Depois de quanto tempo vivendo em Portugal é possível pedir cidadania
portuguesa?
Cinco anos, segundo a lei atual. Mas o momento em que esse prazo começa
a ser contado pode mudar: o Parlamento português aprovou, nos primeiros dias de
2024, uma alteração que pode acelerar o processo pelo qual passam brasileiros e
outros estrangeiros para obter cidadania portuguesa.
Atualmente, o prazo de cinco anos começa a ser contado a partir do
momento em que o estrangeiro recebe a autorização de residência.
No entanto, a regra aprovada pelos parlamentares portugueses prevê que
esse prazo deve começar no momento do pedido de autorização de residência.
Para que a mudança entre em vigor, o texto depende de promulgação pelo
presidente da República, além de regulamentação pelo Legislativo, em prazo de
90 dias após a publicação, como aponta o advogado Flávio Martins Peron,
especialista em procedimentos de vistos de residência e nacionalidade
portuguesa.
Na prática, para muitos dos estrangeiros que se mudam para Portugal, a
mudança pode significar uma redução de cerca de dois anos no tempo necessário
para pedir cidadania, segundo Peron, que é sócio do escritório Martins &
Oliveira Advogados.
Ele exemplifica: "A pessoa que veio (para Portugal) como turista e aqui
conseguiu um trabalho, ela faz um processo chamado de "manifestação de
interesse" (de residência em Portugal) – é a levantada de braço que fala "olha,
arrumei um emprego aqui e quero me regularizar em Portugal". A partir do
momento que ele protocola um pedido para se regularizar, atualmente esse
processo leva dois anos mais ou menos para ser analisado e concedido", explica.
"A medida vai beneficiar bastante gente. Entendo que corrige um erro", diz
Peron, que nasceu em Portugal e cresceu no Brasil. "Dois anos não é um tempo
razoável para se ter resposta de um processo migratório, ainda mais levando em
consideração que Portugal precisa dessas pessoas aqui, né? Portugal é um país
que tem essa demanda de migração para a economia girar."
A mudança não tem efeitos significativos para brasileiros que solicitam
vistos ainda no Brasil, segundo o advogado.
Ele dá como exemplo quem solicita, ainda do Brasil, vistos como o
chamado D7, para aposentados, pensionistas e titulares de rendimentos próprios
no Brasil que comprovem ter pelo menos um salário mínimo português por mês (820
euros, ou cerca de R$ 3.480), pelo prazo de um ano, para se manter em Portugal.
"Para esse cliente, a gente solicita um visto ainda lá no Brasil, ele se
muda para Portugal e aqui a gente solicita autorização de residência – em dois,
três meses, no máximo, ele se regulariza aqui com uma autorização de
residência. A partir desse momento, começa a contar o prazo de cinco anos para
ele poder solicitar a nacionalidade portuguesa."
Outras mudanças
A votação de mudança no cálculo do prazo de cinco anos veio em meio a um pacote
que promoveu outras atualizações na chamada Lei da Nacionalidade.
Os parlamentares também aprovaram uma redução de cinco para três anos no
prazo de residência legal em Portugal exigido para judeus sefarditas terem
acesso à cidadania.
E o Legislativo português também promoveu uma mudança para prever
direito à cidadania a filhos reconhecidos por pais portugueses somente após os
18 anos. Nesses casos, é necessário aguardar três anos após reconhecimento da
paternidade para solicitar nacionalidade.
Residência versus cidadania
O estrangeiro que tem título de residência em Portugal "basicamente tem os
mesmos direitos e deveres que um cidadão português, tirando os direitos
políticos", diz Peron.
No entanto, uma das principais vantagens da cidadania portuguesa, em
relação à residência, é para pessoas que eventualmente desejem mudar para outro
país da União Europeia, lembra o advogado.
"A partir do momento em que adquire a nacionalidade portuguesa, ela pode
usufruir de todos os benefícios de ser um cidadão europeu também", destaca
Peron. "Além disso, um cidadão português dispensa visto para os Estados Unidos,
Canadá, Austrália – precisa só fazer um procedimento bem mais simples que o
visto."
O advogado menciona, ainda, que vê diferenças no acesso a financiamentos. "Um
estrangeiro com o título de residência consegue financiar até 70% do valor do
imóvel, já um português o banco geralmente financia um pouco mais — chega a 80,
90% do valor do imóvel", diz.
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