Em meio à polêmica da PEC do Quinquênio dos juízes e procuradores –
proposta que avança no Senado com previsão de rombo superior a R$ 40 bilhões -,
o Tribunal de Justiça de Rondônia fez pagamentos milionários a seus magistrados
no último mês de fevereiro. Um grupo de 46 magistrados recebeu, cada um, mais
de R$ 1 milhão – de um deles, o contracheque bateu em R$ 1,6 milhão brutos. Dez
receberam R$ 1 milhão líquidos na conta.
A reportagem do Estadão pediu manifestação do TJ. O espaço está aberto.
A série de desembolsos de grande monta, que incluíram "vantagens
eventuais", alçou os juízes de Rondônia ao patamar dos mais bem pagos do País
entre os tribunais estaduais. Os dados constam da folha de subsídios do
Tribunal de Justiça de Rondônia.
A planilha com os nomes dos juízes não esclarece o que cabe na rubrica
"vantagens eventuais".
O desembargador Jorge Luiz dos Santos Leal, da 1.ª Câmara Criminal,
recebeu contracheque de R$ 1,64 milhão brutos – com descontos de R$ 589 mil,
incluindo "abate teto", seu holerite ficou em R$ 1,054 milhão líquidos.
O Painel do Conselho Nacional de Justiça confirma que 145 magistrados de
Rondônia foram os mais bem pagos naquele mês – o levantamento não inclui os
tribunais da Paraíba e Piauí, que não apresentaram as informações específicas
sobre a remuneração de seus integrantes.
Entre os 10 magistrados de Rondônia que receberam os holerites mais
elevados em fevereiro estão cinco desembargadores – dois integrantes da 1ª
Câmara Criminal, um da 1ª Câmara Especial, um da 2ª Câmara Criminal e um da 2ª
Câmara Cível.
Dos magistrados de 1º grau, há titulares de juízos de diferentes alçadas
– especial, auditoria militar, família e sucessões e criminal.
Os três juízes que receberam os maiores subsídios são: Glauco Antônio
Alves (R$ 1,19 milhão líquido), diretor do foro de 2ª entrância lotado no
Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Ouro Preto do Oeste, município
com 35 mil habitantes situado a 340 quilômetros de Porto Velho; Francisco
Borges Ferreira Neto (R$ 1,1 milhão líquido), desembargador da 2ª Câmara
Criminal; e Glodner Luiz Pauletto (1,09 milhão líquido), da 1ª Câmara Especial.
O que turbinou o contracheque dos juízes e desembargadores em fevereiro
foram as "vantagens eventuais" não especificadas no portal da transparência do
TJ. Um grupo de 35 juízes recebeu, apenas a título de "vantagens", mais de R$ 1
milhão. Outros 64 receberam entre R$ 509 mil a R$ 960 mil a título das
"vantagens eventuais".
Em valores líquidos, 84 magistrados receberam entre R$ 502 mil e R$ 987
mil em fevereiro.
O tribunal de Rondônia ganhou os holofotes na última semana após reação
da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados à
manifestação do secretário-geral da Corte estadual, Ronaldo Forti Silva.
Durante a posse de servidores recém-chegados ao TJ, o magistrado
afirmou.
– E quando vocês entram na instituição vocês pesam negativamente no
número de gastos, em relação a número de processos. Então, não é que vocês só
chegam para somar em produção, vocês chegam para pesarem gasto – ressaltou.
Forti Silva discorria sobre o "selo diamante", conferido ao Tribunal de
Justiça de Rondônia pelo Conselho Nacional de Justiça. Tal deferência é
concedida pelo CNJ aos tribunais que se destacam nos itens governança,
produtividade, transparência e dados e tecnologia.
Segundo o secretário-geral do TJ de Rondônia, a Corte é considerada pelo
CNJ o "melhor Judiciário do Brasil", o que, segundo sua avaliação, implicaria
aos servidores recém-chegados "honra e responsabilidade".
O juiz disse que o "selo diamante" é "terrivelmente penoso para manter".
Ele explicou que o "peso" dos servidores como "gasto" faz "perder ponto" na
avaliação do do Conselho Nacional de Justiça.
– Efetivamente esses pontos perdidos devem ser comprovados em
produtividade, se não a gente não consegue uma correlação de causa e efeito. A
responsabilidade é muito grande – seguiu.
Servidores do Poder Judiciário nos Estados não concordam com a afirmação
do secretário-geral. Numa reação enfática, eles detonam a remuneração com
"cifras milionárias" de magistrados.
– O juiz (Forti Silva), porém, deixa de mencionar que os servidores não
são os responsáveis por consumir a maior parte do orçamento do tribunal. Há
registros públicos de pagamentos a magistrados que chamam a atenção pelas
cifras milionárias – sustentou a Federação.
Fonte: Por Pleno News