Paulo, volume suficiente
para dar cinco voltas na Terra ou cruzar o Brasil, do Oiapoque ao Chuí, 45
vezes.
O levantamento foi feito pelo Metrópoles a partir da prestação de contas
do parlamentar no Portal da Transparência do Senado e considerou o preço médio
do litro da gasolina de R$ 5,87, registrado pela Agência Nacional do Petróleo
(ANP) na segunda semana de maio, e um consumo de 10 km por litro.
As contas apontam que os valores foram gastos em 21 postos de gasolina
diferentes. A maior parte, R$ 69 mil, foi no Auto Posto Mirante, na zona norte
de São Paulo, base eleitoral de Giordano. Já R$ 66 mil foram pagos ao Auto
Posto Irmãos Miguel, estabelecimento da cidade de Morungaba, distante cerca de
480 quilômetros da capital.
Investigação no STF
Os gastos do senador paulista com gasolina, pagos pelo Senado, já motivaram uma
representação ao Ministério Público de São Paulo (MPSP), que remeteu a apuração
à Procuradoria-Geral da República (PGR) por causa do foro privilegiado de
Giordano no Supremo Tribunal Federal (STF).
A representação destacou que o senador juntou notas fiscais emitidas
pelo posto Auto Posto Mirante nos valores de R$ 3.940,78, em 19 de dezembro de
2022, e R$ 1.691,22, em 2 de janeiro de 2023. Os gastos feitos em um único dia
corresponderam a 507,61 litros de gasolina e 188,67 litros de diesel,
respectivamente, o que daria para encher o tanque de 12 carros.
No início deste ano, a PGR cobrou explicações de Giordano. "Diante desse
quadro, como providência inicial, visando o melhor deslinde da apuração,
mostra-se adequado franquear ao parlamentar noticiado a oportunidade para
prestar esclarecimentos acerca do caso", escreveu o vice-procurador Geral da República,
Hindemburgo Chateaubriand.
Em ofício ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, o senador
argumentou que os pagamentos "não se tratam de um abastecimentos único", e sim
gastos com combustível de "veículos relacionados ao mandato" de Giordano e
durante a "atividade parlamentar" no estado "ao longo de 15 dias".
A PGR considerou que os gastos estavam dentro dos limites mensais de
despesa com combustíveis dos gabinetes dos senadores, que é de R$ 15 mil
mensais e recomendou o arquivamento do caso em 18 de março. No mês passado, a
ministra Carmen Lúcia, do STF, mandou arquivar um processo contra o senador.
A apuração preliminar feita pela PGR, contudo, não analisou o acúmulo de
gastos com gasolina feitos pelo gabinete de Giordano em um período maior.
Ao Metrópoles, por meio de nota, o senador reafirmou os argumentos
apresentados ao MPF sobre efetuar pagamentos de abastecimentos em dias
diferentes em uma única data. "Os gastos com combustíveis são realizados nos
postos indicados por questões logísticas e seguem as normativas do Senado
Federal, sendo estritamente relacionados ao desempenho das atividades
parlamentares", diz a nota.
"Todas as despesas mencionadas estão diretamente ligadas ao cumprimento
do mandato, estando em conformidade com os regulamentos legais e normativos",
afirma a assessoria do senador.
Farra gastronômica
Giordano assumiu o mandato no Senado por São Paulo em 31 de março de 2021.
Empresário da zona norte da capital, ele era suplente do senado Major Olimpo
(PSL), morto naquele ano em decorrência da Covid-19.
Em junho do ano passado, outro levantamento feito pelo Metrópoles, sobre
os gastos do senador com alimentação, apontou que Giordano usou recursos
públicos para despesas como a compra de casquinhas de camarão e filé de cambucu
servidos em restaurantes com vista para o mar em Ubatuba, no litoral, além de
almoços em churrascarias com 21 cortes de carne e tiramisù de sobremesa. Na
época, ele não quis se manifestar sobre as despesas.
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