Atualmente, o Enem é composto por provas de linguagens, ciĂȘncias humanas, matemĂĄtica e ciĂȘncias da natureza que, juntas, somam 180 questões objetivas de mĂșltipla escolha, além de uma prova de redação. O exame é aplicado em dois domingos. Teoricamente, o Enem deveria cobrar o que os estudantes aprenderam ao longo da trajetória escolar.
Em 2017, no entanto, o paĂs aprovou o chamado novo ensino médio, que começou a ser implementado nas escolas pĂșblicas e particulares no ano passado. A previsão era que o Enem também mudasse, em 2024, para se adequar ao novo ensino. Pelo novo modelo, parte das aulas é comum a todos os estudantes do paĂs, direcionada pela chamada Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na outra parte da formação, os próprios estudantes podem escolher um itinerĂĄrio para aprofundar o aprendizado. As opções permitem ĂȘnfase nas ĂĄreas de linguagens, matemĂĄtica, ciĂȘncias da natureza, ciĂȘncias humanas e ensino técnico. A oferta de itinerĂĄrios depende da capacidade das redes de ensino e das escolas brasileiras.Um parecer aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em 2022 sugeria que o novo Enem tivesse duas etapas, uma tendo como referĂȘncia a BNCC e, outra, que poderia ser escolhida pelo estudante de acordo com a ĂĄrea vinculada ao curso superior que pretende cursar. O governo anterior chegou a anunciar a nova proposta, mas ela não saiu do papel.
O novo ensino médio sofreu uma série de crĂticas e, atualmente, estĂĄ sendo rediscutido no âmbito do governo federal. Com isso, o cronograma de mudanças no Enem foi suspenso. As provas, que deveriam mudar jĂĄ em 2024, agora terão também as mudanças adiadas.
"De certa forma estão sendo feitos ajustes, não hĂĄ como fazer um novo exame sem que o ensino médio esteja sendo implementado de forma clara", diz o professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais Chico Soares. Soares é ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnĂsio Teixeira (Inep), que é responsĂĄvel pelo Enem e é também ex-membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), onde foi um dos relatores da BNCC.
Soares explica que as mudanças no Enem ainda devem demorar, porque, mesmo depois que o novo modelo para o ensino médio for definido, ainda serĂĄ preciso readequar as provas. "Vamos mudar o tipo de expectativa de aprendizagem", diz. O Inep precisarĂĄ, então, elaborar e testar novas questões antes de aplicĂĄ-las.
Segundo o ministro da Educação, o Enem deverĂĄ começar a ser reformulado a partir do ano que vem, para que as mudanças passem a valer a partir de 2025. As discussões devem ocorrer dentro dos debates do Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece metas para a educação a cada dez anos. Para Soares, a previsão é otimista. Ele estima que uma nova prova deve ser aplicada ainda mais tarde, a partir de 2026.
Para os estudantes, a situação gera muita preocupação, segundo a presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Jade Beatriz. "Nos preocupa muito, porque o modelo de ensino mudou. Objetivamente, o ensino médio teve uma mudança muito brusca, uma redução da carga horĂĄria bĂĄsica, que é muito importante e é o que cai no Enem. Tivemos uma redução e a gente acaba não vendo tudo no ensino médio e é o que serĂĄ cobrado no Enem. Isso nos prejudica muito", diz.
Segundo ela, o ensino médio anterior ao novo modelo não era o ideal, mas a redução da formação bĂĄsica de forma abrupta acirrou a desigualdade entre escolas pĂșblicas e particulares, uma vez que cada rede de ensino oferta a formação de acordo com a própria capacidade.
A estudante diz que, embora o cronograma do novo ensino médio preveja a implementação gradual ano a ano, todas as séries do ensino médio estão sendo impactadas, inclusive quem atualmente cursa o 3Âș ano e vai prestar o Enem para buscar uma vaga no ensino superior. "Não tem as matérias que serão cobradas, então, na visão do estudante da escola pĂșblica, vou fazer uma prova que sei que não vou passar", diz e acrescenta: "Todas as séries estão sendo impactadas. E é surreal, porque serão trĂȘs gerações, contando a partir de hoje, que serão atingidas por isso. O novo ensino médio nos aproxima do subemprego".
O Enem 2023 serĂĄ nos dias 5 e 12 de novembro. De acordo com o Inep, mais de 3,9 milhões de pessoas estão inscritas. Desse total, 1,4 milhão, o equivalente a 35,6%, concluem o ensino médio este ano. Outros 1,8 milhão (48,2%) jĂĄ concluĂram o ensino médio em anos anteriores e os demais 16,2% dos inscritos ainda não concluĂram o ensino médio e farão a prova apenas para testar os conhecimentos, os chamados treineiros.
O Enem é a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil. É utilizado para o ingresso em instituições pĂșblicas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e para obtenção de bolsas de estudo em instituições privadas pelo Programa Universidade para Todos (Prouni). Também é usado para obter financiamento pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Além disso, os resultados do Enem também podem ser aproveitados nos processos seletivos de instituições estrangeiras que possuem convĂȘnio com o Inep para aceitar as notas do exame.
Fonte: AgĂȘncia Brasil