O regime liderado por Vladimir Putin, na Rússia, vetou a candidatura do
ex-deputado Boris Nadejdin às eleições presidenciais de 2024, conforme
anunciado nesta sexta-feira, 2 de fevereiro.
Nikolai Bulaiev, vice-presidente da comissão eleitoral, alegou a
presença de irregularidades na candidatura, indicando que mais razões técnicas
podem ser apontadas para a desclassificação de Nadejdin, considerado um forte
opositor de Putin.
Dúvidas sobre documentação e assinaturas
Na tentativa de integrar a lista de candidatos às eleições programadas
entre 15 e 17 de março, Nadejdin submeteu à comissão eleitoral assinaturas de
mais de 100 mil apoiadores em todo o país. Contudo, Nikolai Bulaiev afirmou que
algumas dessas assinaturas pertencem a pessoas já falecidas.
"A expectativa era que ocorressem alguns erros nas listas, mas ao
encontrarmos dezenas de pessoas que já não estão mais vivas e que supostamente
assinaram o documento, questionamos a honestidade dos métodos utilizados,
inclusive pela pessoa que coletou as assinaturas. E o candidato, em certa
medida, está diretamente envolvido nisso", declarou Bulaiev.
Resposta de Nadejdin
Respondendo às indagações da comissão, Nadejdin fez uma brincadeira em
uma mensagem aos seus apoiadores no Telegram. "Você e eu somos os mais vivos
dos vivos. Se alguém imaginar que vê almas mortas nas minhas listas de
assinaturas, essa não é uma questão para mim; talvez eles devam procurar a
igreja ou um exorcista", argumentou.
Decisão da Comissão Eleitoral
Os candidatos autorizados a participar nas eleições presidenciais serão
anunciados pela Comissão Eleitoral Russa na segunda semana de fevereiro. A
crescente visibilidade de Nadejdin pode representar uma ameaça a Putin, e o
Kremlin pode buscar uma justificativa para barrá-lo.
O ex-deputado é reconhecido por suas críticas contundentes a Putin e à
guerra na Ucrânia. Em eleições anteriores, candidatos foram desclassificados
devido à invalidação das assinaturas de seus apoiadores.
Quem é Nadejdin?
Ex-deputado da Duma, o parlamento russo, e ex-vereador em Moscou,
Nadejdin agora tem um objetivo mais ambicioso: impedir, nas urnas, um sexto
mandato de Vladimir Putin como presidente da Rússia.
Seu primeiro passo, surpreendente, foi conquistado: na terça-feira, 23
de janeiro, ele obteve as 100 mil assinaturas necessárias para figurar nas
cédulas de votação em todo o país.
Quanto ao seu plano de governo, há poucas informações, exceto sua
intenção de encerrar imediatamente a invasão russa à Ucrânia e assinar um
tratado de paz com Kiev. Seu histórico de oposição, embora limitado e baseado
em mandatos encerrados, indica posições contrárias às de Putin.
O desafio, no entanto, está em sua capacidade de permanecer na disputa.
Nadezhdin adentra um terreno onde Putin, no cargo por quase 24 anos, domina
todas as regras do jogo, afastando potenciais rivais do autocrata quando
representam uma ameaça à sua reeleição. Em 2018, Alexei Navalny, visto como um
candidato potencial para unir a oposição contra Putin, foi preso e condenado
por corrupção (o que ele nega) e impedido de concorrer. Boris Nemtsov, próximo
de Nadezhdin, também era uma figura de oposição a Putin e acabou assassinado em
uma ponte de Moscou em 2015.
Fonte: Com informações de O Antagonista.