A fachada cinza do dispensário de Dana Larsen não revela o mosaico psicodélico
de seu interior. Lá dentro, há pinturas de deuses incas cuspindo fogo e raios.
Há prateleiras repletas de bálsamos labiais de cânhamo e quadrinhos centrados
na cultura canábica, muitos deles escritos pelo próprio Larsen.
O mais importante, porém, são os cogumelos. Montes de cogumelos mágicos
secos e armazenados em frascos com tampas de cortiça, como um experimento
científico steampunk, também conhecido como vapor punk ou tecnavapor. Os
clientes podem comprá-los secos e por grama, ou na forma de gomas comestíveis,
microdoses e barras de arroz.
Eles vêm em variedades que vão desde "Blue Pulaski" (recomendado para
"viagens astrais", conforme seu cartão de descrição) até "Penis Envy".
Larsen, de 52 anos, tem vendido cogumelos ilegalmente, mas abertamente,
na sua loja de Vancouver desde 2020. Ele abriu mais dois locais no ano passado,
citando a demanda popular.
– É uma questão de desobediência civil fornecer essas substâncias. As
pessoas vêm à minha loja todos os dias e me contam como o acesso aos
psicodélicos mudou e melhorou suas vidas – afirmou.
Boom dos cogumelos
Bem-vindo ao boom dos cogumelos no Canadá. Estimuladas pela crescente
demanda, pela evolução da pesquisa médica e por pequenas, mas significativas,
mudanças na política federal sobre drogas, lojas que vendem psilocibina – o
ingrediente psicoativo usado em cogumelos psicodélicos – estão surgindo em todo
o país.
Mais de duas dúzias de lojas foram abertas em 2023, e algumas das
principais redes já estão se gabando de sua expansão.
É difícil não notar as fachadas das lojas. Nas maiores cidades do
Canadá, os dispensários com nomes como Fun Guyz, Shroom City e House of Mush
exibem pinturas de fungos coloridos em seus exteriores, dando as boas-vindas
aos transeuntes e provocando as autoridades locais.
Em uma loja chamada Shroomyz, no coração do movimentado centro de Toronto,
um shiitake arco-íris adorna a entrada ao lado de uma placa convidando os
clientes a "entrar em uma nova realidade". Os funcionários distribuem panfletos
de desconto em um cruzamento próximo.
A ascensão dos dispensários de cogumelos ocorre após a decisão do Canadá
de legalizar a cannabis em 2018. Embora o governo do primeiro-ministro Justin
Trudeau tenha dito que não vai mais descriminalizar as drogas, mudanças sutis
na política nos últimos anos geraram otimismo e uma razão de ser entre os
entusiastas dos psicodélicos que veem a legalização como inevitável.
O primeiro indicador surgiu em maio de 2022, quando a Colúmbia
Britânica, a província mais atingida pela crise de opioides e fentanil do
Canadá, recebeu permissão do governo federal para flexibilizar as taxas de
posse de uma série de narcóticos, incluindo heroína, cocaína e MDMA, mas não a
psilocibina. O conselho municipal de Toronto solicitou permissão semelhante.
Em seguida, em janeiro de 2023, Alberta tornou-se a primeira província
do Canadá a regulamentar os psicodélicos para terapia, permitindo o uso de
psilocibina, LSD e ecstasy em raras circunstâncias médicas.
As mudanças na política produziram uma discrepância na lei canadense
sobre drogas que dá abertura para os varejistas, afirma Jack Lloyd, um advogado
de Toronto que representa empresas de cannabis e "shroom". Embora pacientes
médicos selecionados possam agora possuir pequenas quantidades de psilocibina
para tratamento, ninguém tem a capacidade de vendê-la.
– Se você tem autoridade legal para possuí-lo, usá-lo e comprá-lo, mas
ninguém tem autoridade legal ou capacidade de vendê-lo, você cria uma
tempestade perfeita de pessoas que buscam acesso a esse medicamento e não
conseguem obtê-lo de outra forma a não ser na loja – disse Lloyd, também editor
de um livro chamado "The Psilocybin Mushroom Bible: The Definitive Guide to
Growing and Using Magic Mushrooms".
Uma onda de dispensários surgiu após as mudanças na política de 2022. A
Shroomyz abriu sua primeira unidade em outubro de 2022, tornando-se a primeira
loja de cogumelos de tijolo e argamassa de Toronto. A Fun Guyz, a maior cadeia
de psilocibina do Canadá, abriu 15 lojas em 2023 e diz que planeja dobrar esse
número este ano.
Um número crescente de pesquisas médicas tem demonstrado que a psilocibina
é um tratamento valioso para doenças como ansiedade, depressão e dependência,
embora os resultados não tenham sido conclusivos.
No ano passado, o Canadá investiu US$ 3 milhões em testes clínicos para
estudar o papel da psilocibina como um tratamento potencial para a dependência
de álcool, depressão resistente ao tratamento e sofrimento psicológico em
pacientes com câncer em estágio avançado.
Os defensores da reforma das drogas pediram que o Canadá flexibilizasse
suas leis sobre psicodélicos para melhorar o acesso àqueles que poderiam se
beneficiar deles.
– No meu ponto de vista, a proibição é a causa principal de todos os
problemas que dizem ser causados pelas drogas – disse Larsen, cuja loja também
vende LSD, DMT, peiote (cacto endêmico do México) e chá de folha de coca da
Bolívia.
Repressão ainda é pequena, mas pode aumentar
Os agentes da lei nas principais cidades do Canadá pouco fizeram para
conter o aumento do varejo. A polícia de Vancouver, Toronto e Ottawa disse
abertamente que seu foco está nas crises de opioides e fentanil que assolam
suas jurisdições.
Em todo o país, o tráfico de opioides contribuiu para uma crise de saúde
que ceifou mais de 40.000 vidas desde 2016, de acordo com os dados mais
recentes.
Ainda assim, uma série de batidas policiais realizadas em novembro
sugere uma possível repressão iminente. Larsen, que operava dispensários de
cannabis antes da legalização, disse que suas lojas estavam entre as várias
visadas pela polícia de Vancouver no ano passado.
E contou que foi detido por cerca de sete horas em uma delegacia de
polícia e depois liberado sem acusações – uma consequência que ele comparou ao
custo de fazer negócios.
No dia seguinte, ele fez o que os dispensários ilícitos do Canadá
tradicionalmente fazem após uma batida policial: Simplesmente reabriu:
– Dediquei os últimos 30 anos de minha vida a isso. Eu não vou embora
facilmente.
Folha PE