Portugal vai às urnas neste domingo (10) para a eleição legislativa que
definirá o próximo primeiro-ministro. A votação antecipada, apontam as
pesquisas, deve terminar com o Parlamento dividido e consolidar o avanço da
direita como terceira maior força política no país, que é governado por
socialistas há quase uma década.
Os partidos tradicionais de centro-direita e de esquerda devem
protagonizar uma disputa acirrada, enquanto o Chega, de André Ventura, líder da
direita, pode saltar de 12 para mais de 30 deputados, se confirmadas as
projeções.
O veterano António Costa renunciou ao cargo de premiê em novembro, em
meio a um escândalo de corrupção, com batida da polícia na sua residência
oficial e prisão de funcionários do gabinete. Costa estava à frente do governo
português desde 2015, quando foi eleito por meio uma aliança inédita com a
esquerda radical, apelidada de "geringonça", e cumpria o terceiro mandato como
primeiro-ministro.
Embora não tenha sido diretamente acusado na investigação por corrupção
e tráfico de influência, ele declarou que "a dignidade das funções de
primeiro-ministro não é compatível com qualquer suspeição sobre a sua
integridade". O presidente Marcelo Rebelo de Sousa aceitou o pedido de demissão
e convocou representantes das forças políticas da oposição, que demonstraram
apoio à convocação de novas eleições.
O chefe de Estado então dissolveu o parlamento e antecipou a votação
para este domingo, dois anos antes que o previsto pelo calendário eleitoral.
PRINCIPAIS NOMES NA DISPUTA
No lugar de António Carlos, seu ex-ministro da Infraestrutura Pedro Nuno Santos,
de 46 anos, assumiu a liderança do Partido Socialista (PS) e tem o desafio de
reconduzi-lo de volta ao governo de Portugal. Ele tem defendido que a sigla é a
aposta "segura" para os portugueses e apelou pelo voto útil na reta final da
campanha.
Já no campo da centro-direita, Luís Montenegro, 51, lidera a Aliança
Democrática (AD), coalizão liderada pelo Partido Social Democrata (PSD), que
antecedeu os socialistas no governo. Ele tenta conquistar o voto dos indecisos
(que somam 20%), reconquistar aposentados que passaram a votar com os
socialistas após o ajuste fiscal promovido no último governo dos sociais
democratas.
Além dos partidos tradicionais da política portuguesa, a eleição é
marcada pelo avanço da direita, liderada por André Ventura, que ficou conhecido
em Portugal como comentarista esportivo antes de entrar para a política. Com a
aposta no discurso contra o sistema, contra a corrupção e contra a imigração,
ele deve consolidar o seu partido, o Chega, como a terceira força política de
Portugal.
PARLAMENTO DIVIDIDO
As pesquisas apontam para um Parlamento dividido: nenhuma das forças políticas
deve conquistar os 116 assentos necessários no Parlamento para formar governo.
Tudo deve depender de como serão costuradas as alianças no dia seguinte à
votação.
A Aliança Democrática e o Partido Socialista chegaram a ficar empatados
na margem na reta final da campanha. Agora, a AD assumiu um liderança mais
clara e aparece com 34% das intenções de voto enquanto o PS teria 28%, uma
diferença de seis pontos percentuais mostrou a pesquisa do Centro de Estudos e
Sondagens de Opinião (Cesop), da Universidade Católica, divulgada pelo site
Público.
Consideradas as possíveis alianças, no entanto, a esquerda pode ter leve
vantagem, dentro da margem de erro. O Partido Socialista, junto com outros
grupos menores, poderia chegar a 41%. Enquanto a coalizão AD e a Iniciativa
Liberal tem somados 40%, segundo a mesma pesquisa.
O Chega, por sua vez, tem 16% das intenções de voto (mais que o dobro
dos 7% que obteve na última eleição) e caminha para se consolidar como terceira
força da política portuguesa. Pelas pesquisas, a centro-direita precisaria de
uma aliança com o partido de André Ventura para formar um governo.
No fim de janeiro, Ventura sugeriu à agência Reuters que estaria
disposto a trocar o apoio da sua bancada por um papel dentro do governo na
coalizão de direita. Montenegro já descartou a possibilidade de aliança com a o
Chega, mas André Ventura diz ainda acreditar na possibilidade de um acordo.
Existe ainda possibilidade de Montenegro ser socorrido pelos
socialistas. Isso porque Nuno Santos deu a entender que estaria aberto ao
diálogo para garantir estabilidade do país. E é importante lembrar que, segundo
outras pesquisas, uma parcela de 20% do eleitorado está indecisa e a escolha
deles no domingo pode mudar tudo.
*AE