Considerado o grande primeiro sucesso do universo das redes sociais, o Orkut completa 20 anos de lançamento nesta quarta-feira (24). E há duas décadas a internet estava em um contexto completamente diferente do atual.
Em 2004, cerca de 6,3 milhões de domicílios do país tinham acesso à internet, o que equivalia a 12,2% das residências, segundo o IBGE. Apesar de parecer baixo, apenas 3% dos brasileiros tinham internet em 2000, para se ter uma ideia.
Antes da chegada de 2004, as pessoas usavam a internet de maneira bastante passiva, na era chamada de web 1.0. O Orkut ajudou a inaugurar a web 2.0, que era caracterizada como uma rede mais colaborativa, onde a produção de conteúdo e participação dos usuários era bem maior.
O Orkut foi a primeira rede social que bombou no Brasil (Imagem: Reprodução/Wikipedia)
Com a rede social já estabelecida, a experiência de passar horas online se confundia com o próprio uso do Orkut. Em meados de 2004, estar online significava basicamente estar utilizando Orkut e/ou MSN Messenger.
Só que as coisas não se resumiam a conversar com amigos, stalkear os/as crushes e entrar em comunidades exóticas, muito pelo contrário. Havia o lado ruim também.
O Orkut encerrou suas atividades em setembro de 2014, pouco mais de uma década após seu lançamento. E foram muitas as memórias positivas que ele deixou.
Casais foram formados pela rede, muita gente conheceu pessoas que integravam seus nichos de subculturas, usuários reencontraram parentes que não falavam há muito tempo e etc.
Por outro lado, parte da vivência de estar logado no Orkut vinha junto de diversos problemas que iniciaram muita gente nas dores de cabeça proporcionadas pela internet.
Para aproveitar os 20 anos de lançamento do Orkut, o TecMundo relembra alguns dos principais perrengues que os usuários passavam na rede.
A primeira adversidade com o Orkut começou antes mesmo de as pessoas entrarem na rede social. Em seu início, a plataforma só aceitava quem tinham convites.
Ou seja, logo depois que os brasileiros começaram a ouvir falar do site, começou um corre-corre para tentar encontrar quem tinha um convite disponível. Na época, houve relatos de pessoas que até vendiam os acessos.
Usuários presenteados com convites do Orkut chegavam a vender na internet (Imagem: Reprodução)
Quem é muito jovem não vai se lembrar de nenhum perrengue citado, inclusive este. Portanto, cabe uma contextualização.
Nos primórdios da internet, a tecnologia de computação na nuvem ainda não havia se popularizado, sendo que ela foi uma das principais responsáveis pelo aumento da escala de dados na rede mundial de computadores.
Por causa disso, o escopo dos servidores era infinitamente menor do que hoje, o que trazia inconvenientes como a possibilidade de publicar somente 12 fotos na rede social. E é isso mesmo: no início o Orkut só aceitava a publicação de no máximo 12 fotos por perfil.
Enquanto para alguns as oito fotos do Orkut eram muito, para outros as oito fotos eram pouco (Imagem: Reprodução)
O início dos anos 2000 apresentava uma estética muito particular na internet. Na época, era comum que as escritas online estivessem lotadas de símbolos e números no lugar das letras, o popular leet. Neste sentido, você não seria tão descolado se não utilizasse Nicks como <~^~Ca4l0s P4LMEiR4~^~>.
E essa breguice era estendida para as conversas, onde as pessoas abreviavam as palavras. Além do tc (teclar), add (adicionar), tdb (tudo de bom) e o popular DSTV (desativado).
Os perfis desativados do Orkut eram uma forma de a pessoa dedicar seu tempo para outras atividades (ou não) (Imagem: Reprodução)
Diferentemente de hoje em dia, em que pessoas costumam apagar todas as fotos no Instagram quando querem sumir, na antiguidade, os usuários escreviam DSTV no perfil e desistiam de acessar a rede social por um tempo.
Esse perrengue era bastante comum entre adolescentes, que quando tiravam notas baixas na escola ou tinham problemas de relacionamento com amigos, ou namorados/namoradas, precisavam recorrer ao DSTV.
O Orkut tinha praticamente uma profissão: os donos de comunidades. Dependendo do tamanho e alcance de uma comunidade, o ambiente precisava ter regras bastante definidas e "mão firme" para que o convívio não descambasse.
Muitas pessoas levavam este posto muito a sério, se portando como um verdadeiro legislador dos grupos virtuais. As coisas ficavam bastante ruins, porém, quando alguém com permissão tinha acesso ao comando da comunidade.
Nestes momentos, como "trollagem" os nomes e fotos das comunidades eram trocados e o grupo era totalmente descaracterizado. Não era incomum, inclusive, os nomes das comunidades serem trocados por algo pornográfico ou de mau gosto.
A assinatura "Owned" era um dos indicativos de que a comunidade havia sido hackeada (Imagem: Reprodução)
O perrengue era grande e gerava bastante preocupação. Afinal de contas, ninguém queria ser visto dentro da comunidade "Eu amo cheiro de flatulência", quando, na verdade, a comunidade original era de fãs de Guns N" Roses.
Os depoimentos eram uma experiência particular do Orkut que nunca foi repetida por nenhuma outra rede social. Para quem não se lembra, cabe mais uma contextualização. Os depoimentos eram textos que você enviava para uma pessoa que podiam ser fixados no perfil do "presenteado".
Junto das reputações (como fã, confiável e sexy), os depoimentos também eram indicadores de popularidade de uma pessoa. Quanto mais, mais descolado você era.
Só que os depoimentos também poderiam trazer certa dor de cabeça. Por serem de acesso exclusivo para a pessoa que recebeu, os depoimentos só ficavam listados na página da pessoa se ela aceitasse.
Como os scraps eram públicos, muita gente enxergava nos depoimentos do Orkut uma forma de conversar de maneira mais reservada com as pessoas (Imagem: Reprodução)
O que muita gente fazia (por engano ou não) era aceitar depoimentos com conteúdos que não deveriam ser revelados, incluindo mensagens picantes. Mesmo com os indicadores de "não aceita", não era raro verificar um testemunho esquisito fixado no perfil de seus amigos, colegas de trabalho ou familiares.
Parte do charme do Orkut existia devido a sua estética singular. O layout da cor azul e o design simples de botões em formato retangular era o que atraia muita gente.
As coisas mudaram um pouco de figura com a estreia do "Novo Orkut", versão repaginada da rede social lançada em 2010 pelo Google (que havia assumido o controle da marca em 2008).
Dentre as novidades, o modelo repaginado da rede social tinha um formato mais moderno, novas cores, sugestões de amigos, possibilidade de adicionar mais fotos de uma vez só, recados em vídeo e mais.
O Novo Orkut trouxe toda a tecnologia do Google, incluindo o Chrome (Imagem: Reprodução)
Apesar de parecer um grande salto, o Novo Orkut incomodou bastante gente. Os mais saudosistas ficavam com raiva até do novo logo que indicava que a pessoa estava usando a versão mais nova.
Por causa disso, não era incomum ter usuários voltando ao modelo antigo, já que as novidades não estavam agradando. A lição que fica é que desde aquela época as pessoas já eram saudosistas e consideravam melhor tudo que era mais antigo.
Fonte: IBGE