Nos trĂȘs dias do evento, foram realizados painéis, mostras e mesas redondas onde foram debatidos o panorama da saĂșde coletiva no Brasil e os desafios no cumprimento da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), no Objetivo de Desenvolvimento SustentĂĄvel (ODS), que prevĂȘ acabar com as epidemias de aids, tuberculose, malĂĄria e doenças tropicais negligenciadas, até 2030, e também o combate às hepatites e outras doenças transmitidas pela ĂĄgua.
DrĂĄurio Barreira comemorou que o municĂpio de São Paulo jĂĄ atingiu a métrica de eliminação da transmissão vertical do HIV. Segundo ele, hĂĄ 5 anos o municĂpio tem decréscimo do nĂșmero de casos de aids.
Durante a palestra, DrĂĄurio Barreira defendeu a necessidade de dar uma atenção especial aos grupos com grande percentual de casos novos de doenças infecciosas, como a população em situação de rua, a população privada de liberdade, a população LGBTQIA+ e povos tradicionais.
JĂĄ a diretora do Departamento de Doenças TransmissĂveis do Ministério da SaĂșde, Alda Maria da Cruz, tratou dos entraves para eliminação de diversas doenças de populações negligenciadas. Ela citou alguns desafios na prevenção e tratamento da hansenĂase. "A alta rotatividade dos profissionais, a formação deficiente em hansenĂase e, para isso, a gente vai trabalhar na capacitação com oficinas e cursos organizados pelo Ministério da SaĂșde. A gente também vai melhorar a capacidade da rede no diagnóstico, no tratamento e prevenção da hansenĂase. Além da questão da regulação de referĂȘncia e a reestruturação da rede de reabilitação [dos pacientes]".
Em palestra que debateu a saĂșde da população negra e o racismo no SUS em relação aos usuĂĄrios e aos profissionais de saĂșde, a professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Jeane Saskya expôs situações como a minimização ou a negação do racismo ou do privilégio de pessoas brancas; a desqualificação de denĂșncias; invisibilização ou impedimento de ascensão de profissionais negros do SUS e outros assédios.
Jeane Saskya condenou a subnotificação do quesito raça-cor no prontuĂĄrio de pacientes, o que, segundo ela, prejudica a coleta de dados, a definição do perfil epidemiológico da população preta e, consequentemente, a construção de polĂticas pĂșblicas especĂficas para esse pĂșblico.
Em entrevista à AgĂȘncia Brasil, a docente lembrou que uma das bases do SUS é a equidade e a prioridade que deve ser dada às populações que estão com maiores riscos à saĂșde, e que precisam de mais investimento polĂtico, de financiamento na assistĂȘncia.
"Sabemos que esse racismo pode trazer sérios prejuĂzos de não cuidado, de não assistĂȘncia. A população negra desenvolve uma série de doenças por causas que poderiam ser tranquilamente evitĂĄveis, por negligĂȘncia, por violĂȘncia e causas externas que poderiam ser evitadas. Para o próprio bom andamento do sistema de saĂșde, é importante que essa população tenha a saĂșde protegida, até para não sobrecarregar, por uma questão ética também, porque somos cidadãos de direitos, nós temos direito à saĂșde", explicou.
Sobre a saĂșde de migrantes, apĂĄtridas e refugiados no Brasil, o coordenador-geral de Vigilância das EmergĂȘncias em SaĂșde PĂșblica, João Roberto Cavalcante Sampaio relatou episódios de negligĂȘncia e de discriminação de pessoas vindas de outros paĂses, sobretudo durante a pandemia da covid-19.
"Eles enfrentam doenças antes, durante e depois da migração forçada, muitos enfrentam doenças transmissĂveis, mas a maioria enfrenta doenças crônicas. Além, obviamente, de sofrimento em saĂșde mental".
João Roberto ressalta que o acesso ao SUS é universal e não pode ser restrito aos cidadãos brasileiros.
Na ExpoEpi, palestrantes tiveram contato mais próximo com o pĂșblico e puderam relatar intervenções sociais desenvolvidas pelos movimentos sociais.
Ana Bartira da Penha Silva, assistente social no bairro da Engenhoca, em Niterói, no Rio de Janeiro, e membro do Centro de Estudos de Afro-Brasileiro Ironides Rodrigues, disse que usa a comunicação como recurso de enfrentamento ao racismo religioso cometido contra praticantes de religiões de matriz africana dentro do sistema de saĂșde. Ela reclama da falta de acesso à saĂșde na atenção bĂĄsica.
"É muito importante que esse posto de saĂșde, onde ocorre o primeiro atendimento, seja um espaço acolhedor, que entenda a comunidade como um todo. Cada um tem um problema especĂfico e demandas. A comunidade não consegue acessar os postos de saĂșde, muita gente estĂĄ doente por falta do acesso à saĂșde".
Uma das espectadora do evento, a integrante da equipe do Distrito SanitĂĄrio Especial IndĂgenas do Médio Rio Purus, no Amazonas, a médica Adriny Galvão, teve a oportunidade de conhecer outros profissionais de saĂșde que trabalham também em territórios indĂgenas de vĂĄrias partes do paĂs. Ela conseguiu compartilhar vivĂȘncias na prestação de atenção primĂĄria à saĂșde direcionada às populações indĂgenas e sobre a vigilância epidemiológica nessas localidades.
"A vigilância [epidemiológica] dentro de um território indĂgena não é algo fĂĄcil de fazer, porque a gente não tem acesso a sistemas, a comunicação é precĂĄria, a rede de comunicação e a logĂstica são diferenciadas", explicou. Para a médica, participar da 17ÂȘ edição da ExpoEpi foi vĂĄlido. "Por meio de eventos como esse, a gente acaba afunilando ideias junto com outros departamentos, tendo informações. Assim, aprimoramos a vigilância de agravos de doenças, dentro dos nossos territórios indĂgenas".
No fim do evento, o Ministério da SaĂșde premiou iniciativas exitosas do SUS. Ao todo, mais de 1,8 mil trabalhos foram inscritos, maior nĂșmero jĂĄ registrado nas edições do evento. Do total de contribuições recebidas este ano, 1.498 foram experiĂȘncias realizadas pelos serviços de saĂșde credenciados ao SUS, 275 trabalhos técnico-cientĂficos dos profissionais do SUS e 39 ações desenvolvidas pelos movimentos sociais.
Fonte: AgĂȘncia Brasil