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Na COP28

Na COP28, presidente de Médicos Sem Fronteiras disse que muito pouco está sendo feito para proteger pessoas vulneráveis

Em seu discurso a líderes mundiais, Christos Christou afirmou que muitas comunidades enfrentam crises que estão aumentando em escala e em intensidade.


Reprodução

O presidente internacional de Médicos Sem Fronteiras (MSF), Christos Christou, discursou hoje na 28ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes. Christou falou para chefes de Estado, para autoridades e para a cúpula de Líderes sobre o Clima

Leia abaixo o discurso na íntegra.

Sr. Presidente, Excelências, prezados delegados/representantes

"Aqueles que imaginam como é a mudança climática deveriam vir a Moçambique. Nós estamos suportando o peso das ações dos países mais poluentes do mundo. Nós agora temos malária durante o ano todo e estamos presos ciclone após ciclone".

Essas são palavras do meu colega Adamo. E, tristemente, o que ele descreve é uma realidade em muitos outros lugares. Como uma organização médica e humanitária que trabalha em alguns dos contextos climáticos mais vulneráveis do mundo, equipes de Médicos Sem Fronteiras tratam pacientes que sofrem os impactos da emergência climática na saúde em primeira mão.

Esta crise atinge mais duramente as pessoas em maior situação de vulnerabilidade. Nós sabemos porque as vemos em nossas salas de espera. Do Níger a Moçambique, de Honduras a Bangladesh, tratamos pacientes com doenças infecciosas como malária e dengue, com desnutrição e problemas de saúde relacionados a eventos climáticos extremos.

Desde a COP27, nós temos respondido a inundações no Sudão do Sul e no Quênia, a ciclones severos em Mianmar e Madagascar, e ao calor e à seca que têm levado milhões à beira da fome no Chifre da África. Nós também temos respondido a surtos de cólera frequentes em diversos países e a índices alarmantes de dengue nas Américas. A combinação mortal de malária e desnutrição tem lotado nossas enfermarias pediátricas na região do Sahel, onde, no Chade, nossas equipes agora oferecem prevenção e tratamento para desnutrição o ano todo.

Muito pouco está sendo feito para proteger pessoas vulneráveis contra os impactos negativos da mudança climática. Muitas comunidades enfrentam múltiplas crises que estão aumentando em escala e em intensidade. Pessoas estão pagando com sua saúde e suas vidas por um problema que elas não criaram.

É absurdo e trágico que aqueles que são menos responsáveis pelas emissões que geram a emergência climática sejam deixados para sofrer as consequências. No último Global Stocktake (balanço global de ações climáticas), ficou claro que as ações realizadas até o momento não estão conseguindo atender às necessidades atuais, muito menos ao crescente desafio que está por vir. Lideranças políticas globais não cumpriram os compromissos para diminuir as emissões e também não cumpriram as promessas de apoiar os países mais afetados a se adaptarem.

Isto deve mudar.

Essas comunidades precisam ver uma ação climática que corresponda à escala da emergência climática. Elas precisam de um compromisso real para adotar ações urgentes, essenciais e necessárias para reduzir drasticamente as emissões. Elas precisam de apoio financeiro e técnico concreto para se adaptar e lidar com as consequências.

Há uma necessidade cada vez maior de pautar firmemente a saúde no centro das políticas, das negociações e das ações climáticas. O mundo não pode continuar assistindo às crises humanitárias se tornarem ainda mais severas.

Quantos anos mais vão passar? Quantas edições da COPs? Quantas vidas mais serão afetadas ou perdidas, antes que medidas concretas sejam postas em práticas? Não podemos suportar mais um fracasso catastrófico.

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