Os títulos de doutor honoris causa concedidos pela Universidade Federal
de Pelotas (UFPel) ao ex-presidente da República Emilio Garrastazu Médici
(1969-1974) e ao ex-ministro da Educação, Jarbas Passarinho (que era coronel),
durante o período da ditadura militar, foram cassados por unanimidade pelo
conselho universitĂĄrio da instituição de ensino.
Médici recebeu o título em 1970 e Passarinho, em 1972.
A proposta de revogação dos dois títulos foi feita pela Comissão para
Implementação de Medidas de Memórias, Verdade e Justiça na UFPel.
A comissão foi criada depois de o Ministério Público Federal (MPF) ter solicitado
à UFPel esclarecimentos sobre ações voltadas à memória do período da ditadura e
questionado se a instituição concedeu honrarias ou títulos honoríficos a
pessoas vinculadas ao regime militar.
Desde 2015, vĂĄrias universidades públicas brasileiras revogaram títulos
de doutor honoris causa concedidos a autoridades dos governos militares
(1964-1985).
· Em dezembro de 2015, o conselho da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) revogou o título concedido a Médici.
· Em setembro de 2021, o Consu da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) também cassou o título dado a Jarbas Passarinho, que foi ministro da
Educação, do Trabalho, da Justiça e da PrevidĂȘncia Social em um amplo período
da repressão e depois, entre 1967 e 1992.
· Em 2022, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) revogou os
títulos de honoris causa concedidos aos ex-presidentes Arthur da Costa e Silva
e Emílio Garrastazu Médici (1970).
Na decisão, segundo notícia veiculada pelo MP o Consun registra que
ambos são "indignos" das homenagens e para "deixar claro que a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul respeita os direitos humanos e repudia suas
violações e do direito internacional".
No início do ano, o MPF recomendou que a Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) revogue os títulos dados aos ex-presidentes Arthur da Costa e
Silva (1967-1969) e Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967).
EXPURGOS E INCOMPATIBILIDADE
Os ex-presidentes e o ministro de Estado que tiveram as honrarias
revogadas participaram do período considerado o auge da repressão durante a
ditadura no Brasil, quando se registraram episódios de extrema violĂȘncia,
controle de atividades políticas, censura, prisões arbitrĂĄrias, torturas,
assassinatos e desaparecimentos de presos políticos, conforme constatado e
documentado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).
O Ministério Público Federal (MPF), pelo procurador regional dos
Direitos do Cidadão no RS, Enrico Rodrigues de Freitas, havia recomendado à
reitoria da UFRGS, em janeiro deste ano, que as honrarias concedidas a
ex-ditadores fossem cassadas, como propôs a Comissão Nacional da Verdade em seu
relatório final, publicado em 2014.
"Professores, estudantes e servidores da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul foram diretamente atingidos pelos atos de exceção indicados, por
expurgos diretos ou de forma difusa pela restrição de direitos de reunião e de
manifestação de pensamento, entre outros direitos violados, fato que inclusive
levou à criação pela própria Universidade de "Memorial aos expurgados da UFRGS"
em 28 de novembro de 2019, situação que torna incompatível a permanĂȘncia de
concessão de títulos honoríficos a pessoas que foram responsĂĄveis pelas referidas
violações de direitos humanos, inclusive de membros da própria comunidade
universitĂĄria", registrou o procurador.
Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici presidiram o Brasil
durante o regime ditatorial civil-militar e foram considerados autores de
graves violações de direitos humanos no plano de responsabilidade
político-institucional pelo relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Fonte: agoranoticiasbrasil.com.br