22/11/2024 +55 (83) 98773-3673

Educação

Andre@zza.net

Uso de telas pode prejudicar processo de alfabetização

Quase 60% das crianças que cursam atĂ© o segundo ano fundamental não estão alfabetizadas no Brasil. Desafios aumentam com o uso de telas pelos pequenos. Especialista tira dĂșvidas quanto aos riscos e possibilidades de uso das tecnologias

Por Elias Emanuel 14/11/2023 às 08:21:56

Apenas 43% dos estudantes brasileiros apresentam nĂ­veis adequados de alfabetização na idade certa, por volta dos sete, oito anos, ou seja, no final do segundo ano do Ensino Fundamental. É o que mostra os resultados inéditos da pesquisa Alfabetiza Brasil, do Ministério da Educação (MEC), apresentada em maio de 2023. O nĂșmero piorou em relação a 2019, ano de inĂ­cio da pandemia, quando 60,3% das crianças estavam alfabetizadas na faixa etĂĄria ideal.

Em contrapartida, pesquisa publicada pelo Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil de Alberta (CanadĂĄ) e as Universidades de Calgary (CanadĂĄ) e College Dublin (Irlanda) apontou que a quantidade de tempo que as crianças passam em frente às telas todos os dias disparou mais de 50% de 2020 a 2022, o equivalente a uma hora e vinte minutos a mais de consumo diĂĄrio. Os dados foram coletados por 46 estudos envolvendo quase 30 mil crianças de vĂĄrios paĂ­ses, com idade média de 9 anos, mas variando de 3 a 18 anos. Os resultados mostraram que o tempo de tela saltou de cerca de 162 minutos por dia antes da pandemia para 246 minutos durante e após a disseminação da covid-19.

A psicopedagoga e diretora da escola canadense Maple Bear Goiânia, Sabrina Oliveira, explica que existe uma relação direta do consumo excessivo de telas e dificuldades de alfabetização. Segundo ela, o oferecimento de telas para crianças sem regulação, sem supervisão, é muito prejudicial em qualquer fase da infância e na alfabetização ainda mais. "Este é um momento que exige da criança uma intensa atividade cerebral, um momento em que a criança vai passar por processos cognitivos muito elaborados. Portanto, é muito importante que o aluno esteja disponĂ­vel para atividades que vão fazĂȘ-lo pensar, interagir, ativar ainda mais as ĂĄreas mais complexas do cérebro. E o problema das telas é que elas promovem o contrĂĄrio, colocando a criança na passividade, fazendo com que ela se posicione somente como espectadora", alerta.

O tempo de tela tem substituĂ­do inclusive os livros, que normalmente envolvem a criança e tem um papel importante na descoberta das letras. Sabrina Oliveira, destaca que o acesso excessivo às telas prejudica também a qualidade do sono, acostuma a criança a querer sempre atividades que não exijam dela muito esforço para pensar; além das consequĂȘncias fĂ­sicas como a baixa motricidade, com a falta de interesse em escrever e realizar atividades que vão auxiliar no desenvolvimento fĂ­sico. "E tudo isso, com certeza, interfere na capacidade de atenção, na habilidade de saber esperar, na dedicação, nos esforço, gera baixa tolerância para frustração, irritabilidade e até hiperatividade", pontua a psicopedagoga.

EquilĂ­brio

Porém, diante do desafio de se alfabetizar neste mundo com tantas inovações e cada vez mais digital, é possĂ­vel, sim, aproveitar a tecnologia de forma positiva. Segundo a especialista, o consumo de telas em excesso não é recomendado, mas se o uso for feito com acompanhamento, planejamento e orientação de um educador, pode ser proveitoso, desde que seja inserido de forma a respeitar o tempo em que cada criança pode ter de exposição.

Ela exemplifica que a Maple Bear adota o uso das tecnologias como aliadas no processo de alfabetização, respeitando as fases e necessidades de cada criança. "Uma criança em fase de alfabetização pode ter de 30 a 40 minutos de uso de tela de forma intencional até duas vezes por semana. Mas a intenção, é o que vai fazer a diferença. A ideia é trazer atividades que vão desenvolver o pensamento da criança, como conceitos iniciais de programação, por meio de jogos, para que o que estĂĄ abstrato na tela ela possa tocar, quantificar, ou até o uso de leitura de textos com mĂșsica; estratégias que podem até contribuir com a alfabetização", orienta.


Comunicar erro
ComentĂĄrios