O adiamento da sessão do Congresso Nacional para anĂĄlise de vetos
presidenciais, prevista para quarta-feira (23), foi uma vitória para o governo
Lula (PT), mas não significa que haverĂĄ dias mais tranquilos na relação do
Executivo com o Parlamento.
O governo conseguiu adiar a sessão, evitando possível derrota em
diferentes projetos. O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), anunciou o adiamento pouco depois de o presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), afirmar ser "muito ruim" não realizĂĄ-la no dia.
O episódio contrariou Lira, e o clima entre o governo e a cúpula da
Câmara dos Deputados não teve melhora. Também não hĂĄ harmonia entre os comandos
da Câmara e Senado.
De um lado, aliados de Lira dizem que o impasse se deu por um suposto
não cumprimento de acordo por parte dos senadores sobre o veto do petista ao
valor de R$ 5,6 bilhões reservados no Orçamento deste ano para o pagamento de
emendas de comissão.
Eles afirmam que o acerto, capitaneado por Lira e pelo ministro Rui
Costa (Casa Civil), previa recomposição de R$ 3,6 bilhões do total para os
parlamentares —sendo que um terço do valor seria para os senadores e dois
terços para os deputados—, mas que senadores insistiram em receber um valor
maior, o que emperrou as negociações.
Senadores e membros do governo, por sua vez, rechaçam a acusação de que
houve um pedido por parte do Senado por uma fatia maior.
Para eles, o impasse do adiamento da sessão do Congresso se deu pela não
apreciação no Senado do projeto que recria o DPVAT (seguro obrigatório para
veículos), no qual foi inserido um dispositivo pelos deputados que altera o
arcabouço fiscal e libera mais de R$ 15 bilhões ao presidente Lula de forma
imediata.
Reservadamente, senadores admitem que parte dos parlamentares não quer
liberar o montante antes do pagamento pelo Executivo de emendas represadas,
alvo de reclamações no Congresso.
Na semana passada, a sessão do Congresso que estava prevista para
ocorrer foi adiada sob o argumento de que era necessĂĄrio aprovar esse projeto
primeiro, para que, num segundo momento, os parlamentares pudessem analisar os
vetos presidenciais.
O projeto seria votado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do
Senado, mas saiu da pauta a pedido do relator e líder do governo na Casa,
Jaques Wagner (PT-BA). Pelo acordo que vinha sendo costurado, parte do dinheiro
extra seria usado pelo governo para recompor o valor de emendas parlamentares
durante a sessão do Congresso desta quarta.
Aliados do presidente da Câmara dizem enxergar uma operação casada do
governo e do Senado para adiar a sessão, gerando desgaste com os deputados.
Eles afirmam que sempre houve a sinalização de que o acordo seria cumprido,
isso porque Lira tem a fama de cumprir os acordos que firma.
Em entrevista nesta quinta-feira (25) à GloboNews, Lira voltou a
criticar o adiamento da sessão, afirmou que essa sucessão de adiamentos "não é
normal" e disse que não havia "obstĂĄculo" da Câmara no acordo do veto de R$ 5,6
bilhões.
Os senadores, por sua vez, afirmam que até a manhã de quarta não havia
uma sinalização de que isso seria levado a cabo pela Câmara, diante do
acirramento de tensão entre a Casa e o Executivo nas últimas semanas provocado
pela crise gerada pelas críticas públicas de Lira ao ministro Alexandre Padilha
(Relações Institucionais).
Eles dizem que, por parte dos senadores, o acordo seria cumprido.
Na terça (23), Rui Costa se reuniu com parlamentares que, segundo
relatos, disseram não haver esse acordo. O cenĂĄrio só teria mudado quando, na
tarde de quarta, Lira telefonou a Pacheco durante reunião com líderes da
Câmara, para dizer que a Casa iria cumprir o acerto —e questionar se o Senado
faria o mesmo.
A essa altura, Jaques Wagner jĂĄ tinha retirado o projeto do DPAVT da
pauta da CCJ e, portanto, não teria como contornar a situação.
Lira e Pacheco mantĂȘm relação protocolar, sem um diĂĄlogo próximo, e
acumulam desentendimentos sobre tramitação de propostas no Congresso. Na
entrevista desta quinta, o alagoano disparou críticas ao Senado, sem citar
nominalmente Pacheco, ao responsabilizar a Casa pelo avanço da PEC (proposta de
emenda à Constituição) do QuinquĂȘnio, considerada uma "pauta-bomba".
Aliados do governo afirmam que o adiamento da sessão do Congresso
garantiu mais tempo para negociar com parlamentares a liberação de emendas.
JĂĄ o entorno de Lira critica a demora da apreciação dos vetos porque
entende que isso levarĂĄ a um atraso na recomposição das emendas, num contexto
de ano eleitoral —e que, portanto, prefeitos pressionam pelo envio dos recursos
de deputados aliados.
Essa pressão foi citada por Lira também na entrevista desta quinta ao
tratar do adiamento da sessão. "Os calendĂĄrios vão subindo, os prazos findando
e o governo volta a ter problema. É fato, não tem como a gente esconder,
estamos em ano eleitoral. Os prefeitos vão apertar os deputados, que vão
apertar os líderes e vai sobrar para mim, para o plenĂĄrio e para o governo."
Agora, a expectativa é que a sessão do Congresso ocorra na segunda
semana de maio. Segundo Pacheco, não haverĂĄ outro adiamento.
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br/