"Houve um equívoco, uma distância entre a palavra e a ação. Eu achei ele faria
uma espécie de governo de redenção nacional". É com essas duas frases que o
ex-presidente Michel Temer (MDB) classifica o que seria uma falta de ação e
"vontade política" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para fazer a
prometida "pacificação do país" neste terceiro governo.
A declaração de Temer foi divulgada neste domingo (12) em uma entrevista
concedida ao jornal O Estado de São Paulo, onde ele discute o desafio de unir o
país e a persistente polarização política, evidenciada semanalmente por
pesquisas de opinião pública que indicam um empate técnico entre aqueles que
aprovam e os que não aprovam o terceiro mandato de Lula.
Michel Temer, que afirma ter acreditado na capacidade do petista de
seguir em frente, alega que Lula não tem sido capaz de governar para todos os
brasileiros.
"Faltou ação. [
] [Eu achei que] ele declararia: "eu vou pacificar o
país", o que significa que você vai governar para todos os brasileiros. Não
significa que não haverá divergência", disse Temer.
Michel Temer pontuou, ainda, que "quando ele assumiu o governo, pensei:
"Ele vai dedicar toda a vida dele para tranquilizar o país". Eu fiquei com isso
na cabeça, mas as palavras muitas vezes não corresponderam à ação".
Temer sustenta que a ausência de "vontade política" para pacificar a
nação afeta igualmente o "outro lado", referindo-se à oposição. Além disso, ele
enfatiza que "houve agressão de todos os lados", também influenciada pelo
"desastre" dos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
Porém, principalmente para ele, a postura radical de um presidente que
segue o outro também se opõe à promessa de Lula de "governar para todos".
"No Brasil nós temos a ideia de que cada governo que chega precisa
destruir os anteriores. Tanto que o vocábulo herança maldita se incorporou ao
vocabulário político do país. [
] Cada governo que chega, quando critica o
governo anterior, não está ajudando a harmonia do País. Eu digo sempre: o
presidente Lula vive falando do presidente [Jair] Bolsonaro (PL). Ele é quem
mais divulga o presidente Bolsonaro", apontou ressaltando que se estabeleceu
"lá de trás" uma "radicalização brutal" no país.
Temer atribui a "radicalização" como a causa dos conflitos entre os Três
Poderes. Ele afirma que o Executivo e o Legislativo frequentemente sofrem
interferências do Judiciário. Alega que isso ocorre, sobretudo, devido à atual
Constituição "muito detalhada" do Brasil, que resulta no Supremo Tribunal Federal
( STF) tendo a palavra final em vários assuntos. Esta é uma crítica também
expressa pelo próprio presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, em diversas
entrevistas após assumir o cargo no ano passado.
"A jurisdição é inerte, mas quando ela é provocada, tem que decidir. Ou
vão cobrar: "como é que nós provocamos e não decidiram?" Lamento dizer que
muitas e muitas vezes a classe política provoca muito o Supremo. Seja do
Executivo, seja do Legislativo. O que se pode é criticar uma ou outra decisão
do Supremo sob o foco jurisdicional", pontuou.
Também é percebido por Temer que, embora Lula tenha triunfado na eleição
presidencial de 2022, a oposição emergiu poderosa e apoiando o ex-presidente
Jair Bolsonaro. Isso, ele afirma, é evidente nas manifestações que atraíram
milhares de brasileiros para as ruas – "não se pode negar".
Embora encontre obstáculos para cumprir o compromisso de pacificação do
país e continue a criticar o governo anterior, Temer afirma que a administração
Lula pode estar progredindo, não devido a ele, mas aos seus ministros –
especialmente Fernando Haddad, da Fazenda.
Michel Temer diz que Haddad "está fazendo o possível" e que a economia
"começa ou tem perspectiva de ir bem". "Não vai indo bem ainda, [
] começa a
aparentar melhor, é preciso seguir adiante".
"Por exemplo: qual é a vantagem do teto para os gastos públicos que eu
fiz? Você reduz a dívida pública. A ideia é essa. Agora não é mais teto, é
arcabouço. Sabe o que é o arcabouço? É o teto readaptado", pontuou ressaltando
que, apesar do trabalho para a economia, Haddad sofre com a ingerência do
presidente e da Casa Civil desautorizando medidas – "isso atrapalha".
agoranoticiasbrasil.com.br/