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Planalto omite informações sobre saúde de Lula para evitar imagem de fragilidade

Por Redação 09/10/2023 às 22:47:48

Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação/Arquivo

As informações relacionadas à saúde do presidente Lula (PT) vĂȘm sendo tratadas com cuidado especial por seus aliados e equipe, de forma a evitar que se estabeleça uma imagem negativa e de fragilidade do mandatĂĄrio, de 77 anos.

Ao longo dos primeiros nove meses de governo, houve casos de omissão de informações ou a busca de amenizar as notícias, diante de algum diagnóstico ou procedimento médico.

Mais recentemente, a informação de que os médicos iriam aproveitar a anestesia da operação no quadril para um procedimento simples nas pĂĄlpebras só foi confirmada após Lula jĂĄ ter deixado a mesa de cirurgia.

A PresidĂȘncia da República informou que sempre agiu com transparĂȘncia e que todas as informações relevantes sobre a saúde do mandatĂĄrio são divulgadas. E acrescenta que notas informativas sobre as condições de saúde "são sempre checadas com os médicos envolvidos nos procedimentos".

O próprio Lula externou a sua preocupação em não transmitir uma ideia de fragilidade hĂĄ duas semanas.

Durante uma de suas transmissões ao vivo, o Conversa com o Presidente, o petista afirmou que vinha sentindo dores na região do quadril desde o período eleitoral. No entanto, optou por não realizar a cirurgia logo no início do mandato para não parecer "velho".

"A verdade é que estou com essa dor desde agosto do ano passado. Durante o processo da campanha, naquela cena que vocĂȘs me viam pulando no carro de som, vocĂȘs não sabem a dor que eu sentia. Mas eu pulava porque era preciso animar as pessoas", afirmou o presidente.

"Depois, eu queria operar logo depois das eleições. Bem, eu disse, se eu operar agora, vocĂȘs vão dizer "o Lula estĂĄ velho, ganhou as eleições e jĂĄ estĂĄ internado"."

Lula ainda acrescentou que sua equipe não iria registrar imagens dele de muleta e andador após a cirurgia. Em uma manifestação capacitista, relacionou beleza com o uso dos equipamentos.

"Então significa que vocĂȘs não vão me ver de andador, de muleta, vão me ver sempre bonito, como se eu não tivesse sequer operado", completou.

Lula realizou em 29 de setembro uma cirurgia para tratar um problema na região do quadril. Trata-se de uma artroplastia total de quadril, procedimento no qual uma prótese foi instalada no corpo do presidente.

A equipe médica então decidiu aproveitar os efeitos da anestesia para realizar um procedimento nas pĂĄlpebras do presidente. Foi feita uma pequena intervenção, na qual é retirada um pouco de pele, que fica caindo sobre os olhos.

Médicos partiram de São Paulo para Brasília para realizar o procedimento cirúrgico, que jĂĄ vinha sendo discutido hĂĄ meses. Sua equipe chegou a realizar uma rodada de informações sobre o procedimento e, ao ser questionado se haveria "algo a mais", negou.

O PalĂĄcio do Planalto alega que a decisão do procedimento só foi tomada às vésperas da cirurgia e que mesmo assim não era certo que ele aconteceria, pois dependia do encaminhamento da intervenção maior, no quadril.

"Não estava certo que o procedimento seria feito, por se tratar de uma cirurgia para uma questão menor, de um desconforto nas pĂĄlpebras. A cirurgia de pĂĄlpebra só seria feita se tudo corresse bem, como ocorreu, com a cirurgia principal, a ortopédica, e depois de uma esterilização e troca de equipe no centro cirúrgico. E isso foi informado pelos médicos logo depois da cirurgia, em coletiva de imprensa transmitida ao vivo", informou a PresidĂȘncia.

"Detalhamos todos os procedimentos e situação de saúde. Um procedimento menor e pontual, que talvez não fosse feito, que poderia ser adiado e que não tem correlação com condição de saúde, foi informado imediatamente após ter sido feito. Ou seja, foi detalhado com transparĂȘncia", completou.

O pós-operatório imediato do presidente superou as expectativas divulgadas inicialmente. Primeiro, Lula acabou seguindo para um leito hospitalar comum, não precisando passar a noite na UTI, como era esperado.

A alta hospitalar do presidente também aconteceu com dois dias de antecedĂȘncia, no domingo (1Âș). Lula deixou o hospital longe das câmeras, pela saída de trĂĄs do edifício.

Integrantes do governo fizeram questão de ressaltar a recuperação do presidente. O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), por exemplo, disse que Lula "é um touro", em entrevista à BandNews na última semana.

Em um episódio anterior, às vésperas da viagem frustrada de Lula à China, em março, aliados do petista buscaram minimizar a ida do presidente a um hospital de Brasília. O presidente foi diagnosticado com pneumonia e por isso o embarque foi adiado por cerca de 36 horas.

Ministros afirmaram que o diagnóstico era decorrĂȘncia do excesso de agendas e garantiram que o embarque para o país asiĂĄtico iria certamente acontecer.

"O presidente estĂĄ bem. Foi um início de pneumonia que estĂĄ sendo tratada. Ele exagera [na quantidade de compromissos], né? Porque não é brincadeira. Eu estou cansado e tenho menos idade que ele […] Tem que ter um pouco de cuidado porque baixa a imunidade", afirmou MĂĄrcio MacĂȘdo, ministro da Secretaria-Geral da PresidĂȘncia.

Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social) afirmou que Lula nem precisaria passar por uma reavaliação médica. No dia seguinte, no entanto, a viagem foi cancelada por recomendação médica.

O PalĂĄcio do Planalto disse, em comunicado divulgado na época, que "após reavaliação no dia de hoje [sĂĄbado] e, apesar da melhora clínica, o serviço médico da PresidĂȘncia da República recomenda o adiamento da viagem para China até que se encerre o ciclo de transmissão viral".

Um auxiliar de Lula aponta que se tratou de um grande ruído, com ministros correndo para dar notícias boas, evitar eventuais dúvidas sobre a saúde, sem ter todas as informações da equipe de saúde. E isso acabou gerando desgaste, dando a impressão de que houve informação falsa sobre seu real estado de saúde.

Questionada por que nem todos os procedimentos, dos mais simples aos mais complexos, são informados por notas ou boletins, a PresidĂȘncia responde que "notas não são a única maneira de se informar a imprensa".

"No caso da cirurgia, os jornalistas foram sendo informados em atendimentos, em uma entrevista coletiva com médicos e por boletins médicos. Notas informativas sobre condições de saúde sempre são checadas com os médicos envolvidos nos procedimentos."


Fonte: Renato Machado e Marianna Holanda/Folhapress

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