As eleições argentinas, que ocorrem neste domingo (22), geram apreensão no governo Luiz Inácio Lula da Silva e entusiasmo na oposição. O pleito naturalmente atrai atenções, já que o país vizinho é um dos maiores parceiros econômicos do Brasil. Mas neste caso, um nome centraliza o debate: o do ultradireitista Javier Milei.
Favorito nas pesquisas e com possibilidade de ser eleito já no primeiro turno, Milei defende uma redução do Estado com propostas radicais, como dolarização completa da economia e o fim do Banco Central, além de ser a favor do armamento da população, de relativizar o golpe militar da Argentina em 1976 e minimizar as mudanças climáticas.
O candidato da coligação La Libertad Avanza ainda tem um forte discurso contra o que chama de "casta política" que governou a Argentina nas últimas décadas. Com estilo polêmico, chegou a ser apelidado como o "Bolsonaro argentino".
Milei já deu declarações hostis aos olhos do governo Lula. Afirma que, caso eleito, não irá fazer negócios com governos "comunistas", como ele classifica o presidente brasileiro. Também já disse que o petista tem "vocação totalitária" e está "usurpando a liberdade". Durante as eleições brasileiras de 2022, chamou Lula de "presidiário comunista" e pediu voto em Jair Bolsonaro.
Javier Milei promete retirar a Argentina do Mercosul e cancelar a entrada do país no Brics, bloco que conta com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e terá o ingresso de outros cinco países em 2024. A adesão argentina foi intermediada, sobretudo, por Lula.
Para além da distância ideológica, uma eventual vitória de Milei acende um alerta no governo brasileiro, que vê no cenário o início de uma possível crise diplomática entre os dois países. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já admitiu a preocupação.
"Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um, porque em geral, nas relações internacionais, você não ideologiza a relação", disse.
Além disso, Lula é bastante próximo do atual presidente argentino, Alberto Fernández, com quem se reuniu por diversas vezes desde janeiro. O candidato peronista ao governo argentino, Sergio Massa, atual ministro da Economia, também já foi a Brasília pedir ajuda financeira do governo brasileiro. A Argentina atravessa sua pior crise em décadas.
Por outro lado, parlamentares da oposição se animam com o favoritismo de Javier Milei. Nesta semana, 69 deputados federais de nove partidos diferentes, incluindo alguns da base de Lula, como PSD e MDB, assinaram uma carta em apoio ao candidato.
"Considerando que a atual gestão de Alberto Fernandez pune a população argentina com o terceiro maior índice de inflação do planeta, com a escalada da violência com assassinatos e saques e mantendo relações exteriores com países que violam a democracia e os direitos humanos, [...] anunciamos nosso apoio irrestrito a eleição do Deputado Nacional Javier Gerardo Milei para a Presidência da República Argentina", diz.
A carta acusa o governo Lula de tentar interferir nas eleições do país vizinho ao incluir a Argentina no Brics e firmar um acordo de US$ 600 milhões para financiar exportações brasileiras em solo argentino.
Alguns dos deputados que assinam o documento, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Marcel van Hattem (Novo-RS) e Rodrigo Valadares (União-SE), irão à Argentina acompanhar a eleição no bunker de Milei.
Já o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que, caso Milei vença a eleição, irá para a posse do argentino.
Uma vitória de Milei é vista por bolsonaristas como o começo de uma possível reviravolta na América do Sul - que nos últimos anos, teve seguidas vitórias da esquerda em países como Brasil, Chile, Colômbia e Bolívia.
No último fim de semana, porém, o direitista Daniel Noboa venceu as eleições no Equador. Agora, a expectativa dos opositores de Lula é de um novo triunfo da direita em um país-chave, a Argentina. E, possivelmente, uma "onda direitista" na região.
Fonte: O tempo