BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) – O plenário da Câmara dos Deputados dos Estados
Unidos aprovou nesta terça-feira (13), por um voto, o pedido de impeachment do
secretário de Segurança Nacional, Alejandro Mayorkas, em razão de sua condução
da crise migratória na fronteira do país com o México.
A Câmara, liderada pelos republicanos, aprovou dois artigos acusando Mayorkas
de "recusa intencional e sistemática" no cumprimento da lei de imigração e de
"quebra da confiança pública".
O processo é mais um episódio do embate entre o governo de Joe Biden e a
ala republicana mais próxima de Donald Trump. Os aliados do ex-presidente têm
usado os números recordes de migrantes e a disrupção na fronteira sul como
moeda de troca em negociações no Congresso.
Numa votação de 214 a 213, os republicanos ultrapassaram a oposição dos
democratas para fazer de Mayorkas o primeiro secretário de gabinete em
exercício na história do país a sofrer impeachment.
O texto já havia passado por comitê na Câmara, cuja maioria de 221
republicanos contra 213 democratas foi suficiente para aprovar o impeachment no
plenário da Casa, embora divergências internas no partido pudessem dificultar a
aprovação da medida.
O pedido vai agora ao Senado, onde provavelmente será enterrado pela
maioria do Partido Democrata, que critica o processo. "Isso é uma manobra
política. Os republicanos da Câmara claramente deram sua maioria aos
extremistas, e esse impeachment falso é só mais um triste exemplo disso",
afirmou a jornalistas o líder da minoria democrata na Câmara, Hakeem Jeffries,
na ocasião do debate no comitê, no fim de janeiro.
O pedido de impeachment se baseia nas acusações de "recusa intencional e
sistemática de cumprir a lei" e "quebra de confiança pública" por parte do
secretário.
Segundo o texto, a primeira acusação se refere a supostas recusas de
Mayorkas em reforçar a fronteira com o México e impedir a entrada de imigrantes
de forma ilegal no país. A segunda seria relativa a supostas declarações falsas
do secretário ao Congresso -em carta ao comitê, ele negou as acusações.
"Os resultados têm sido catastróficos e têm colocado em perigo as vidas
de todos os americanos", afirmou o presidente do comitê de Segurança Nacional,
o republicano Mark Green, do Tennessee, na abertura da sessão que chancelou a
medida e a levou ao plenário.
A crise migratória é uma das grandes vulnerabilidades da gestão de Joe
Biden atualmente. Para além de ser um tema caro à oposição republicana mesmo
antes da ascensão de Trump, o número de pessoas entrando no país pelo México
tem batido recordes e colocado em dúvida a eficácia da política migratória
federal em meio a embates com estados de fronteira governados por republicanos.
Ao mesmo tempo em que a Câmara vota para afastar Mayorkas, o governo
Biden concluiu a negociação de uma nova legislação com apoio bipartidário no
Senado que amarra a aprovação de ajuda financeira a Ucrânia e Israel a
investimentos na fronteira sul. Trump, no entanto, provável rival do democrata
nas eleições em novembro, pressiona republicanos da Casa a manterem sua
oposição ao plano.
Os obstáculos para a aprovação desse novo texto em pleno ano eleitoral,
ante à situação grave na fronteira e à pressão da oposição, têm levado Biden a
admitir que o país vive uma crise na região. No fim de janeiro, o presidente
americano disse que fecharia a fronteira se a nova legislação fosse aprovada,
ecoando discurso mais afeito à oposição e adiantando um dos efeitos do projeto:
a criação de gatilhos para "O que está sendo negociado será o mais duro e justo
conjunto de reformas que o país já viu para dar segurança à fronteira. [O
texto] daria a mim, como presidente, uma nova autoridade de emergência para
fechar a fronteira quando ela ficar sobrecarregada. E, se me fosse dada essa
autoridade, eu a usaria no dia em que sancionasse a lei", afirmou Biden em
comunicado, antes de detalhes do texto virem a público.
Mais cedo nesta terça, o presidente americano criticou o rival
republicano pela oposição ao texto negociado entre os dois partidos, dizendo
que o empresário usa politicamente a questão.
Pela nova lei, os poderes do presidente quanto à fronteira guardariam
semelhança com os proporcionados pelo Título 42, medida do governo Trump
criticada por democratas que permitia expulsões automáticas de imigrantes sob
justificativa sanitária durante a pandemia da Covid-19.
Governadores republicanos, como Greg Abbott, do Texas, também têm
pressionado com ações locais contestadas pela Casa Branca. Abbott -um
simpatizante de Trump- instalou cercas de arame farpado ao longo do rio Grande,
frequentemente usado por imigrantes para entrar no país, uma das medidas contra
o que ele chama de "políticas imprudentes de fronteiras abertas" de Biden. A
Suprema Corte autorizou o governo federal a cortar a cerca no último dia 22.
Ainda pré-candidato, Trump tem feito campanha baseada no aumento da
repressão na fronteira. Segundo assessores, o empresário planeja deportações em
massa de imigrantes que entraram de forma ilegal no país e centros de detenção
para quem aguarda expulsão.
Créditos: agoranoticiasbrasil.com.br