A diplomacia brasileira cometeu mais duas ignomínias: na última quinta-feira, 4
de abril, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, o Brasil
absteve-se na votação sobre a extensão do inquérito sobre crimes de guerra na
Ucrânia e sobre a violação de direitos das mulheres no Irã.
Apesar das covardes e indecentes
abstenções do Brasil, felizmente ambas as resoluções foram aprovadas. Não
podemos, porém, deixar que o nosso país se preste a ser o anteparo diplomático
dos regimes mais opressores do mundo sem expor e criticar tal hipocrisia.
Diplomacia
lulista em defesa da Rússia
Em seu perfil do X, o diplomata, doutor
em ciências sociais e escritor Paulo R. de Almeida adjetivou de "escabrosa" e
"um acinte completo", a justificativa apresentada pela delegação do Brasil no
Conselho de Direitos Humanos para não apoiar as investigações sobre violações
cometidas pela Rússia na Ucrânia.
O representante do Itamaraty admitiu o
deslocamento forçado de crianças ucranianas e o ataque a civis, mas julgou a
resolução "desequilibrada."
Tovar da Silva Nunes, representante
permanente do Brasil junto às Nações Unidas em Genebra, declarou que o país
manifesta "profunda preocupação" com a situação na Ucrânia, "particularmente
com as alegadas violações envolvendo crianças deslocadas e deportadas, ataques
a civis e o crescente número de mortes. No entanto, permanecemos descontentes
com o texto diante de nós. A resolução é desequilibrada e coloca o fardo das
violações dos direitos humanos apenas em um lado do conflito, não deixando
espaço suficiente para o diálogo que poderia criar condições para prevenir
violações de direitos humanos e construir uma paz duradoura na região".
O que se pode inferir da mal formulada
crítica do representante brasileiro à resolução do Conselho da ONU é que o
Brasil estaria descontente porque o texto não condena também a Ucrânia por ter
sido invadida, por ter seus civis assassinados, suas mulheres estupradas e suas
crianças sequestradas.
Como se não bastasse, o embaixador
brasileiro também criticou o texto da resolução por mencionar as iniciativas
jurídicas contra a Rússia no Tribunal Penal Internacional e na Corte
Internacional de Justiça. Segundo o embaixador de Lula, as menções seriam
"prejudiciais" ao diálogo.
O governo de Lula, como bem explicou
Carlos Graieb, está se esmerando em uma diplomacia assassina, desmontando os
mecanismos de dissuasão de que o mundo dispõe contra perpetradores dos piores
crimes: "Lula transformou o Itamaraty em escritório de advocacia de todos os
tiranos que atropelaram os direitos humanos nas duas últimas décadas. Pôs a
diplomacia brasileira a serviço de açougueiros que planejam e executam as
piores atrocidades mundo afora", escreveu Graieb, aqui em O Antagonista.
Enquanto o mundo livre se alarma com as
irresponsáveis ameaças nucleares de Putin e se prepara para as consequências de
uma vitória russa sobre a Ucrânia e de um possível ataque russo contra a Otan,
Lula se prepara para receber o ditador megalomaníaco no Brasil com tapete
vermelho, por ocasião da reunião de cúpula do G20, que ocorrerá em novembro.
Diplomacia
lulista em defesa do Irã
No que concerne à resolução que estende
as atividades do relator especial da ONU no Irã na investigação da violação de
direitos contra mulheres, crianças e minorias étnicas, o embaixador brasileiro,
Tovar da Silva Nunes, justificou a abstenção do Brasil alegando que o governo
iraniano estaria cooperando com as investigações iniciadas em 2022.
Em 2022, como se sabe, a jovem
iraniana, Mahsa Amini, de 22 anos, foi detida e espancada pela polícia moral do
Irã por usar de forma inadequada o hijab, véu para cobrir a cabeça, de uso
obrigatório, segundo a lei islâmica. Ela morreu sob custódia policial, ou seja,
foi assassinada pelo regime teocrático que o Brasil acaba de defender na ONU.
Sua morte desencadeou uma onda de
protestos em todo o Irã e sua imagem tornou-se um símbolo de resistência
feminina contra a opressão. Parte da população, desafiando o regime teocrático
do aiatolá Ali Khamenei, saiu às ruas entoando o slogan "mulheres, vida e
liberdade".
Como reação aos protestos, "todo o
aparelho do Estado foi mobilizado com as forças de segurança utilizando armas
de fogo, resultando em feridos e mortes", disse Sara Hossain, presidente da
Missão Internacional de Apuração de Fatos sobre o Irã, dirigindo-se ao Conselho
de Direitos Humanos, em Genebra.
A Missão Internacional concluiu que
ocorreram, na ocasião, cerca de 551 mortes, sendo pelo menos 49 mulheres e 68
crianças.
Sara Hossain disse também que muitos
manifestantes "removiam o seu hijab em locais públicos como um ato de desafio
contra leis e práticas discriminatórias de longa data" e que "as forças de
segurança dispararam contra os manifestantes e também contra os transeuntes a
distâncias muito curtas e de forma direcionada, causando ferimentos nas
cabeças, pescoços, troncos, áreas genitais, mas particularmente nos olhos" e
acrescentou: "descobrimos que centenas de manifestantes sofreram ferimentos que
mudaram suas vidas, com muitos deles agora cegos."
Contrariamente ao que alegou o
embaixador brasileiro, a Missão afirmou que não houve cooperação alguma por
parte do governo iraniano, mas que, apesar disso, conseguiu recolher mais de
27.000 elementos de prova.
O Relator Especial sobre a situação dos
direitos humanos no Irã também apresentou o seu relatório. Dentre as violações
mais graves registradas, Javaid Rehman destacou o aumento nas penas de morte e
execuções, incluindo crianças, além de repressão contínua aos direitos das
mulheres.
O Brasil admitiu a existência de pena
de morte contra crianças no Irã e até esboçou alguma preocupação com isso, mas,
em nome do diálogo construtivo com os infanticidas e feminicidas, resolveu se
abster:
"O Brasil continua muito preocupado com
a aplicação da pena de morte no país, inclusive contra crianças", declarou o
embaixador brasileiro, mas acrescentou: "Ao entender que o Irã se esforçará
para melhorar a situação dos direitos humanos e baseado no espírito
construtivo, o Brasil se abstém."
Não há indício algum de que o Irã
passará a se preocupar com direitos humanos, simplesmente porque essa noção não
faz parte da sua visão de mundo fundamentalista. O Irã é uma teocracia que
aplica a lei islâmica contra indivíduos sob acusações vagas. Não há direitos
individuais, logo não há direitos humanos. No Irã é crime insultar o profeta,
ter relações homossexuais, cometer adultério, consumir álcool ou deixar de usar
um maldito véu. E o Estado pode te matar por causa disso.
A única coisa da qual o Irã deu indício
nos últimos dias é que está disposto a entrar em guerra contra Israel. Após um
ataque ao consulado iraniano na Síria, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali
Khamenei, ameaçou: "O perverso regime sionista será punido pelos nossos homens
corajosos."
Se a terceira guerra mundial se
iniciar, o Brasil – graças aos esforços de Lula e seus assessores
internacionais – já estará devidamente alinhado com eixo do mal.
O Antagonista