A China pretende unir as obras do novo PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento), relançado no ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, com os investimentos internacionais da iniciativa Cinturão e Rota,
conhecida como a nova Rota da Seda. A ideia foi proposta nesta sexta-feira, 19,
em Brasília, pelo chanceler chinês, Wang Yi.
Em discurso no Palácio Itamaraty, após se reunir com o ministro das
Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, Wang sugeriu que os dois países
trabalhem em conjunto para aproximar os objetivos "entre a iniciativa Cinturão
e Rota e o PAC".
Wang defendeu mais abertura, inclusão e cooperação entre os dois
programas e citou que as parcerias passam pela soja e pela exploração espacial.
Segundo ele, há interesse em maior cooperação agrícola, na economia verde,
economia digital, inteligência artificial e outras áreas estratégicas.
A China tenta atrair o Brasil para aderir para a gigantesca rede de
infraestrutura que monta pelo mundo, mas o tema divide o governo, entre diplomatas
no Palácio do Planalto e no Itamaraty. Uma ala não vê vantagens práticas,
enquanto outros afirmam que seria um gesto político. Na visita de Lula à China,
ano passado, ele evitou aceitar a ideia, o que frustrou os chineses.
Diplomacia
O Brasil tenta atrair empresas da China para as obras do Novo PAC, por
meio de concessões, PPPs, fornecimento de materiais e equipamentos ou na
composição de capital para tomar parte em leilões.
A iniciativa chinesa, lançada por Xi Jinping, em 2013, consiste em
formar uma rede global de infraestrutura, conectando ferrovias, hidrovias e
rodovias, além de portos e aeroportos, para escoamento de produtos. O projeto
expandiu a influência da China nos setores financeiro, de operação de serviços
e de engenharia.
Em dez anos, os contratos de projetos ligados à nova Rota da Seda
somaram US$ 2 trilhões. Ao todo, 147 países aceitaram projetos ou manifestaram
interesse em participar. Houve reação de aliados do Brasil. Os EUA alegam que
as obras trazem poucos benefícios e criam uma "armadilha da dívida", o que
Pequim nega
Minutos após a despedida de Wang ontem, a embaixadora dos EUA em Brasília,
Elizabeth Bagley, foi ao Itamaraty para se reunir com Vieira. Por pouco, a
americana e o chinês não se encontraram no palácio.
Ao fim do encontro, o chanceler da China confirmou que Xi virá ao Brasil
em novembro para a cúpula do G-20, no Rio. No ano passado, ele cancelou a ida a
Nova Délhi, para o G-20, organizado pela Índia, em um sinal visto como
tentativa de esvaziar o prestígio do país rival na Ásia.
O objetivo de Lula é preparar uma visita do presidente chinês. Antes de
chegar ao Brasil, Xi passará por Lima, no Peru, para a cúpula de líderes da
Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec). Após deixar Brasília, Wang seguiu
para Fortaleza (CE), para se reunir com Lula, na base aérea. Segundo o
chanceler chinês, o objetivo era ouvir opiniões do brasileiro sobre "assuntos
bilaterais".
Temas
Em Brasília, os chanceleres assinaram um acordo para prorrogar a
validade dos vistos de turismo, negócios e visita, passando de cinco para dez
anos. A chancelaria chinesa também se comprometeu a facilitar a abertura de um
consulado do Brasil na cidade de Chengdu.
Wang e Vieira conversaram ainda sobre as guerras na Faixa de Gaza e na
Ucrânia. O chanceler brasileiro afirmou que eles trocaram impressões sobre como
podem contribuir para solucionar os conflitos.
Wang deve retornar ao Brasil em fevereiro, para a reunião de chanceleres
do G-20, nos dias 21 e 22, no Rio. Vieira disse que aceitou um convite para
visitar Pequim.
Taiwan
Em sua fala no Itamaraty, Vieira reiterou o apoio "histórico,
consistente e inequívoco" do Brasil ao princípio de "Uma só China" – o
reconhecimento diplomático da posição de Pequim de que existe apenas uma China
no mundo, e Taiwan faz parte dela. O Brasil reconhece a integridade territorial
da China e sua defesa de soberania sobre a ilha.
Em resposta, o chanceler chinês a manifestou apreço pelo fato de todas
as instituições do Brasil aderirem ao princípio de "Uma só China". Hoje, apenas
12 países reconhecem Taiwan como um país autônomo e mantêm relações
diplomáticas com o governo da ilha, considerado por Pequim um território
rebelde. Sete deles estão na América Central e no Caribe.
Na semana passada, o Partido Democrático Progressista, contrário à
reunificação, venceu as eleições taiwanesas. O novo presidente de Taiwan, Lai
Ching-te, prometeu proteger a ilha da intimidação e das ameaças de Pequim.
Antes das eleições, o Ministério da Defesa da China alertou que "esmagará
qualquer plano de independência de Taiwan".
Estadão Conteúdo